quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O SONO DEVASTADOR DOS SENADORES



O senador Randolfe Rodrigues disse que Código Florestal não é o conjunto de leis que regula a ocupação do solo no território nacional. Ele observou que isso é papel da Lei Agrária e que o Código Florestal existe para proteger e definir o uso sustentável das florestas. Está ocorrendo uma ofensiva na direção contrária, que vai desde uma definição errada do Código até o anúncio da votação de emenda à Constituição (PEC 215/2000) que acaba com as unidades de conservação e demarcação de terras indígenas e quilombolas.

     O senador Randolfe está certo. Na verdade, o que foi votado e aprovado na Câmara e no Senado não foi o Código Florestal, embora tenha esse nome, mas o Código do Latifúndio e da Devastação e todos os latifundiários e amigos dos latifundiários votaram a favor.

     No Facebook saiu uma notícia sobre venda de votos. Os deputados que aprovaram aquele Código teriam recebido em torno de 50 milhões de reais para votarem pela sua aprovação. Não acredito, porque acho pouco. Se eles foram comprados, o que não é de duvidar, o preço deve ter sido bem mais alto.

     E os senadores, quanto receberam para entregar o território brasileiro à sanha das motosserras? Ou receberam apenas a promessa de amizade eterna dos donos das terras do Brasil? Talvez alguma ajuda para as eleições, férias, colégios dos filhos, concursos de familiares, empregos a correligionários. Ou, talvez, alguns senadores e deputados tenham votado a favor do Código, que apelidaram de Florestal, por consciência cívica, acreditando que seria o melhor para o Brasil.

     Mas, se esta última possibilidade foi a motivação do voto de alguns senadores e deputados, como poderiam saber o que é bom para o Brasil e os brasileiros sem que houvesse um plebiscito a respeito?

     Os brasileiros que se pronunciaram, mas que não tem direito ao voto, porque delegaram esse direito às pessoas que formam o Congresso, pediram, insistiram, exigiram, fizeram passeatas e manifestações para tentar acordar a consciência cívica de deputados e senadores no sentido de que eles votassem contra o mal afamado Código Florestal.

     Mas deputados e senadores não ouviram, não quiseram ouvir e se defenderam contra os manifestantes com seguranças obtusos que bateram e atiraram nas pessoas que diziam não ao Código Florestal.

     Esses deputados e senadores escudaram-se dentro dos seus amplos salões, com medo de tudo e de todos, apavorados quando alguém nas galerias falava alguma coisa, e esse pavor, esse medo do povo, e essa grande amizade que eles tem com os latifundiários fez com que votassem a favor do Código Florestal e depois saíssem quase escondidos, protegidos por seguranças e policiais, com a sua consciência cívica um pouco mais pesada, mas cientes de terem cumprido o seu dever para com os grandes donos de terras, devastadores, desmatadores, e foram refugiar-se em suas lindas mansões ou viajaram para bem longe, onde as suas bases os acolheram com tapinhas nas costas e mãos estendidas – e tentaram dormir.

     Talvez tenham conseguido. Pessoas há que conseguem dormir melhor com a consciência pesada, porque acreditam que esse peso é favorável ao sono. E dormem. Dormem muito. Às vezes, dormem acordados, pelo hábito de tanto dormir.

     São esses que fecham os olhos quando ambientalistas são mortos a mando dos latifundiários. Fecham os olhos quando o Brasil é entregue ao agronegócio que somente visa o lucro para algumas grandes famiglias e outras tantas corporações. Preferem dormir e dizer-se com muito sono quando os conflitos fundiários se agravam. Sentem-se extremamente sonolentos e até praticam o ato sonambúlico de dizer sim ao desmatamento acelerado e à destruição da natureza.

     São extremamente sonolentos esses “nossos representantes”.

     Mas deve-se fazer justiça. Entre os oitenta e um senadores que votaram o Código Florestal, oito votaram contra. São eles:

     Marinor Brito (PSOL/AP)
     Randolfe Rodrigues (PSOL/PA)
     João Capiberibe (PSB/AP)
     Paulo Davim (PV-RN)
     Marcelo Crivella (PRB/RJ)
     Cristovam Buarque (PDT-DF)
     Fernando Collor de Mello (PTB-AL)
     Lindbergh Farias (PT-RJ)

     Os demais votaram a favor da depredação do Brasil. Quase todos os demais: 58 disseram sim. Alguns faltaram ou se abstiveram. Talvez estivessem com muito sono.

     E entre os 58 que disseram sim, devo destacar os três senadores gaúchos, que entristeceram ainda mais estas verdes e desmatadas coxilhas: Ana Amélia Lemos (PP), que disse um sim já esperado; Paulo Paim (PT), que deu um desesperado sim porque a sua presidente mandou e o extremamente democrata Pedro Simon (PMDB), que disse sim por ser tão democrata e desejar ficar junto à maioria dos senadores que aprovaram o Código Florestal dos latifundiários.

Um comentário:

  1. É... Foi votado o famoso Código Florestal, que como era de se esperar beneficia os interesses dos também famosos latifundiários e outros. Ótima matéria sobre o congresso e suas falcatruas.
    Lidia.

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