sexta-feira, 20 de agosto de 2010

JURAMENTO DE HIPÓCRITAS



Se, por infelicidade, depois de um dia estressante e de uma noite de trabalho, você se sentir mal a ponto de necessitar chamar o Pronto-Socorro, em Bagé, não o faça.

      Se o fizer, prepare-se para surpresas ruins. Não por culpa dos enfermeiros. Eles virão à sua casa, verão a sua pressão e os batimentos cardíacos e o encaminharão àquele lugar, o Pronto-Socorro. Você não saberá dizer exatamente o que sente, porque, afinal de contas, você estará doente e o seu raciocínio não estará claro.

      Lá, enquanto a sua esposa faz a sua ficha e você espera sentado em uma cadeira, subitamente sofre uma convulsão. Rotineiramente, os enfermeiros o colocarão em uma maca e o levarão para uma sala de observação, onde será injetado em sua mão esquerda 5 miligramas de Valium e, na mão direita, soro. Depois de alguns minutos, surgirá um outro enfermeiro, que empurrará bruscamente a maca onde você está deitado, levando-o para um corredor. Supostamente, você já foi “observado” e o consideraram bem. 

      Aquele corredor é muito frio e você sabe que não está passando bem. Quando saiu de casa, estava vestido de qualquer jeito, e é inverno. Dali, você enxerga o movimento: pessoas doentes passam em macas empurradas por enfermeiros; alguém, em outra sala de observação à sua frente, está passando mal, cuidado apenas por um parente, que está sem meias, porque não teve tempo de vestir-se adequadamente, e passa frio –tanto como você e o doente na outra maca. Não aparece nenhum médico, apenas enfermeiros e enfermeiras, que passam por você rapidamente. Você se sente quase abandonado. Por sorte, a sua esposa está do seu lado. Mas ela também precisou sair para ir no banheiro. Quando volta, está apavorada com a sujeira que presenciou naquele lugar. Está quase amanhecendo e você tem medo que ela também adoeça.

      Acima de você, uma janela está aberta, o vento que entra sacode o recipiente do soro, que começa a pingar mais rápido. Nenhum médico ainda apareceu. Súbito, um outro enfermeiro chega bruscamente e começa a tirar o seu casaco para verificar a sua pressão. É nesse momento que você tem a segunda convulsão. O enfermeiro pensa que você está reagindo a alguma coisa que só ele pensa e chama outro enfermeiro que lhe imobiliza com uma chave de braço. E você está tendo uma convulsão. É nesse momento que aparece o médico; a convulsão está passando e você grita com o enfermeiro para soltá-lo, mas ele aperta ainda mais você. É quando ouve a sua esposa perguntar ao médico, que apenas assiste a cena, se ele não vai fazer alguma coisa. Ele responde: “Fazer o quê? Só então, você percebe com clareza que está no Brasil e, o que é pior, em Bagé. Então você reage. Levanta-se da maca, arranca a agulha do soro e vai embora daquele lugar de horrores.

       A sua mão ainda está sangrando, mas não importa. O principal é você sair rapidamente dali, chegar em sua casa, tomar um café para aquecer, deitar e tentar esquecer. Quando acorda, lembra que não houve nenhum atendimento hospitalar de verdade; que, depois que teve a primeira convulsão não foi encaminhado para uma tomografia computadorizada, para ser verificada a possibilidade de danos no cérebro. Apenas lhe deram paliativos e devem ter ficado felizes quando você foi embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...