sábado, 23 de outubro de 2010

O ALARMISMO DA DIREITA FESTIVA


Enquanto a vanguarda quase armada do PT – que já não é revolucionário – ataca o candidato da oposição e Marina Silva reassume, sorridente, a sua cadeira no Senado, depois de cumprir a sua missão de eleger Dilma com os seus votos conquistados no primeiro turno... os internautas petistas não perdem tempo.

     A campanha, agora, é alarmista. E dirige-se para aqueles que ainda tem alguma dúvida sobre Dilma ou Serra, mas assustam-se facilmente quando os tempos da ditadura militar são lembrados.

     Fala-se em golpe militar. Os Estados Unidos estariam preparando, junto com setores das Forças Armadas brasileiras, um golpe para o caso de Dilma ser eleita. A idéia é clara. Passar para essa gurizada que estuda pouco e não gosta de ler – como o Lula – que o Serra é o candidato do império enquanto a “revolucionária” Dilma representaria as forças progressistas em ação. O resultado previsto é que essa turma que se considera progressista e de esquerda – embora não saiba exatamente o que seja isso – vote na Dilma, porque ela, certa vez, pertenceu à VPR (Vanguarda Armada Revolucionária), na época da ditadura. Aliás, a VPR mal surgiu acabou. Parece que a sua ação limitou-se apenas a um assalto, divisão do dinheiro, alguns foram presos e outros conseguiram fugir do país. Mas há controvérsias.

     Não vejo essa possibilidade de golpe, embora existam, sim, setores das Forças Armadas que desejariam o poder de volta. Mas os tempos mudaram. E mudaram drasticamente.

     O que se vê, hoje, é um PT totalmente de direita, mas que, às vezes, para efeito de relações exteriores em alguns países da América Latina e proselitismo interno, finge ser de esquerda.

     O PT brasileiro está ficando igual ao PRI mexicano.

     O PRI (Partido Revolucionário Institucional) foi o resultado da coalizão das forças oligárquicas mexicanas – grandes latifundiários, empresários em geral – depois que a revolução mexicana do início do século vinte terminou com a suposta vitória dos revolucionários. Mas, na verdade, com a ascensão de uma nova classe burguesa que tomou o poder – depois de matar Emiliano Zapata, Pancho Villa, tentar alguma coisa mais séria com Porfírio Díaz e Madero e, finalmente estabelecer-se com Obregon, que fundou o PRI, aliando-se à política dos Estados Unidos.

     Já a sigla PRI é contraditória. Nenhum partido revolucionário pode ser institucional. Mas o PRI governou o México por 71 anos, como se fosse uma longa dinastia. Depois de muito tempo, o povo, percebendo que não conseguiria nada com um partido entreguista no poder, criou dois exércitos guerrilheiros que atuam nas montanhas do México, junto aos camponeses: o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) - que luta nas montanhas de Chiapas e não é marxista, mas nacionalista – e o EPR (Exército Popular Revolucionário), o mais antigo grupo guerrilheiro mexicano, de tendência marxista, que uniu 14 pequenos movimentos revolucionários. (Aproveite essas informações, porque dificilmente você terá acesso a elas através da mídia oficial).

     São dois exércitos revolucionários que atuam separadamente, mas que tem o mesmo objetivo: derrubar o governo - agora ainda mais conservador e reacionário do que o do PRI - aliado dos Estados Unidos. Ou será que você pensa que aquela enorme cerca militarizada, na fronteira entre México e Estados Unidos, serve apenas para evitar que mexicanos tentem a sorte, como clandestinos, nos Estados Unidos?

     Mas é uma longa história... Sempre deturpada pela mídia oficial. E quem provocou essas guerrilhas não foi a vontade do povo de decidir-se pela luta armada por esporte, cantando “La Cucaracha”. Foi a opressão do PRI, um partido que se dizia de esquerda, que foi bem votado nas primeiras eleições em que participou, mas, depois de ter o poder, aliou-se com as multinacionais estadunidenses do petróleo, com os grandes latifundiários e colocou o povo em segundo plano. Ou em último plano. A mesma história em todos os lugares, nos países capitalistas: opressão, desemprego, fome, miséria e revolta. E um governo corrupto.

     E o PT se encaminha para isso. Informações sobre corrupção já as temos em demasia. É claro que o Lula não sabe de nada. Ele age como se fosse Elizabete I na época da pirataria: dá carta de corso, mas apenas isto. O que se passar nos mares não é com ele. E se os adversários que não participarem da rapina ou que forem rapinados se queixarem, só o que ele – Lula I, O Cara – terá a dizer será: “Sinto muito, mas não é nada pessoal, somente negócios”.

     E de negócio em negócio o PT cresceu e se firmou. Deverá vencer esta última corrida presidencial por absoluta incompetência dos adversários e por comodismo da esquerda – PCO, PSTU, PCB, talvez PSOL – que aceitou participar de mais uma farsa eleitoral para, depois, denunciá-la.

     Por isto o alarmismo dos internautas de plantão do PT não procede. Os Estados Unidos podem ser tudo, menos burros. Jamais tirariam do poder o seu principal aliado na América Latina, com quem recém firmou um acordo militar, e que se encaminha para convencer as FARCs a deixarem de serem FARCs, e está fazendo negócios bilaterais com a maioria dos países sulamericanos, de maneira a torná-los dependentes da economia brasileira e, por tabela, da política estadunidense de dominação.

     Jamais tirariam do poder o PT, que renovou o capitalismo no Brasil, quando as velhas elites – as mesmas que concorrem agora como “oposição” – já se tornavam obsoletas em suas práticas políticas. As eleições de agora entre as duas faces da direita no Brasil será apenas para oficializar de vez o PT como o partido de confiança dos Estados Unidos neste hemisfério.

     É através do governo do PT- e de sua política assistencialista que ainda engana o povo – que as grandes multinacionais de todos os setores podem fazer o que bem entendem no nosso território, com o beneplácito dos congressistas que sempre terão os seus mensalões no caso de se mostrarem um pouco reticentes.

     É o governo do PT que está promovendo as maiores plantações do mundo de arroz e de soja transgênica, através de acordos com empresas transnacionais do setor. Para isso, este governo do PT permite o desmatamento de extensas áreas da Mata Atlântica e da Amazônia, em acordo com os planos do império.

     É este mesmo governo do PT que permite a pecuária extensiva na Amazônia, favorecendo grandes pecuaristas e empresas exportadoras de carne, conforme os planos do império. E, para isso, não tem escrúpulos em liquidar o ecossistema da Amazônia.

     É este mesmo governo do PT, que ameaça se perpetuar com Dilma e seus asseclas, que não se importa com a desertificação do solo ao plantar cana de açúcar em imensas áreas para produzir etanol.

     É este o mesmo governo que será o responsável pela transposição do rio São Francisco – o que abrangerá somente 5% do território e 0,3% da população do semi-árido – para favorecer os grandes latifundiários nordestinos, liquidando com o ecossistema da região.

     É este o governo que está construindo a usina hidrelétrica de Belo Monte, favorecendo os consórcios de multinacionais do setor e alterando todo o ciclo ecológico da região afetada, atingindo 30 terras indígenas e 12 unidades de conservação. Se construída, será considerada um crime contra a humanidade.

     O mesmo governo que está construindo duas hidrelétricas em Rondônia, que provocarão imenso impacto ambiental apenas para favorecer empresas do setor e exportar energia para países vizinhos, provocando caos ecológico e social.

     E este governo que é tão devastadoramente capitalista, que não respeita os seus próprios povos, que agride a natureza por ganância e permite o desmatamento e a desertificação do solo; que engana o povo com migalhas e promove uma das maiores desigualdades sociais do mundo seria golpeado pelos Estados Unidos, o seu principal aliado?

     E com a ajuda das Forças Armadas brasileiras, que nunca receberam tantas iguarias, como tanques, aviões-caça, navios, aumentos de salário seguidos, promoções e campos para manobras no Haiti e nas favelas brasileiras?

     E isto porque a Dilma já foi guerrilheira por um dia?

     Há uma grande, abissal diferença entre Dilma Roussef e Pancho Villa ou Emiliano Zapata.

Um comentário:

  1. Excelente matéria! Além da análise sobre o PT e sua candidata, pródiga em informações históricas que realmente nunca teremos acesso. Parabéns mais uma vez.
    Lidia.

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