Estava espairecendo na noitinha do sábado que precede o famoso dia 11 de setembro e pensando na melhor maneira de ajudar a Dilma, que diz que não desistiu, só cansou de faxinar, quando encontrei o seu Chico que estava com ares de quem viu passarinho desconhecido.
- Como vai, seu Chico, tudo bem?
- Pra lá de bem! O senhor viu esse tempo. Só ameaça chover e nada. Arisco... Enquanto isso, lá em Santa Catarina o povo está debaixo d’água. De novo!
- E nas mesmas cidades da outra enchente, seu Chico.
- A dinheirama que esses políticos ganharam com aquela enchente pra arrumar tudo e evitar novos alagamentos... Pra onde terá ido? O senhor sabe?
- Saber com certeza eu não sei, seu Chico, mas será que nessa faxina da Dilma ela não encontrou esse dinheiro embaixo de algum tapete lá do Planalto?
- Pois é... Seria o causo de perguntar... Mesmo porque aquela senhora anda cansada de faxina, louca pra se aposentar... Enquanto isso, os servidores da Câmara receberam um aumento federal - o senhor viu?
- Federal mesmo, seu Chico. Dizem que esses servidores estão ganhando mais que jogador de futebol da Arábia Saudita.
- E mais não sei quantos milhões para o Corinthians. Parece que é pra algumas obras.
- Eles são muito obreiros, seu Chico. Trabalham muito. Estão sempre conseguindo um dinheirinho pra um ou pra outro.
- Por falar, indiciaram o chefe da quadrilha. O tal de Zé Dirceu. Quero ver quem vai ter caracu pra condenar!
- Vai ser a maior surpresa, seu Chico, se condenarem alguém daquela turma dos quarenta ladrões.
- E o Ali Babá, o senhor sabe onde anda?
- Voando como uma mariposa. Tem dinheiro sobrando para passeios.
- Foram oito anos. Deu pra juntar algum troquinho, o senhor não acha?
- Acho que não precisa mais mendigar. Qualquer coisa é só falar pra companheira, que guarda o assento dele lá no palácio.
- Essa gente vive de palácio em palácio, e o povo sendo agredido nas favelas, nos morros, nos barracos.
- É que eles acreditam que povo é descartável, seu Chico. Usa-se durante as eleições e depois se joga fora. E os que reclamam levam chumbo.
- Parece que agora não é mais chumbo. Eles estão ficando sofisticados. Deve ter sido o treinamento no Haiti. Agora eles atiram com balas de borracha, que só fura e provoca algumas contusões, quebra algumas costelas, um ou outro traumatismo craniano. E também usam aquele gás especial, que dizem que é recolhido nas sessões da Câmara e do Senado, porque faz chorar.
- Alguma coisa também se recolhe nos arredores do Planalto, seu Chico. Mas, trocando de saco pra mala: o senhor chegou a ver o jogo da tardinha?
- Pois não é que eu vi! Eu estava ouvindo o canto do sabiá, lá no pátio, quando a patroa me chamou dizendo que estava passando o meu jogo de sábado. Obedeci e fui ver. As mulheres tem dessas coisas: às vezes pensam que estão agraciando quando estão ofendendo... Mas é assim mesmo... Fazer o que? Sentei e comecei a ver dois bandos de jogadores correndo atrás de uma bola. Cada bando ostentava o nome da sua empresa na camiseta.
- E viu as expulsões?
- Mas tinha que ver! O narrador se esgoelava dizendo que era um jogo maravilhoso e eu fiquei bem atento para tentar achar a tal de maravilha e não encontrei por mais que tentasse. Até falaram que tinha um grande craque no time de branco e eu pensei se não seria o goleiro, que era o que mais se mexia naquele time. O senhor não acha?
- Até acho. Mas o que eles chamam de craque é um rapaz que até chuta bem no golo e tem uns olhos arregalados. Gosta de fazer malabarismos...
- É de circo?
- Pois não sei se é de circo, seu Chico, mas o que me impressionou é que bastava chegar um dos de azul perto dele para ele cair e o juiz dar falta.
- Isso acontece muito. O senhor sabe que esses meninos muito frágeis devem ser protegidos, principalmente se for chamado de craque pela imprensa. Não sei porque, mas a imprensa, vez que outra simpatiza com um desses meninos.
- Pois eu também não sei, seu Chico. A imprensa futebolística é muito gozada. Falam cada coisa estranha... Mas então o senhor viu as expulsões?
- Mas como não?! Foi o próprio menino que não agüenta o tranco que caiu duas vezes e duas vezes o tal de juiz, que dizem que é muito bom, expulsou os jogadores que chegaram bem pertinho dele. Parece que ele vale muito.
- Milhões e milhões, seu Chico.
- E pra fazer aquilo – caindo uma vez e outra também?
- Pois dizem que o futebol brasileiro agora é assim, seu Chico. O melhor é aquele que cai mais.
- E também o que cai mais no agrado da imprensa, pelo que vejo. Mas se são tantos milhões assim...
- Incalculáveis milhões!
- Se é assim, porque não vendem esse menino frágil pro exterior e melhoram a saúde do povo, o SUS, dão moradia pros pobres...
- Vender eles querem vender, seu Chico, mas o dinheiro vai é pro bolso dos clubes, do que é vendido, dos empresários...
- E pro povo nada, não é? O povo não vale nada pra eles.
- Só nas eleições, seu Chico.
- E se alguém se queixar, bala de borracha nos queixos e gás parlamentar.
- Lá no Brasil é assim, seu Chico. Eles não perdem essa mania de matar gente da torcida que aplaude jogador rico. Não que aqui não aconteça.
- É verdade. Não que aqui não aconteça alguma coisa parecida. Mas inventa de botar tanques pra cima do povo aqui no Rio Grande pra ver o que acontece de verdade!...
- E o que, seu Chico?
- Cantamos o hino da República Riograndense na cara deles e eles se micham na hora. Principalmente quando for cantada aquela parte da letra: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
- Isso é verdade, seu Chico. E vamos pra cima deles, gritando: “Mostremos valor, constância...”.
- Saem correndo na hora, porque não sabem o que é valor, nem constância, mas adoram ser escravos.
- Escravos de ilusões, seu Chico. Do futebol, das novelas, do consumismo e de outras ilusões.
- Mas então Santa Catarina está debaixo d’água, de novo...
- Pois é, seu Chico.
- Terra de Anita Garibaldi... Dá o que pensar...
Cada vez que o Blogueiro bate um papo com s.Chico, as mazelas nossas de cada dia aparecem. Esse nosso Brasil anda de mal a pior. Valeu, Blogueiro!
ResponderExcluirLidia.