terça-feira, 14 de junho de 2011

O FIM DO CONGRESSO E A DITADURA CIVIL



Uma ditadura caracteriza-se principalmente pela inexistência de oposição. O Brasil sofreu durante quase trinta anos sob uma ditadura militar, que, ao final, por se sentir exaurida, permitiu o que foi chamado à época de uma “oposição consentida”.

     Uma oposição sem força alguma, apenas para constar, porque os militares insistiam que o nosso era um país democrático e queriam enganar ao povo ou a quem desejasse ser enganado e também tentavam enganar a opinião pública do exterior ao mostrar que aqui havia eleições e até uma oposição.

     Alguns dos supostos opositores gostaram de ser oposição daquela maneira. Era uma maneira de ganhar dinheiro sem fazer nada, apenas discursos de vez em quando. Quando muito. Formaram-se (o governo militar formou) dois partidos: A ARENA (Aliança Renovadora Nacional) – onde se reuniram todos os políticos aliados dos militares – e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) – onde se reuniram todos os opositores que consentiram em fazer parte da palhaçada - e foram feitas eleições municipais e estaduais para as assembléias estaduais e para o Congresso Nacional.

     O governo tinha um forte apoio da Rede Globo e das demais mídias autorizadas por ele, que insinuavam que se a ARENA não fosse bem votada poderia haver um golpe em cima dos golpistas. E a ARENA era bem votada, porque, como todos sabem, no Brasil as pessoas tem preguiça para raciocinar e acreditam que as coisas se ajeitam por si mesmas, ao andar da carruagem. É um hábito brasileiro o de aceitar qualquer tipo de política e qualquer tipo de político.

     E a ARENA era bem votada e por um bom tempo foi maioria no Congresso Nacional e elegia muitos governadores e prefeitos. Depois de algum tempo com essa experiência política, o sistema decidiu concordar com a “abertura política”, com eleições para presidente. Para que isso acontecesse conforme o combinado entre governo e “oposição” foi montado todo um aparato para convencer o povo que era chegado o momento de eleições diretas para presidente.

     Chico Buarque & Cia. visitaram várias capitais fazendo showmícios pelas Diretas Já; fizeram-se passeatas, devidamente dispersadas pela polícia, concordou-se que os exilados – já amansados – poderiam voltar ao Brasil e, por fim, fizeram-se eleições para presidente da República.

     Eleições indiretas. Foi eleito Tancredo Neves, que não era exatamente de esquerda – longe disso! – mas tinha sido do velho PTB nacionalista e aquele que tinha recomendado Getúlio Vargas a renunciar, em agosto de 1954, na última reunião ministerial daquele trágico governo. Após aquele conselho, Getúlio subiu para o seu quarto, no antigo Palácio do Catete, assinou a carta-testamento e preferiu o suicídio.

     Portanto, Tancredo Neves era perfeitamente aceitável para o sistema e a mídia o apoiava. Mas, às vésperas de ser empossado, sofreu o que apelidaram de diverticulite, doença que o levou à morte em poucos dias. Fafá de Belém cantou o Hino Nacional na Globo, após a notícia do falecimento de Tancredo, e todo o povo brasileiro compungiu-se com a morte daquele que prometia ser o salvador da pátria. Assumiu o vice-presidente, José Sarney, para gáudio dos militares. O acordo entre as oligarquias civis e militares estava fechado.

     Naquela época, o PT apenas espreitava, vestido de vermelho e prometendo moralizar o país no dia em que Lula fosse eleito Presidente. E Lula foi eleito Presidente quando já tinha se transformado no “Lulinha paz e amor” e tornou-se grande amigo de banqueiros, empresários, latifundiários, do FMI, dos Estados Unidos, e fez do seu governo de oito anos um misto de populismo com neo-liberalismo – o que muito agradou o império.

     É claro que nas reuniões entre petistas, aquelas reuniões entre os líderes, eles reafirmavam uns para os outros que eram de esquerda – não uma esquerda marxista, porque o sistema tinha avisado que o marxismo deveria acabar e eles tinham que obedecer ao globalizado sistema mundial, mas uma esquerda Fabiana, propondo a aliança entre o capital e o trabalho. Ou seja, exatamente uma postura anti-marxista. E isso muito agradava a todos os líderes petistas, que teriam como principal trabalho o de enganar o povo que neles votava.

     Tão bem o povo foi enganado e tão bem funcionaram aquelas estranhas máquinas chamadas de urnas eletrônicas, que somente são adotadas no Brasil e mais em um ou dois países, que o PT, nas últimas eleições, não só elegeu a desconhecida Dilma como conseguiu ampla maioria nas duas casas do Congresso.

     E voltamos à ditadura.

     Uma ditadura civil, mas ditadura. O governo e todo o sistema que o ampara e guarda – porque é um governo fabricado em aliança com o sistema – faz o que bem entende.

     Comprou o PMDB, o maior partido do Congresso, com ministérios e inúmeros cargos, e mais alguns partidos menores para formarem o que é chamado de base aliada e todas as leis que deseja são aprovadas no Congresso, porque a oposição é mínima, quase inexistente. E um país onde quase não existe oposição é um país com governo ditatorial.

     E na ditadura quase tudo pode ser feito por quem está no poder. Desde a usina hidrelétrica de Belo Monte – que provocará um dos maiores impactos ambientais do mundo – até a entrega total da Amazônia e a destruição da Mata Atlântica para servir aos interesses do agronegócio.

     A desvalorização do trabalho através de salários aviltados foi o primeiro sinal de que o PT se encaminhava para uma ditadura de direita, uma ditadura em que o povo apenas pensa que governa, através das eleições.

     Mas o que mais está marcando a ditadura petista é o fato de a direita oficial – DEM E PSDB – estar, agora, quase com um discurso de esquerda moralista, e a esquerda representada pelo ínfimo PSOL, que parecia, a princípio, que seria um segundo PSB inócuo ou um PC do B que baixa a cabeça e se curva, estar radicalizando e firmando as suas posições marxistas.

     Mas nada disso adianta. Ditadura é ditadura e o PT governa através de medidas provisórias, que funcionam como decretos-leis, e faz as leis que bem entende serem aprovadas no Congresso. E tem o STF ao seu lado, porque o Supremo é apenas um apêndice do Executivo, formado por juízes por ele nomeados.

     Breve, seremos iguais aos Estados Unidos, um país imperialista tentando dominar a América do Sul, com um povo formado por torcedores do futebol. Com a pequena diferença de que nos Estados Unidos o povo é formado por torcedores de basquete e beisebol.

     Hoje, o Congresso apenas funciona na aparência, porque por mais que a oposição lute contra medidas provisórias ou leis inconstitucionais o seu peso é zero e estamos sob uma ditadura civil apelidada de democracia. Como nos velhos tempos da ditadura militar.

Um comentário:

  1. É... Realmente o Congresso Nacional parece mais um "faz de conta". Muito interessante as informações da matéria sobre Tancredo em relação à Getúlio Vargas. "crítica e esclarecedora"! Parabéns!
    Lidia.

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