terça-feira, 31 de maio de 2011

AS MARCHAS BRASILEIRAS PELA LIBERDADE DE...



Muito comentadas as marchas pela liberdade em São Paulo. A primeira, que reuniu cerca de 1.500 pessoas, foi explicitamente apelidada de “Marcha Pela Maconha”. Houve confronto com a polícia, pessoas ficaram feridas, outras foram presas e tudo acabou em pizza, ou em maconha. 

     A segunda teve o belo nome de “Marcha Pela Liberdade”. Houve um acordo com a polícia: ninguém bateria em ninguém, ninguém falaria em maconha, embora todos soubessem que era uma marcha pela liberdade de fumar maconha. E mais algumas pequenas reivindicações, como diminuir o preço das passagens de ônibus.

     Enquanto isto, na Europa, principalmente Espanha, Grécia e Portugal, França e Irlanda – por enquanto - o povo sai às ruas por melhores condições de vida. Contra o desemprego, corrupção e desigualdade. Na Espanha, pede-se uma Democracia Real e não uma estéril democracia do voto. Milhares de pessoas estão acampadas na Praça do Sol, em Madri, gritando “Agora ou Nunca!”. E em Saragoza, Sevilha e outras principais cidades espanholas.

     São os “Indignados”. Não aceitam que a União Européia, o FMI, o Clube Bilderberg, os maçons, os partidos políticos oficiais, toda aquela corja que pensa ser o dono do mundo faça dos espanhóis o que bem entender.

     Os “Indignados” estão indignados. O governo não sabe mais o que fazer porque o povo está nas ruas e não aceita o sistema que lhe foi imposto. O movimento já é chamado de “Revolução Espanhola” e os manifestantes apelidaram a Puerta do Sol de “Praça Tahir”, em alusão à praça egípcia, no Cairo, onde milhares de pessoas se reuniram para pedir maior representatividade política e reforma políticas contra o desemprego. Mais de 20% dos espanhóis estão desempregados e o arrocho salarial está aumentando mês a mês.

     No Brasil, terra da corrupção desenfreada, onde os corruptos são apontados na rua como pessoas corajosas que conseguiram desafiar o sistema com os seus próprios sistemas de corrupção, cinco mil pessoas saem às ruas para pedir a liberdade de fumar maconha.

     O Brasil tem a segunda maior população de desempregados do mundo, com 11,454 milhões de pessoas, ficando atrás apenas da Índia, que tem 41,344 milhões, segundo revela o estudo Globalização e Desemprego. O Brasil fica à frente de países como Rússia (7,395 milhões), China (5,950 milhões) e Indonésia (5,872 milhões). Estados Unidos (5,655 milhões), Alemanha (3,685 milhões) e Japão (com 3,2 milhões) fecham o grupo das oito maiores populações de desempregados do mundo.

     Em Portugal, anuncia-se a revolta. E não só em Portugal. Na França, Polônia e Grécia. Por enquanto. A onda de revolta dos jovens espanhóis contra a política econômica espalhou-se pela Europa, reunindo cerca de 20 mil pessoas no continente. Houve manifestações nos mesmos moldes dos "Indignados" de Barcelona na Grécia, na França, na Polônia e em Portugal. Os jovens protestam contra o desemprego, a corrupção e a falta de democracia.

     Em Paris, eles concentraram-se na praça da Bastilha, e foram retirados pela polícia no fim da tarde, sem violência.

     A desocupação da praça em Barcelona, na sexta-feira passada, teve confrontos com a polícia que deixaram cerca de 120 feridos. Em Lisboa, mesmo sob forte chuva, os manifestantes portugueses se concentraram na praça do Rossio, onde o acampamento começou, na sexta-feira passada. Em Varsóvia, a maioria dos participantes eram jovens espanhóis que estudam na Polônia.

     Parece que o tiro saiu pela culatra. Os “bildelbergers”, o G-8, Obama - o heróico matador de Osama -, a hilária Hillary Clinton e até a rainha Elisabeth II, que estavam contando dominar inteiramente o norte da África e derrubar o governo Sírio, no Oriente Médio, para que Israel abocanhe mais uma fatia de território fronteiriço e finja fazer as pazes com os palestinos; o ridículo Sarcozy, o corrupto Berlusconi e todos aqueles que querem implantar a democracia deles através de bombas de uma tonelada nos países islâmicos estão percebendo que a sua própria e falida Europa está em convulsão social e não sabem o que fazer.

     Aqui ninguém se revolta. O pessoal quer é fumar maconha. E outras drogas - as que são fumadas, as que são cheiradas, as que são injetadas. Fazem marchas para a liberação da maconha e consideram isso a coisa mais importante do mundo. A juventude brasileira demonstra estar anos-luz atrás da juventude dos demais países em termos de conscientização - até, e principalmente, dos países latino-americanos - mas acredita que a liberação da maconha resolve esse problema.

     De vez em quando, para não ficar muito feio, surge uma ou outra manifestação de apoio aos espanhóis, portugueses, irlandeses, franceses, gregos... Mais por desencargo de consciência, mas manifestações tão alienadas como aqueles que fazem marchas apenas pela liberação da maconha, porque os que apóiam os europeus fazem-no como se aqui no Brasil estivesse tudo muito bem.

     Como se não tivéssemos problemas com desemprego, saúde, educação, arrocho salarial, desigualdades raciais e sociais, concentração de renda, mortalidade infantil, violência, tráfico de drogas, prostituição, trabalho infantil, saneamento básico, condições de trabalho e, o mais à vista, corrupção.

     E também alienação. Marcha pela maconha? Por que não marcha pela moradia, pela distribuição de renda, contra o desmatamento, a entrega da Amazônia, contra hidrelétricas como Belo Monte, a favor da reforma agrária, contra a falsa democracia, contra os assassinatos em série de ambientalistas, contra o Código Florestal que entrega o Brasil ao latifúndio, contra o deserto verde provocado pela monocultura e pelos transgênicos, contra a demagogia descarada do governo, contra a pobreza e a miséria?

     Não. Essas coisas não. Os jovens brasileiros são muito ordeiros e respeitadores do sistema. Suas marchas, quando marcham, é por coisas inócuas como a liberação da maconha ou orgulho gay.

     Inócuas, porque a maconha já está liberada no Brasil há muito tempo. E o orgulho gay nunca esteve tão orgulhoso de si mesmo. Então, para que marcham, se as suas marchas nada significam?

     Talvez eu esteja enganado e eles não sejam tão alienados assim e a tentativa para liberar a maconha seja uma maneira de acabar com o tráfico da erva. Somente o governo seria o grande traficante, vendendo nas farmácias populares, a preços módicos, para os usuários. Quem sabe... Vender maconha seria um grande negócio para o governo.

     Talvez. Mas, além disso, o que eles entendem por liberdade? A Liberdade seria a liberdade de... fumar maconha? Só isso?

     Enquanto isto, na Europa e no resto do mundo onde as pessoas são mais corajosas, o povo sai às ruas por melhores condições de vida... Ah! Já sei! Os jovens que fazem essas marchas pela liberdade individual deles, pela sua liberdade sensorial, não se consideram povo. Para eles, “povo” é outra coisa, à qual eles não pertencem.

     E o Brasil? Tanto faz, desde que eles tenham a sua maconha...

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