terça-feira, 12 de julho de 2011

SEU CHICO E O SENADO


Estava passando os canais para tentar descobrir alguma coisa para ver por breves momentos, lá pelas duas da tarde do dia 12, antes de sair para as lides que a vida obriga quando, na TV Senado aparece o senador Paulo Paim falando de Bagé. Parei por ali, para ouvir o que o Paim dizia, pensando que tinha a ver com os aposentados da minha cidade.

     Para surpresa minha não era nada disso. Meio que titubeando, o Paim estava lembrando aos poucos senadores presentes naquela casa, que deveria ser do povo, que Bagé completa duzentos anos de existência esta semana, precisamente no dia 17. E advertia os sonolentos senadores que estavam presentes no Senado o prefeito de Bagé, Luiz Eduardo Colombo, a primeira dama e o presidente da Câmara de Vereadores, Sílvio Machado. E entre outras frases bonitas e desejos de que Bagé tivesse mais duzentos anos e muitos outros duzentos anos, o Paim propôs à mesa do Senado um voto de aplauso para Bagé.

     Fiquei imaginando o que seria um voto de aplauso e cheguei a pensar na minha inocência que todos os senadores iriam se levantar e aplaudir. Que nada! Voto de aplauso é um requerimento que é apresentado à mesa do Senado. E o Paim apresentou o tal requerimento. Mas a presidente do Senado naquele momento, que era a Marta Suplicy, disse que não poderia colocar em votação o requerimento porque não havia quórum. Não havia quórum! Mesmo assim, ela disse que poderia quebrar o protocolo e chamou o Dudu à mesa do Senado e entregou a ele o requerimento, que agradeceu educadamente e disse que aqui estamos às ordens.

     À noitinha, quando fui dar uma volta para espichar as pernas, encontrei o seu Chico e parei para um dedo de prosa. Comentei com ele o que tinha visto mais cedo e ele me disse que tinha assistido ainda mais.

     - Mas vivente, eu assisto à TV Senado só para passar o tempo, porque, no mínimo é engraçado e isso de não ter quórum é todo dia. Mas fiquei sabendo que mais cedo houve uma sessão solene na Câmara de Deputados em homenagem a Bagé.

     - Não me diga, seu Chico! E eu que não assisti...

     - Pois lhe digo sim, e lá eles honraram a nossa terra e o Dudu até que estava garboso. Foi o que me disseram.

     - Ainda bem que alguma coisa se salva, porque no Senado...

     - É uma vergonha, concordo com o senhor. Nunca tem ninguém e só aparecem quando o governo manda votar alguma coisa urgente. Aí enche de senadores fazendo aqueles discursos pomposos, olhando para as câmeras da tevê e falando que vão ajudar o povo e salvar o Brasil.

     - E ganham mais de cem mil por mês, seu Chico, para isso!

     - Pois fiquei sabendo que eles ganham até para a roupa, motorista, viagens de avião, casa, gabinete – além daquele salário!

     - Dá mais de cem mil, seu Chico. Não só os senadores como também os deputados. Olha o nosso dinheiro para onde vai...

     - E para não fazerem nada, porque são uns concordinos. Só votam o que o governo manda.

     - Não tem um que faça alguma coisa, seu Chico! Eu chego a ficar envergonhado por eles.

     - Pois aí eu discordo do senhor. Há pouco, eu ainda estava vendo o resto da sessão do Senado, para passar o tempo, o senhor sabe, porque às vezes é melhor que ver aquelas novelas meladas, e me apareceu uma senhora lá, uma tal de Marinor Brito, senhora distinta, nome antigo, que fez sérias denúncias e disse que iria cobrar investigações.

     - Mas pra mim é surpresa, seu Chico. Investigar o que?

     - É que os estados da Federação recebem verbas para a saúde, dizem que usam todo o dinheiro, mas ela descobriu que no mínimo, no mínimo, onze bilhões sumiram.

     - Onze bilhões! Mas foram pra onde?

     - Olha, agora mesmo eu estava dobrando a esquina e vi um desses bilhões passar correndo pro bolso de um daqueles cupinchas lá do Planalto, hehe...

     - Será, seu Chico?

     - Não lhe duvido nada. Mas o pior não é isso: o tal de Senado parece uma casa de loucos. Pois uma denúncia dessas não era para provocar um debate de saltar faíscas?!

     - E não provocou, seu Chico?

     - Mas...! Como eu lhe disse, aquilo parece uma casa de loucos. Um diz uma coisa e outra fala coisa bem diferente.

     - Mas ninguém reagiu, não houve nenhuma explicação...?

     - Que explicação que nada! Depois subiu lá no palanque deles, na tribuna ou o que seja, adivinha quem? - pois o Simon!

     - Ah, bueno! Deve ter apoiado o pedido de investigação da Marinor.

     - Olha só: apresentou um texto dele lá, que apóia a presidenta Dilma e que, segundo deu pra entender diz pra ela resistir às pressões dos corruptos.

     - Quer dizer que o Simon deu a entender que se houver corrupção no governo a culpa não será da Dilma, não é isso?

     - Indiretamente. E ainda elogiou a presidenta dele, apoiado pelos outros poucos senadores que ainda restavam lá, porque ela botou pra fora o Palocci e o cara dos Transportes...

     - Mas foram eles que se demitiram, seu Chico!

     - Pois é, mas o que eu lhe pergunto não é isso. O que me deixa pensando é porque ela admitiu nos ministérios dela gente reconhecidamente corrupta - e diga-me com quem andas...

     - Dá o que pensar, seu Chico. E o Simon lá, defendendo ela.

     - Defendendo e fingindo que nem tinha ouvido a fala da senadora que denunciou o desvio dos onze bilhões da saúde. Faz de conta que ela nem tinha dito nada. E olha que onze bilhões são onze bilhões, não é qualquer miséria de pilas que se aposta em jogo de osso ou de truco.

     - Essa é de não dormir, seu Chico. Como o Simon mudou!

     - Ele tem lá os interesses dele, não se pode culpar tanto. Mas, em outros tempos, qualquer acusação deste porte faria com que um se levantasse e dissesse na hora: prove! E já com a mão no coldre. E quem cala consente.

     - Em outros tempos, seu Chico, o Senado não seria engraçado, mas coisa séria.

     - E hoje é isso que se vê!

     - É triste, seu Chico...

     - É mais que triste... Às vezes eu penso se não seria o caso...

     - Eu também penso, seu Chico. Eu também penso...

     - É, mas vamos deixar pra lá. Por enquanto... E sabe o que mais? Vamos festejar. São duzentos anos e não é pouca coisa.

     - Não é todo dia que se faz duzentos anos, não é, seu Chico? E eu estava lembrando...

     - Pois diga, vivente!

     - Quando Bagé foi fundada, em 1811, a maioria da América do Sul e Caribe, senão toda, menos o Brasil que ainda pertencia a Portugal, estava se libertando da Espanha e este ano também estão comemorando duzentos anos. Só que duzentos anos de independência.

     - Pois é uma feliz coincidência. Lembra aqueles bons tempos em que havia homens de verdade e mulheres que os empurravam para a luta.

     - Bons tempos, seu Chico! Lá se vão duzentos anos...

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