domingo, 11 de abril de 2010

O VOTO ÚTIL DA DIREITA


Lembram do voto útil? Pois vai voltar, com certeza. Acho muito difícil um dos dois candidatos (porque os outros não contam) vencer no primeiro turno.

     Poderá até acontecer uma vitória da Dilma, mas será devida ao envelhecimento do programa da extrema-direita – PSDB, DEM & Cia. Eles não tem muito o que apresentar em termos de avanços sociais, porque extrema-direita significa conservar a dor existente e tirar o máximo proveito disso. Nada mais.

     Ou o contrário. A centro-direita – PT, PMDB & Cia. – ficar tão convencida de sua vitória antecipadamente que acabará perdendo - “efeito Bachelet”. 

     São tão semelhantes os dois blocos políticos, que as eleições poderão ser decididas pelo resultado da Copa do Mundo. Se o Brasil ganhar, vence a Dilma; se perder, ganha o Serra.

     Em qualquer dos dois casos – vitória de um ou de outro no primeiro turno – pouco ou nada aconteceria de novo na política brasileira. Com certeza, um realinhamento das alianças no Congresso, alguns programas sociais para enganar o povo e uma bela maquiagem feita pelos marqueteiros e pelas redes de televisão.

     Mas acho que não. As eleições presidenciais serão decididas no segundo turno. Não vejo muita firmeza na Dilma, apesar do seu jeito durão, e o Serra continua o mesmo.

     Eu disse que os outros partidos não contam? Não me interpretem mal. Contam no sentido em que, participando das eleições as referendam. E tudo que a direita quer é isto: que os pequenos partidos participem das eleições, mesmo que seja para perder.

     O PT não fez isso durante muitos anos, no tempo em que ainda tinha cara de esquerda? Mas o PT tinha um plano estratégico a longo prazo e agora o está concluindo. O grande plano do PT era conquistar o Poder pelo Poder, e a conseqüente diluição gradativa da esquerda. Agora que a esquerda não serve mais para o PT – na verdade, só incomoda - foi corrida do partido, sob vaias.

     O PT é um partido claramente capitalista. Mas, se for o caso, posa de socialista para enganar os incautos. Não só é a cara do Sistema como está aliado com o império estadunidense e segue as suas ordens. 

     A esquerda mundial não tem mais como referência o PT ou o Lula. Aos poucos, foi caindo a máscara. Mesmo assim, o PT esperneia para aparecer como um partido de centro-esquerda. Para os mais desavisados, é claro. Seu objetivo é conseguir a liderança de um bloco latino-americano e esvaziar a influência de Hugo Chávez e Evo Morales. Os teóricos políticos do PT - aqueles que restaram - afirmam que o nacionalismo é um caminho errado. E eles são coerentes consigo mesmos e com o seu partido: nunca se viu um governo tão entreguista travestido de esquerda.

     O Lula fez o seu papel de Lech Walessa latino-americano. Lutou as suas batalhas, venceu algumas, perdeu outras e, ao fim, merecerá algum cargo na ONU ou um título de Doutor Honoris Causa, como o Fernando Henrique Cardoso – aquele que repudiou seus próprios livros.

     Mas as eleições? Ah, as eleições... Aquele processo que acontece a cada dois ou quatro anos e que serve para que cada pessoa se sinta dona do poder por alguns minutos, durante o momento de votar.

     Pois é. Dificilmente não haverá segundo turno. E, naquele momento, podem apostar, teremos a famosa “campanha do voto útil”. Dilma e Serra, cada um por seu lado, unirão seus partidários para fazer uma grande campanha pelo “voto útil”, procurando agregar os votos dos indecisos, dos que votaram em branco, dos que anularam o voto e até daqueles que votaram, no primeiro turno, no candidato adversário.

     Será uma luta ferrenha. As pessoas serão espremidas, induzidas, aliciadas de todas as maneiras imagináveis - e vocês já imaginam quais são as maneiras imagináveis... Tanto, que ninguém terá tempo de pensar o seguinte: útil para quem?

     Em outras épocas, havia a esperança de que o Lula e o PT patrocinassem mudanças radicais na vida brasileira. Por isto, os eleitores caíam no conto do “voto útil”. Mas o Lula e o PT tornaram-se mais uma engrenagem do mesmo organismo opressor que combatiam aparentemente. Foram tantas as alianças que o PT fez que perdeu a sua identidade. Agora é só mais um partido, “modernizado”, do sistema.

     Estas eleições presidenciais terão características diferentes da anterior. Pela primeira vez em muitos anos teremos duas coligações de direita lutando pelo poder.

     No bipartidarismo disfarçado, os objetivos se confundem e as idéias, dos dois lados, são quase as mesmas. O voto útil só terá utilidade para quem for eleito por ele. Não para o povo.
     Observem que será uma luta política sem ideologia. Nenhum dos dois lados - se é que se pode falar em "lados" - estará defendendo ideias políticas. A extrema-direita, porque é aquela coisa amorfa e o PT porque quer, cada vez mais, ficar parecendo com o Partido Democrata dos Estados Unidos.

     O povo servirá de massa de manobra, durante as eleições, e continuará a servir de massa de manobra, passadas as eleições. E seguirá marginalizado, favelizado, policiado ao extremo, sem justiça e sem lei, porque a justiça e a lei são feitas para os ricos em um país capitalista.
     Os sem terra insistirão na luta pela terra - pois nada mais lhes resta, somente a luta -  e devido à sua luta serão reprimidos e assassinados. E nada será feito a respeito, porque a justiça do capitalismo existe para defender o capital.
     A classe média continuará se endividando, sonhando e fazendo projetos de ascensão social. Alguns terão mais sorte ou serão melhor apadrinhados. Mas, à maioria só restará as novelas no fim de cada tarde.

     E os ricos, esses sim os verdadeiros donos do poder, continuarão a fazer o possível para que tudo continue assim – somente promessas e esperanças, futebol e carnaval -, porque aqui é Brasil.

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