sábado, 10 de setembro de 2011

SEU CHICO, O FUTEBOL E A REPÚBLICA RIOGRANDENSE


Estava espairecendo na noitinha do sábado que precede o famoso dia 11 de setembro e pensando na melhor maneira de ajudar a Dilma, que diz que não desistiu, só cansou de faxinar, quando encontrei o seu Chico que estava com ares de quem viu passarinho desconhecido.

     - Como vai, seu Chico, tudo bem?

     - Pra lá de bem! O senhor viu esse tempo. Só ameaça chover e nada. Arisco... Enquanto isso, lá em Santa Catarina o povo está debaixo d’água. De novo!

     - E nas mesmas cidades da outra enchente, seu Chico.

     - A dinheirama que esses políticos ganharam com aquela enchente pra arrumar tudo e evitar novos alagamentos... Pra onde terá ido? O senhor sabe?

     - Saber com certeza eu não sei, seu Chico, mas será que nessa faxina da Dilma ela não encontrou esse dinheiro embaixo de algum tapete lá do Planalto?

     - Pois é... Seria o causo de perguntar... Mesmo porque aquela senhora anda cansada de faxina, louca pra se aposentar... Enquanto isso, os servidores da Câmara receberam um aumento federal - o senhor viu?

     - Federal mesmo, seu Chico. Dizem que esses servidores estão ganhando mais que jogador de futebol da Arábia Saudita.

     - E mais não sei quantos milhões para o Corinthians. Parece que é pra algumas obras.

     - Eles são muito obreiros, seu Chico. Trabalham muito. Estão sempre conseguindo um dinheirinho pra um ou pra outro.

     - Por falar, indiciaram o chefe da quadrilha. O tal de Zé Dirceu. Quero ver quem vai ter caracu pra condenar!

     - Vai ser a maior surpresa, seu Chico, se condenarem alguém daquela turma dos quarenta ladrões.

     - E o Ali Babá, o senhor sabe onde anda?

     - Voando como uma mariposa. Tem dinheiro sobrando para passeios.

     - Foram oito anos. Deu pra juntar algum troquinho, o senhor não acha?

     - Acho que não precisa mais mendigar. Qualquer coisa é só falar pra companheira, que guarda o assento dele lá no palácio.

     - Essa gente vive de palácio em palácio, e o povo sendo agredido nas favelas, nos morros, nos barracos.

     - É que eles acreditam que povo é descartável, seu Chico. Usa-se durante as eleições e depois se joga fora. E os que reclamam levam chumbo.

     - Parece que agora não é mais chumbo. Eles estão ficando sofisticados. Deve ter sido o treinamento no Haiti. Agora eles atiram com balas de borracha, que só fura e provoca algumas contusões, quebra algumas costelas, um ou outro traumatismo craniano. E também usam aquele gás especial, que dizem que é recolhido nas sessões da Câmara e do Senado, porque faz chorar.

     - Alguma coisa também se recolhe nos arredores do Planalto, seu Chico. Mas, trocando de saco pra mala: o senhor chegou a ver o jogo da tardinha?

     - Pois não é que eu vi! Eu estava ouvindo o canto do sabiá, lá no pátio, quando a patroa me chamou dizendo que estava passando o meu jogo de sábado. Obedeci e fui ver. As mulheres tem dessas coisas: às vezes pensam que estão agraciando quando estão ofendendo... Mas é assim mesmo... Fazer o que? Sentei e comecei a ver dois bandos de jogadores correndo atrás de uma bola. Cada bando ostentava o nome da sua empresa na camiseta.

     - E viu as expulsões?

     - Mas tinha que ver! O narrador se esgoelava dizendo que era um jogo maravilhoso e eu fiquei bem atento para tentar achar a tal de maravilha e não encontrei por mais que tentasse. Até falaram que tinha um grande craque no time de branco e eu pensei se não seria o goleiro, que era o que mais se mexia naquele time. O senhor não acha?

     - Até acho. Mas o que eles chamam de craque é um rapaz que até chuta bem no golo e tem uns olhos arregalados. Gosta de fazer malabarismos...

     - É de circo?

     - Pois não sei se é de circo, seu Chico, mas o que me impressionou é que bastava chegar um dos de azul perto dele para ele cair e o juiz dar falta.

     - Isso acontece muito. O senhor sabe que esses meninos muito frágeis devem ser protegidos, principalmente se for chamado de craque pela imprensa. Não sei porque, mas a imprensa, vez que outra simpatiza com um desses meninos.

     - Pois eu também não sei, seu Chico. A imprensa futebolística é muito gozada. Falam cada coisa estranha... Mas então o senhor viu as expulsões?

     - Mas como não?! Foi o próprio menino que não agüenta o tranco que caiu duas vezes e duas vezes o tal de juiz, que dizem que é muito bom, expulsou os jogadores que chegaram bem pertinho dele. Parece que ele vale muito.

     - Milhões e milhões, seu Chico.

     - E pra fazer aquilo – caindo uma vez e outra também?

     - Pois dizem que o futebol brasileiro agora é assim, seu Chico. O melhor é aquele que cai mais.

     - E também o que cai mais no agrado da imprensa, pelo que vejo. Mas se são tantos milhões assim...

     - Incalculáveis milhões!

     - Se é assim, porque não vendem esse menino frágil pro exterior e melhoram a saúde do povo, o SUS, dão moradia pros pobres...

     - Vender eles querem vender, seu Chico, mas o dinheiro vai é pro bolso dos clubes, do que é vendido, dos empresários...

     - E pro povo nada, não é? O povo não vale nada pra eles.

     - Só nas eleições, seu Chico.

     - E se alguém se queixar, bala de borracha nos queixos e gás parlamentar.

     - Lá no Brasil é assim, seu Chico. Eles não perdem essa mania de matar gente da torcida que aplaude jogador rico. Não que aqui não aconteça.

     - É verdade. Não que aqui não aconteça alguma coisa parecida. Mas inventa de botar tanques pra cima do povo aqui no Rio Grande pra ver o que acontece de verdade!...

     - E o que, seu Chico?

     - Cantamos o hino da República Riograndense na cara deles e eles se micham na hora. Principalmente quando for cantada aquela parte da letra: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

     - Isso é verdade, seu Chico. E vamos pra cima deles, gritando: “Mostremos valor, constância...”.

     - Saem correndo na hora, porque não sabem o que é valor, nem constância, mas adoram ser escravos.

     - Escravos de ilusões, seu Chico. Do futebol, das novelas, do consumismo e de outras ilusões.

     - Mas então Santa Catarina está debaixo d’água, de novo...

     - Pois é, seu Chico.

     - Terra de Anita Garibaldi... Dá o que pensar...

Um comentário:

  1. Cada vez que o Blogueiro bate um papo com s.Chico, as mazelas nossas de cada dia aparecem. Esse nosso Brasil anda de mal a pior. Valeu, Blogueiro!
    Lidia.

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...