segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A BATALHA DA ROCINHA



E eu pensando que a culpa era do Jobim... Perdoe-me o Jobim, que apenas cumpriu o seu dever e não devia estar muito satisfeito de cumprir aquele tipo de dever. Atacar, humilhar, invadir as casas do povo pobre não é coisa digna das Forças Armadas. Inventou de falar das mulheres da Dilma e foi demitido. Coisas da vida.

     Hastearam duas bandeiras lá no alto da Rocinha: a bandeira do Brasil e a bandeira do Rio de Janeiro. Supõe-se, portanto, que até então, antes das bandeiras tremularem bem no alto do morro, a Rocinha – e favelas adjacentes – não era nem brasileira, nem carioca. No máximo era uma paisagem pitoresca, admirada pelos consumidores de drogas da zona sul.

     Agora cabralizou. Cabral tomou a Rocinha com o auxílio das Forças Armadas. Dizem que foi tudo em paz. Nenhum tiro foi trocado com o terrível e perigoso povo que habita naquela região. Nenhum morto ou ferido. O grande exército da Rocinha preferiu não combater. Esconderam-se! – pensam os nossos gloriosos militares, que estavam preparados para uma grande e penosa batalha.

     A Batalha da Rocinha, que ficaria nos anais da história guerreira do Brasil, não aconteceu. Talvez para tristeza de alguns mais afoitos soldados, que desejavam treinar tiro ao alvo. Não é todo dia que se tem a chance de atirar em alvo vivo. Ficaram frustrados.

     Terão novas chances, asseguram seus chefes. Povo é que não falta no Brasil. Principalmente povo pobre. Povo faminto, drogado, embebedado pelas ilusões lúlicas e dílmicas de bastante futebol, mas povo. E povo pobre sempre é alvo.

     Li que o povo da Rocinha estava com medo que os invasores fizessem o mesmo que fizeram na favela do Alemão: atirassem em quem se mexesse, invadissem as casas a pontapés de coturno, tirassem o direito de ir e vir, revistassem a todos – porque, no Brasil, todo pobre é suspeito de ser marginal e todo marginal é suspeito de ser bandido. Entre outras coisas inconstitucionais. Porque a Constituição, vocês sabem, é somente para os civis. Principalmente civis pobres.

     Que nada! Dizem os grandes veículos de comunicação que tudo transcorreu em paz. É claro que todos os mais de cem mil moradores estão sendo revistados sempre que entram e saem do local onde não se travou a grande batalha. Também é claro que casas foram invadidas – casas suspeitas – e que pessoas foram presas – pessoas suspeitas. Mas o que é isso perto do que poderia ter sido a Grande Batalha da Rocinha, para a qual Exército, Marinha, Aeronáutica e toda a polícia do Rio de Janeiro estavam preparadas?

     O que significa rasgar a Constituição. Nem a OAB se manifesta. Isso já vem acontecendo desde 1964 e ninguém reclama. Muito menos o povo que não é composto por bacharéis e que deve se dar por muito satisfeito por ainda estar vivo, em sua grande maioria. A grande vitória é conseguir viver um dia da cada vez – como dizem alguns dos grandes pensadores da Rocinha e de outras favelas que esperam a sua vez de serem “pacificadas”.

     Tudo por amor ao futebol, uma atividade que orgulha a nossa nação. Teremos uma Copa do Mundo limpa de pobreza.

     Claro que tudo se resume ao combate ao tráfico de drogas. Inclusive, temem alguns muito viciados, não somente da zona sul carioca, que as suas drogas preferidas escasseiem e se tornem mais caras. Craques o povo tem, mas a cocaína nossa de cada dia? – como diriam, ou devem estar pensando, alguns sérios senhores e algumas ansiosas senhoras.

     Ora!, senhoras e senhores... Não se apoquentem! É tudo uma questão de mercado. A apreensão e queima de drogas é necessária para que os preços não sejam demasiado aviltados. Afinal, este é um país muito capitalista. Além disso, este é o país do “jeitinho”. Se o traficante “A” foi preso, sempre restará o traficante “B”. Na falta dos dois e se você tiver alguma influência, é só falar com algum policial amigo.

     O importante mesmo é que as favelas desapareçam ou sejam afastadas para muito longe até a Copa do Mundo. Não esqueçam que o turismo é uma fonte de renda para os que tem renda.

     E o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, tem que mostrar uma cara bonita e faceira para os seus verdadeiros donos, quando eles começarem a chegar, em 2014.

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