segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A HORA DA OTAN


Há grupos de esquerda no Brasil – não o PT ou o PSOL, que podem ter pessoas de esquerda, mas são partidos que se aliam com a direita: o PSOL por concordar com o sistema e o PT por ser a própria cara do sistema no Brasil –, grupos pequenos que até se constituíram em partidos políticos, que acreditam que qualquer manifestação popular estará, obrigatoriamente, relacionada com lutas contra tiranias.

     Se assim fosse, a “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”, organizada pela TFP (Tradição, Família e Propriedade), que seria hoje o que entendemos por bancada ruralista no Congresso mais UDR (União Democrática Ruralista) e mais a ala reacionária da Igreja Católica (que é a maioria) – organizada em apoio ao golpe de 1964, que depôs João Goulart... Se fosse hoje, seria apoiada por esses grupos. Porque era contra o governo e porque reuniu muitos populares, além dos interessados diretos. E falava em liberdade.

     Todos os golpes de Estado e revoluções sempre usaram a palavra ‘liberdade’ para justificar-se. Às vezes, unida com outras palavras, como Fraternidade e Igualdade, como na França, quando da Revolução Francesa.

     Marat, Robespierre e Danton mataram milhares de franceses na guilhotina, apenas por suspeita de traição à República. Bastava uma palavra equívoca em alguma conversa descontraída para ser preso e guilhotinado no dia seguinte. A desculpa era a ‘liberdade’ ameaçada. Inclusive o astrônomo Bailly e o químico Lavoisier foram guilhotinados. Depois, Marat mandou matar Danton na guilhotina e foi assassinado por sua amante. Robespierre foi guilhotinado quando o povo francês não o agüentou mais.

     No entanto, a Revolução Francesa é tida como um intocável exemplo de luta pela ‘liberdade’ pelos livros da história oficial. Talvez devido à época das guerras napoleônicas, quando havia um Imperador que defendia a República...

     Neste exato instante a OTAN (aquele exército internacional dominado pelos Estados Unidos, também conhecido como Organização do Tratado do Atlântico Norte) poderá estar  bombardeando Trípoli e invadindo a Líbia. Todos os estrangeiros já saíram e este era o sinal para a invasão imperialista. Em nome da ‘liberdade’.

     Se isto estiver acontecendo ou no instante em que começar a acontecer e até a fuga ou assassinato de Kadhafi, qual será a posição desses grupos de esquerda que agora apóiam o que entendem por revolução nos países da África do Norte? Implodirão ou encontrarão motivos relacionados com a ‘liberdade’?

     A guerra no norte da África é provocada pela mídia e sustentada pelos Estados Unidos e aliados. Através da Internet são convocadas as pessoas e preparados os ataques e manifestações. As armas vem de fora e, em alguns casos, o exército local é comprado, como aconteceu na Tunísia e no Egito. O clamor popular tenta dar legitimidade às ações.

     A mídia televisiva do sistema – BBC, CNN e outras empresas do gênero – aumenta esse clamor. No Brasil, a Globo é a CNN e as demais empresas seguem o embalo para não perderem a audiência.

     A causa oficial dos levantes é a ‘liberdade’. A verdadeira razão é o petróleo.

     A Líbia possui as maiores reservas de petróleo do continente africano – 44,3 bilhões de barris - e é o terceiro maior produtor de petróleo da África. Grande parte dessas reservas estão nacionalizadas.

     Quando a pressão do Ocidente foi muito grande, tão grande que em 1986 os Estados Unidos lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi, matando 60 pessoas, entre elas uma neta de Kadhafi, este resolveu negociar e cedeu parte da exploração do petróleo líbio a empresas ocidentais, como a British Petroleum. Mas não abriu completamente o regime, que continuou a ser nacionalista e islâmico.

     Não por acaso, após a saída do poder do presidente Mubarak do Egito, um eterno fantoche dos Estados Unidos, sucedido pelas suas próprias Forças Armadas, começaram as manifestações na Líbia, justamente em Bengazi, que faz fronteira com o Egito.

     É em Bengazi que ficam os mais ricos campos petrolíferos da Líbia, bem como a maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, além de refinarias e um porto para exportação de gás liquefeito para a Europa.

     Alguns grupos políticos que foram expulsos da Líbia, quando esta se tornou nacionalista com Kadhafi, organizaram-se em uma Frente Nacional para a Salvação da Líbia, treinada e financiada pela CIA. Confirme esta informação entrando na busca do Google e escrevendo National Front for the Salvation of Libya junto com CIA e encontrará centenas de referências.

     A outra razão para os Estados Unidos e seus aliados dominarem completamente aqueles países do norte da África é militar. A partir dali, poderiam invadir facilmente qualquer país do Oriente Médio, encontrando pouca ou nenhuma resistência.

     Ainda outros motivos: acelerar o fim do islamismo como religião ligada aos países daquela região (norte da África e Oriente Médio), facilitando a vida dos aliados israelenses, ao mesmo tempo em que preparam uma terceira frente de batalha – além do território do Azerbaijão e do Mar Cáspio - para uma muito provável futura guerra contra o Irã.

     Mas na mídia oficial a história contada é outra. Seria uma luta contra a tirania. Luta pela ‘liberdade’. Mas a mesma mídia jamais apoiará um levante dos palestinos contra os opressores israelenses.

     É esse tipo de mídia que, com entusiasmo e veemência, procurará dar razão à invasão da OTAN na Líbia. E talvez alguns pequenos partidos brasileiros – sem contar os partidos grandes e já vendidos – que se consideram de esquerda, concordem com a mídia oficial.

    Uma invasão planejada para logo após a premiação do Oscar, quando mais câmeras estarão disponíveis.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A ESTRATÉGIA


A estratégia é a mesma, tanto no Brasil de 1961 quanto na União Soviética de 1989. Claro que há diferenças de povo, língua, evolução social, cultura y todo lo más... Mas a estratégia é a mesma.

     Em 1961, Jânio Quadros renunciou depois de sete meses no governo, dizendo que forças terríveis o obrigavam a isso. Ninguém até hoje descobriu quais eram essas forças terríveis. Elas apareceram claramente após a renúncia de Jânio: formou-se uma Junta Militar que pretendia governar o Brasil e não dar posse ao vice-presidente João Goulart. As “forças terríveis” não temiam Jânio, mas o seu vice, Jango.

     E se... E se Jânio estivesse junto naquele golpe? Sua função seria apenas a de ser um presidente contraditório, apalhaçado, que, na hora certa – e a hora certa foi o Dia do Soldado (coincidência?) – renunciaria dando espaço ao golpe militar. O golpe militar contra Jango, que era do partido do povo, o PTB (não confundir com a mesma sigla de agora) – um partido claramente nacionalista e que marchava rumo ao socialismo. Mas Brizola não deixou acontecer o golpe, com a resistência no Rio Grande do Sul, e o golpe foi adiado até 1º de abril de 1964.

     União Soviética, anos ’80. O Exército Vermelho não conseguiu vencer a guerrilha de Osama Bin Laden e da Al-Qaeda, aliados dos Estados Unidos no Afeganistão. O povo soviético sofre privações com essa guerra desgastante; os soldados estão descontentes e insatisfeitos com a direção militar. Torna-se urgente uma retirada.

     O presidente Gorbachev entende que é necessária uma reestruturação da sociedade soviética – perestróika, em russo – e para isto entra em contato com o seu tradicional inimigo, os Estados Unidos. Estranho, não? São várias as visitas de Gorbachev aos Estados Unidos, junto com a sua bela esposa Raissa, ocasiões em que ele fala de glasnost – abertura política, em russo. Ou seja, para reestruturar a economia soviética depois da guerra com o Afeganistão (vale dizer, com os Estados Unidos), Gorbachev pede apoio financeiro a Wall Street. Em troca, promete abrir, aos poucos, o mercado soviético.

     Os Estados Unidos cozinham Gorbachev em fogo lento. Na União Soviética, membros do Partido Comunista começam a desconfiar de Gorbachev, principalmente Boris Yeltsin, que mais tarde será Presidente da Federação Russa. Mas a perestróika e a glasnost continuam festejadas pelo Ocidente, enquanto acontecem rupturas ideológicas na União Soviética.

     Surge um fato novo, não por acaso. Nos anos ’80, logo após a eleição de Karol Woytila (João Paulo II), em 1978, como Papa – o primeiro Papa polonês da História - na Polônia, que é, então, um país comunista, é formado o sindicato Solidariedade – o primeiro grande sindicato de direita da História, liderado pelo carismático Lech Walessa. O sindicato Solidariedade torna-se uma força política.

     Lembremos que João Paulo II foi o sucessor de João Paulo I – Albino Luciani – que foi assassinado depois que descobriu o escândalo do Banco do Vaticano e suas relações com a Máfia e a Maçonaria, através da Loja Maçônica Propaganda Dois, à qual pertenciam apenas membros da elite italiana, como Sílvio Berlusconi. João Paulo II foi eleito porque era polonês e porque daria um fim às investigações do seu antecessor – como de fato aconteceu.

     Tudo se encaixava. Um Papa polonês, um sindicato que tem como ideologia o catolicismo e visava o fim do regime comunista, a União Soviética sendo derrotada no Afeganistão, a glasnost e a perestroika de Gorbachev - acusado de traidor. O capitalismo percebe que pode vencer o que entende por comunismo dentro do próprio império soviético. Muito dinheiro é investido. O Exército Vermelho é dividido; a KGB é infiltrada.

     Ao mesmo tempo, Ronald Reagan anuncia o projeto Guerra nas Estrelas. Consiste em uma série de satélites interligados que detectariam um ataque nuclear soviético (ou de qualquer outro país) no instante em que este tivesse início. Imediatamente, armas anti-mísseis seriam lançadas para destruir os mísseis inimigos. A União Soviética, quase na bancarrota, não tem condições de fazer o mesmo e cai no blefe. Uma guerra nuclear seria impensável. Nada mais resta senão abrir o mercado às multinacionais do Ocidente: a glasnost anunciada por Gorbachev.

     Na mesma União Soviética, uma nova geração ansiosa pelas novidades do Ocidente aplaude as mudanças estruturais. Principalmente os filhos dos burocratas soviéticos, que constituíam uma classe média alta disposta a gastar. O povo vinha perdendo, aos poucos, a sua capacidade de mobilização desde o final da era de Stálin, nos anos ’50, e é engolido pelo sorvo capitalista.

     Há reações, no entanto. A História oficial omite, mas falou-se, na época, de uma grande batalha naval na região da ilha de Malta, ocasião em que submarinos soviéticos teriam desertado, provocando a derrota do seu país. A marinha destruída, a aeronáutica comprada, o exército vermelho dividido - o povo estupefato assiste à derrocada do regime. Na Praça Vermelha, em Moscou, a estátua de Lênin é derrubada. A KGB ainda tenta reagir, mas é logo silenciada. Não existe mais governo. Gorbachev foi usado e agora é descartado.

     A União Soviética é dividida e abre as portas ao capitalismo. Forma-se a Federação Russa, sob o governo de Boris Yeltsin. Organizam-se máfias e sindicatos do crime. Prospera a corrupção e a desintegração do Estado. O povo começa a comprar e a endividar-se e perde a sua função de agente da História. Aumentam as desigualdades sociais a um grau assustador.

     1989 é o ano em que na Polônia o sindicato Solidariedade, transformado em partido católico, toma o poder. Lech Walessa é eleito presidente da Polônia e some do panorama político depois de cumprir o seu mandato. O muro de Berlim é derrubado e a Alemanha é reunificada. É o efeito dominó. Os demais países sob tutela soviética caem sob a jurisdição do Ocidente, com exceção da Iugoslávia.

     A OTAN invade a Iugoslávia, provocando uma guerra de etnias. Joga sérvios contra croatas. Tropas internacionais da OTAN dominam Sarajevo, Belgrado, Zagreb e outras cidades importantes. A guerra é cruenta. O que os russos não tinham conseguido fazer, a Iugoslávia tenta, sob a direção do então presidente Slobodan Milosevic. Milosevic é caçado, preso e assassinado. A Iugoslávia é destruída e dividida em vários pequenos países.

     Coincidentemente, na mesma época em que a Polônia criava um líder carismático – baixinho, barbudo e capaz de atrair multidões – chamado Lech Walessa, advindo de um sindicato que, depois, se transformou em partido político de direita e que teria como principal objetivo tomar o poder para depois entregá-lo ao Ocidente... Naquela mesma época surge no Brasil, devidamente fabricado por um grupo que se pensava de esquerda, um líder carismático – baixinho, barbudo e capaz de atrair multidões – chamado Lula, oriundo dos movimentos sindicais que deram origem a um partido híbrido chamado PT e que teria, futuramente, o objetivo de tomar o poder e entregá-lo aos Estados Unidos.

     A História não acontece, é construída.

     Em 1989, no Brasil é eleito o primeiro presidente civil, em eleições diretas depois de muitos anos de ditadura militar: Fernando Collor de Melllo. Um presidente de direita. Um presidente eleito pela máquina da mídia, em especial a Rede Globo e tirado pela mesma Rede Globo quando tentou se insurgir contra a máquina que o elegeu. Não poderia ser de outra maneira; os militares não aceitariam um governo de esquerda no Brasil. Poderiam haver eleições, mas jamais um governo socialista. Este foi o acordo implícito que fez os militares voltarem para os quartéis. De resto, era necessário, para que os países dominados pela política norte-americana dessem ao mundo um exemplo de democracia, mesmo que fingida.

     Os Estados Unidos obrigavam, na época, as ditaduras militares que eles mesmos haviam plantado na América do Sul a tornarem-se “democráticas”, ou ditaduras civis, com a participação popular apenas nos partidos e nas eleições, mas não como fator de transformação social.

     As ditaduras militares caíam em toda a América Latina, dando lugar a governos fantoches, dominados pela política dos Estados Unidos. Além do Brasil, voltaram à “normalidade democrática” Argentina, Uruguai, Peru, Chile, Panamá, Paraguai, El Salvador, Guatemala, Bolívia... Quantos mais? América do Sul e Caribe – com raras exceções - continuam dominadas, mas por governos civis, com as suas Forças Armadas por trás. Assim como na Colômbia, que tem 16 bases norte-americanas em seu território – um exemplo de apego aos Estados Unidos.

     A mesma estratégia. Em 1961, Jânio Quadros foi usado e descartado; nos anos ’80 e até 1989 aconteceu o mesmo com Gorbachev, em escala maior, mas não tão maior. Ao dominar o Brasil com governos obedientes, os Estados Unidos acreditam controlar a América do Sul. Não por acaso as Forças Armadas brasileiras estão se rearmando. Tampouco foi por mera simpatia que Lula firmou um tratado militar com os Estados Unidos, em 2010.

     Em breve, tropas serão enviadas para as fronteiras do norte do país, para fazer pressão aos governos ‘desobedientes’ do Equador, Bolívia e Venezuela – sob o pretexto de combate ao tráfico.

     Assim como Jânio Quadros, Mikhail Gorbachev e Lech Walessa, Lula foi usado e tirado de cena. Talvez assuma uma secretária da ONU – uma entidade completamente dominada pelos Estados Unidos; talvez pense em voltar, algum dia, a ser presidente; talvez passe a viver de lembranças, enquanto a História avança – não por coincidência ou acaso.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LOBÃO E OS TRÊS PORQUINHOS (a meiguice na política brasileira)


O governo está preocupado com as reações internacionais contra Belo Monte. As reações nacionais não interessam. Este é um país que vai pra frente, onde a classe média aprende inglês e se pergunta quem vencerá o BBB. Bárbaro buraco besta está sendo escavado no Pará. Feio buraco. Um buraco que vai dar muito dinheiro para poucas empresas e para o governo.

     Há dez processos na justiça que questionam as irregularidades no licenciamento ambiental para Belo Monte e desrespeito aos direitos das comunidades indígenas. Maurício Tolmasquin, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) diz que “Belo Monte é o resultado da participação social local”. E confia na justiça, ou melhor, no Judiciário. O Executivo também confia muito no Judiciário. São poderes unidos. Muito dinheiro vai render Belo Monte. Sobrará para todos.

     O Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que reúne mais de 250 organizações e movimentos sociais, afirma que Tolmasquin mente. Como, de resto, todo o governo:

     “Essa afirmação é mais uma tentativa do governo de tentar fazer com que as pessoas acreditem que esse é um processo participativo, democrático, transparente. É quase uma tentativa de fazer uma lavagem cerebral nas pessoas que estão de fora, que não acompanham o debate” - diz Renata Soares Pinheiro, uma das coordenadoras do movimento.

     Não foi só Dilma que perdeu a sensibilidade feminina. Uma das mulheres do governo de Dilma, a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, foi colocada nesse cargo por dois motivos: por ser mulher e para fazer andar Belo Monte. Sensibilidade fora. Meio ambiente fora.

     Tem um homem, também, chamado Edison Lobão, que é ministro de Minas e Energia, que foi colocado naquele cargo especialmente para fazer acontecer a tragédia. Como ficarão os Três Porquinhos da Dilma com o Lobão por perto?

     Edison Lobão já foi ministro de Minas e Energia do Lula – de 21 de janeiro de 2008 a 31 de março de 2010. 31 de março. Agora voltou. Chefiou o departamento jornalístico da Globo, no Distrito Federal. Muito amigo dos governos. Gente de confiança. De extrema-direita, como sói acontecer.

     Foi da ARENA, PDS, PFL, DEM, e agora PMDB. É maranhense, muito amigo do Sarney. Só poderia ser do ministério da Dilma. Mesmas idéias, mesmo time. A função desse ministro é pressionar o IBAMA para que este órgão conceda o licenciamento para Belo Monte. As pressões já começaram desde o início do ano, quando Abelardo Bayma, que era o presidente do IBAMA, foi exonerado, porque não quis dar o licenciamento para a usina.

     Ainda tem gente de caráter neste país.

     Depois desse fato, foi fácil conseguir um licenciamento parcial com o seu sucessor, que continua sendo pressionado pelo Lobão para que conceda o licenciamento total. Tudo muito hipócrita.

     Como tudo neste governo. É um governo de roupas bonitas, muita maquilagem e voz fina. Às vezes, voz grossa. Como quando a ditadora de plantão, também apelidada de presidente – ou presidenta, como ela prefere – obrigou as suas bancadas na Câmara e no Senado a votar o salário mínimo por ela prescrito.

     Na mesma lei está incluso que o Executivo vai mandar no Legislativo enquanto a senhora presidenta mandar no país. Simples assim. Ficará mais fácil para o Legislativo, porque não terá nada mais para fazer, a não ser aquelas conversas laterais – as Comissões – que não são mais que conversas laterais. Nenhum poder dentro do Poder nenhum.

     Isto, graças ao PMDB, principalmente. Seus votos de cabresto envergonham a sua história. Transformou-se em um partido mercenário. Vota junto com o governo em troca de ministérios, secretarias, etc. Os outros partidos seguem o mesmo ritmo, na esperança de algum ganho.

     Lamenta-se, também, a morte do PDT, que já foi partido de guerreiros, como o Brizola. Agora faleceu. Faleceu mas ganhou um ministério. 

     O PV, de partido verde só tem a cor, já bastante esmaecida. Nem contra Belo Monte consegue gritar. Ficou rouco e pálido. O PSOL ainda grita, mas não tem nenhuma força. Às vezes grita por desespero; outras, apenas para que todos ouçam. Mais nada.

     A extrema-direita continua sendo extrema-direita. PSDB e DEM concordariam com a Lei Dilma para o salário mínimo, desde que fosse 560 e não 545. Uma questão de detalhes. Ainda esperam alguns afagos governamentais.

     Do PT, falar o que? Do Paim, defensor emérito dos aposentados, que tinha anunciado que não iria votar a proposta do governo, e, depois de uma conversa séria com Dilma, voltou atrás? Falar o que do PT?

     Os membros do PT no Congresso não querem correr ou fazer qualquer tipo de exercício. Muito menos Pilates. Já se acostumaram com as costas curvas, o olhar parado e sem cor e os gestos lentos e perdidos.

     A única novidade do PT é que existem três porquinhos no ministério de Dilma e que, segundo a presidenta, chamam-se Dutra, Cardozo e Palloci. Fica a dúvida: são apenas três? Será que a presidenta contou bem ou só consegue contar até três?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O DIA DA PALHAÇADA


Nesta quarta-feira, o ancião Senado Federal deverá referendar o que a esperta Câmara Federal já tinha decidido na semana passada. O salário mínimo de 545 reais para os trabalhadores que conseguem ter carteira assinada, neste Brasil de todos os enganos e todas as perfídias.

     O ridículo é que justamente o PT – que tanto fingiu lutar pelas liberdades democráticas, quando estava apenas fazendo conchavos com os donos do país na época em que foi decidido que a farda seria trocada pela gravata – é o defensor do arrocho salarial, enquanto os partidos ditos de “direita” querem 15 reais a mais para os trabalhadores.

     Além disso, o mesmo Partido dos Trabalhadores que defende uma democracia que somente ele vê, e que deve estar relacionada com os ganhos pessoais dos seus membros e “aliados”, esse mesmo PT que tirou a máscara e mostrou a cara feia da ganância quer que o Congresso Nacional fique atrelado ao Executivo na questão salarial devido a um acordo que o Lula fez com as suas centrais sindicais em 2007.

     Centrais sindicais do governo, monitoradas e patrocinadas pelo governo, que não representam a maioria dos trabalhadores brasileiros e cuja única razão de existir é amordaçar os seus sindicalizados.

     A “direita” – pois não existe direita nem esquerda neste atual Congresso, que mais parece ser formado por robôs que não tem direito nem a usar a própria voz – esperneará durante muitas horas pelos quinze reais a mais, para, ao fim, dar-se por vencida.

     O governo, que se diz de “esquerda”, triturará mais uma vez os trabalhadores em sua máquina de fabricar passivos seres sonambulantes.

     E todos sairão felizes e de braços dados, depois da palhaçada.

     Este é o mesmo dia em que o Lula – o festejado “filho do Brasil” – estará sendo indiciado pelo Ministério Público Federal por mau uso do dinheiro público – e todos sabem que esse indiciamento, mesmo que seja transformado em processo, não dará em nada, porque neste Brasil os poderosos mandam e não pedem e jamais são condenados pelos seus crimes.

     Este é o mesmo Brasil em que gente como o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, manda morrer uma mulher que reclama de suas péssimas condições de vida e a discrimina por ser paraense – e também não acontecerá nada ao referido prefeito, porque ele também faz parte do grupo dos que tem mais e falam o que querem.

     O mesmo Brasil onde no mesmo Pará a presidente Dilma manda cavar um imenso buraco para servir de sepultura a grande parte da fauna e flora da Amazônia - e chama esse buraco de Belo Monte. Buraco que será coberto com água com cheiro de dólar, o perfume preferido dos habitantes do Palácio do Planalto.

     O Brasil inteiro grita contra esse desvario perverso – somente no Pará são mais de 250 associações contra Belo Monte, organizadas dentro do Movimento Xingu Vivo Para Sempre -, o Ministério Púbico entra com ações contra essa anomalia – mas nada acontecerá, porque os gritos do povo nunca são ouvidos e as ações que vem do povo somente são julgadas pelo Judiciário muito amigo do Executivo depois que o crime já foi cometido.

     Mas sobre isso o Congresso continua mudo, como se nada estivesse acontecendo.

     Uma mudez covarde, que diz bem dos que se consideram representantes do povo, mas sabem que representam apenas os seus interesses pessoais.

     E o Congresso Nacional insiste em existir. Seus membros ganham muito para fingirem que estão fazendo alguma coisa. O Congresso é como se fosse uma concessão do Executivo. Somente vota medidas provisórias – sempre as aprovando. O seu poder é um mistério a ser desvendado, talvez por gerações futuras, e os seus caquéticos membros brincam de conversar o dia inteiro.

     São muito bem pagos para usarem uma verborragia triste e irritante; para concordarem eternamente com um governo que só pensa em seus próprios negócios.

     Esta quarta-feira da primeira grande palhaçada do ano vai passar. Já está passando. Mas muitas palhaçadas ainda virão durante o ano – principalmente quando os congressistas resolverem falar ou quando fingirem agir.

     Ao fim do dia haverá futebol. No outro final de semana, carnaval, ocasião em que os congressistas trocarão de fantasia.

     Mas o povo continuará com a sua estereotipada e alugada fantasia de democracia – e drogando-se e bebendo para poder acreditar em suas vestes carnavalescas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A AGENDA GLOBAL


Tudo indica que há uma agenda, que está sendo cumprida em detalhes. A partir do século XXI, a cada início de década, ocorre um acontecimento globalizante que mesmeriza as pessoas e as faz acreditar que elas são as agentes das transformações que estão vendo acontecer na televisão.

     Os organizadores dessa agenda sabem que as pessoas somente podem ser mobilizadas quando pensarem que elas são o motor da mobilização.

     Em 2001, no primeiro ano do século, os atentados ao World Trade Center. Os melhores serviços secretos do mundo foram incapazes de prever e evitar os atentados; a mais bem informatizada e melhor treinada aeronáutica do mundo foi incapaz de derrubar quatro aviões.

     Quando dois desses aviões atingiram os seus alvos – as Torres Gêmeas – somente mataram e feriram funcionários subalternos e as câmeras de TV estavam a postos, esperando os acontecimentos. O que atingiu o Pentágono ainda hoje não se sabe com exatidão, embora as fontes oficiais digam que foi um Boeing. Tudo indica que foi um míssil, coincidentemente no lugar do Pentágono onde estavam sendo feitas reformas. O quarto avião sumiu dos radares quando se encaminhava para a Casa Branca.

     No mesmo dia, George W. Bush declarou guerra ao Islã. 2001 foi o ano em que o ocidente, através dos Estados Unidos, declarou guerra a uma religião. Invadiram o Afeganistão e o Iraque, mas a guerra está dirigida contra todos aqueles que professam a religião muçulmana. Basta ser muçulmano para ser suspeito. “Encontraram” um Osama Bin Laden - até então grande amigo da família Bush nas suas transações de petróleo e na guerra contra a ex-União Soviética – como o autor intelectual dos atentados. Fontes bem informadas dizem que Bin Laden estaria morrendo por aqueles dias, vítima de males crônicos, em um dos hospitais guarnecidos pelos Estados Unidos, no Paquistão.

     Usaram o nome da Al-Qaeda – uma organização guerrilheira patrocinada pelos Estados Unidos quando da invasão da União Soviética ao Afeganistão – para ser a responsável pelos atentados em 2001 e, atualmente, pelos males do mundo. Tudo devidamente esquematizado.

     E declararam guerra ao Islã. Significa que declararam guerra a todos os países, mesmo os supostamente aliados, que tem governos que professam a religião muçulmana. O interesse é acabar com uma grande religião que domina grande parte do Oriente Médio e da África. As invasões do Afeganistão e Iraque obviamente foram para rapinar petróleo e gás. Mas não somente.

     O mais importante é enfraquecer o islamismo a tal ponto que os países muçulmanos passem a orbitar em torno da ideologia capitalista ocidental, abrindo novos mercados para empresas multinacionais e enfraquecendo o Islamismo a ponto de separar a religião do Estado nos países muçulmanos. É uma estratégia a médio e longo prazo.

     No Iraque, tiraram a maioria sunita do poder e os jogaram contra a minoria xiita, aliada dos Estados Unidos. E colocaram no poder um governo xiita. Isso fez com que a maioria sunita passasse a atacar os xiitas colaboradores dos invasores.

     O mesmo está sendo tentado no Afeganistão, onde a guerrilha Talibã é sunita. Se as tropas dos Estados Unidos e aliados vencerem ali, colocarão um governo xiita. Dividir para governar.

     Já no Irã é o oposto. A Revolução Islâmica, que derrubou o Xá Rheza Pahlevi, aliado dos Estados Unidos, instaurou um governo teocrático de maioria xiita.

     E lá a estratégia está sendo a de instigar o povo contra o governo através das redes sociais.

     Apesar de ser um regime fundamentalista, que defende as verdades do Corão, a heterodoxia da vertente xiita faz com que alguns costumes não sejam tão severos e a classe média alta do Irã tem revelado simpatia pela orientação capitalista ocidental. O relaxamento de costumes e da moral até então reinante é o primeiro passo para a desagregação de um povo. E um povo desagregado é fácil de ser dominado por potências estrangeiras. Veja-se o Brasil, como exemplo.

     Mas é uma guerra contra o Islã. Por vários motivos. Um deles é que o Islamismo torna os povos coesos em torno dos seus governos, evitando a penetração de maléficos hábitos ocidentais e impedindo que novos mercados sejam abertos para que as grandes empresas transnacionais possam vender os seus produtos.

     Outro, é Israel. Enfraquecendo-se a força árabe, fortalece-se a força de Israel. E Israel é um enclave ocidental em pleno Oriente Médio.

     Outro motivo, e talvez o mais importante. É óbvia a tentativa de instauração de um governo mundial. No ocidente, esse governo mundial já existe – apesar da resistência de alguns países latino-americanos. A China está sendo cooptada aos poucos. Com exceção de Coréia do Norte e Vietnã, o extremo oriente é dominado pelo capitalismo ocidental; a Europa está unida pela ditadura do euro; A Rússia é um país confiável; os demais países eslavos aceitam trocar as suas riquezas por tecnologia; a Índia e o Paquistão são aliados do ocidente.

     Restam os países muçulmanos, onde a mentalidade é outra, com outra visão de mundo, graças à religião islâmica. Então, declarou-se a guerra ao Islã. Faz parte da Agenda, liquidar – custe o que custar – com a religião islâmica. Também faz parte da Agenda, além de um mundo unificado, uma única língua e uma única religião. E essa religião não será o Islamismo ou o Cristianismo.

     O Cristianismo, principalmente a religião Católica Romana, já está sob fortes ataques, desde o início do século. Aliás, a cristandade começou a ser dividida na Idade Média, mas resta aquele baluarte que se chama Vaticano. Não se pode criar uma religião mundial com um Papa católico sendo adorado como um deus por milhões de pessoas, mas pode-se tentar desmoralizar essa religião para que milhões de pessoas passem a desconfiar de sua credibilidade.

     É o que está sendo feito. Primeiro, os ataques literários, para balançar a classe média e pequena burguesia católicas. Dan Brown e outros fizeram o seu papel. Os livros maçônicos e “templários” multiplicam-se. Uma espécie de neo-paganismo pede passagem. Indícios da nova religião, que traz em si um vale-tudo nos costumes e uma desorganização moral total. E é no aspecto moral que agora atacam o Vaticano, com as inúmeros denúncias de pedofilia. É uma pressão constante e o Vaticano está cedendo, pouco a pouco, em todos os seus restantes princípios religiosos.

     No entanto, entre os muçulmanos é bem mais difícil. Então, a guerra.

     No início desta segunda década do século XXI, a guerra contra o Islã mostra outras faces. A Internet, que vem sendo aperfeiçoada aos poucos para servir de arma de ataque capitalista, foi posta em prática com êxito. É claro que não sozinha.

     Há grupos, que se dizem "ativistas", que participam dessa política da direita internacional, mobilizando as pessoas desinformadas que querem urgentemente participar de alguma coisa - principalmente a juventude.

     Se observarmos que as grandes empresas de comunicação - como Globo, CNN e semelhantes - estão participando ativamente na incitação dessas "revoluções", perceberemos que há algo de errado. E esse tipo de propaganda influencia diretamente da mente dos internautas desavisados, geralmente de classe média e que gostariam muito de ser revolucionários através dos seus computadores. A grande rede existe para isso - para pegar peixes.

     Cabe lembrar que a guerra cibernética é uma antiga ideia do sistema. Por exemplo, Cuba já está sendo alvo, há muito tempo, da ação de blogueiros pagos por Wall Street e treinados pelas agências não tão secretas norte-americanas. O mesmo acontece no Irã.

     M. H. Lagarde, em sua matéria "Guerra Cibernética Contra Cuba", revelou que em 19 de abril de 2010, no Instituto George Bush e com o patrcínio da Freedom House, ocorreu um evento intitulado "Cyberdissidentes: Êxitos e Desafios".

     Na ocasião, estiveram presentes blogueiros do mundo inteiro, pagos por Washington, conforme ele cita:

     "É o caso de Rodrigo Diamant, da organização Futuro Presente, da Venezuela; Arash Kamangir, do Irã; Oleg Kozlovsky, da Russia; Isaac Mao, da China e Ahed Alhendi, da Síria. Ernesto Fernandez Busto, um blogueiro de origem cubana radicado em Barcelona e que acaba de publicar uma declaração exortando aos dissidentes cubanos a não envergonhar-se de receber o dinheiro que lhes envia o império, foi o representante de Cuba. Depois disto, não resta a menor dúvida de onde surgiu e com que fins foi inventada a blogosfera contra-revolucionária cubana, onde sobressaem, além do convidado Bustos - editor do blog Penúltimos Dias - outros blogueiros mercenários como Yoani Sanchéz."

     Através da mobilização das redes sociais – twiter e facebook, principalmente – a classe média e pequena-burguesia pensou fazer revoluções na Tunísia e no Egito, e tenta sublevar o restante do norte da África islâmica. Por enquanto, o teste está sendo feito na África do norte.

     São revoluções sem causa, sem partidos políticos, sem idéias e sem ideologia. E isso não tem nada a ver com a entrada do século 21 ou da segunda década deste século, como tentam dar a entender alguns articulistas do sistema. Naqueles países, de segundo e terceiro mundo, quem tem acesso à Internet ainda é a pequeno-burguesia e classe média alta. O povo de verdade apenas assiste. E trabalha.

     Aqueles golpes de estado, patrocinados pelos Estados Unidos, que mantém a sua Quinta Frota de plantão nas costas da África do Norte, no mar Mediterrâneo, não tem nada a ver com revolução popular. Antes, são trocas de guarda. E experiências tecnológicas, assim como experiências sociológicas. 

     Os donos do mundo querem ver até que ponto os seus aliados das classes mais altas podem ser manipulados e mobilizados rapidamente. E quando Obama disse que estava chateado, porque os seus serviços secretos não lhe tinham avisado nada sobre a “revolução” no Egito, foi a piada do ano - por enquanto.

     A experiência deu certo; e agora eles sabem que podem mobilizar pessoas das classes mais altas e da alienada classe média em qualquer país do mundo. E mesmo os governos aliados tremem. Tremem tanto, que são os próprios governos aliados que foram derrubados, na Tunísia e no Egito. 

     Derrubados é dizer demais. Os ditadores abandonaram o poder, foram descansar e rir sozinhos em alguma praia paradisíaca e as Forças Armadas ficaram nos seus lugares. Nada mais justo. Forças Armadas e ditaduras de direita tem tudo a ver. 

     Em nome do que chamam de rodízio no poder, que é o apelido atual de democracia, brevemente farão eleições e colocarão presidentes de mais confiança e inteira e servilmente fiéis ao sistema. Como os anteriores, mas o rodízio no poder é uma maneira de oxigenar o que já está estabelecido.

     Governos que poderão ajudar a derrubar o único verdadeiro inimigo, naquela região, que é a Líbia. Depois será a vez do restante do Oriente Médio. Com Israel lá dentro, apoiando.

     É assim que eles pensam, e assim traçaram a sua Agenda e desejam cumpri-la. Mas não é assim que necessariamente tenha que acontecer. A História não é linear e até as guerras mais bem planejadas, às vezes, não dão certo. O tiro pode sair pela culatra e os povos realmente oprimidos – como os palestinos - poderão aproveitar a deixa para uma revolta geral.

     Mesmo com todo o poder do mundo e com o auxílio de forças espirituais negativas, os construtores dessa agenda globalizante poderão ver os seus objetivos ir por água abaixo no instante em que – como em uma partida de Xadrez – o adversário que aparentemente estiver perdendo fizer um sacrifício inesperado e der o xeque-mate.

     Eles querem o domínio e controle absoluto de todo o mundo. Mas o mundo é como a Natureza: somente poderá existir enquanto houver diversidade. De hábitos, costumes, ideologias, povos, países, línguas e religiões. E nessa diversidade consiste a liberdade.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

CHUVA PEQUENA


O rumor das águas
Que me submerge
A sentir caminhos,
Desvendar lugares,
Penetrar desvãos,
Recolher-me em nichos,
Espreitar segredos,
Espiar meus sonhos
Que deixei vagar
Ao sabor das águas,
A correr tão dentro
Num sentir profundo
De chuva pequena
A se espraiar,
Penetrar raízes,
Ir além da terra
E do rumorejar,
Buscar no silêncio
A noite que veste
Seu disfarce pó...


O fingir-se pó,                            
Embriagar-se em tempo,
Enfeitar-se em caos,
Desfazer-se em nadas,
E deixar vagar
Ousar enfrentar,
Com a calma dos sonhos,
Lucidez perfeita,
A profunda ausência
De supostos eus
Sempre a insinuar,
A buscar guarida,
No rumor das águas,
Indefiníveis águas,
Que me submergem
Num sentir profundo
De chuva pequena
A buscar silêncio
Na noite que veste
O disfarce pó...

O sentir-se pó,                
Inevitável pó,
Desvendar a terra,
Inefável terra,
Transformar-se em seiva
E fazer brotar
A força da vida,
Infinita vida,
Disfarçada em verdes,
Tão suaves verdes,
E todas as cores,
Um fremir de cores
A dançar no olhar...

E deixar-se estar,      
Como a mergulhar,
Ou desabrochar,
Somente existir
Sem se perguntar,
Só o devanear
De saber-se pó,
Tão vibrante pó
A se enlanguescer
Ao sorver da água,
Tão sublime água,
No seu toque tímido
De chuva pequena
Ou no seu jorrar
De chuva extrema,
Em breve infinito,
Em leve infinito
A deixar-se amar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

PARA QUE CONGRESSO?




O Congresso Nacional deveria ser fechado.

     Não por causa da aprovação do salário mínimo por decreto. Isto era sabido. Quem pode viver com salário mínimo? Não se trata apenas da comida, das cestas básicas. Mas as pessoas tem que viver. Precisam de moradia, dinheiro para pagar os mais altos impostos do mundo, escola, saúde... E todos sabem que escola, habitação, saúde e alimentação não são possíveis apenas com a propaganda do governo. Muito menos com o salário mínimo. Sem falar em diversão e lazer.

     Todos são iguais perante a lei, mas somente perante a lei.

     O salário mínimo nasceu com Getúlio Vargas, como parte de suas leis trabalhistas. Naquela época, não existia nem o mínimo. Os empresários, latifundiários, comerciantes, etc., pagavam o que queriam aos seus empregados. Foi por isso que aboliram a escravidão – para poderem ter mão de obra quase de graça, sem gastar com moradia e alimentação.

     Mandavam os paulistas, os cariocas e os mineiros; foi necessário um advogado gaúcho para lembrar aos trabalhadores que eles também tinham direitos e deveriam reivindicá-los.

     Hoje, voltaram a mandar os paulistas, cariocas e mineiros e os demais estados voltaram a obedecer. Resultado do golpe de 1964, que cumpre a sua segunda etapa com os governos civis de direita, desde 1989.

     O povo pensa que isto é democracia, mas o povo não pensa. Existe toda uma mídia aliada ao poder para fazê-lo não pensar. O povo desconfia que não está tudo bem, mas sempre há um jogo de futebol nas quartas-feiras e outro nos domingos para aliviar a pressão. E as novelas, que mostram um mundo ideal. Na dúvida, as centrais sindicais dizem que democracia é assim mesmo e o povo resmunga e rumina as suas dúvidas em silêncio, porque ninguém quer perder o seu emprego.

     O salário mínimo existe apenas para segregar as pessoas. Quando João Goulart deu 100% de aumento aos trabalhadores como Ministro do Trabalho durante o segundo governo de Getúlio, em 1953, teve que renunciar.

     Quando João Goulart foi eleito vice-presidente, em 1958, primeiro golpearam o presidente Jânio Quadros e tentaram impedir Jango de assumir o governo. Como houve ameaça de guerra civil, Jango pode assumir com poderes restritos em um fabricado governo parlamentarista, onde o eterno mediador entre militares e civis, Tancredo Neves, era o primeiro-ministro. João Goulart convocou um plebiscito em 1963 e o povo disse que o queria como presidente. Em 1964 foi golpeado. Morreu em 1975, mas há rumores de que tenha sido envenenado, por ordem da CIA, para evitar a sua volta ao Brasil.

     Quem vive apenas com salário mínimo, no Brasil de hoje, não consegue sobreviver. Principalmente se tiver família para sustentar. Acaba caindo na marginalidade, ou fazendo “bicos” os mais diversos e estranhos para poder levar cada mês até o fim.

     545 reais por mês é uma piada. Dizem os governistas e seus aliados que equivale a 300 dólares, mas 300 dólares bastante inflacionados. Para a saúde existe o SUS, mas todos sabem o que é o SUS. O governo fornece as farmácias populares e dá alguns remédios de graça. Mas não aceita dar um salário mínimo que dê condições para uma família sobreviver com boa alimentação, evitando as doenças. Quem vive somente com salário mínimo é um escravizado, mesmo que coma somente em restaurantes populares. Não tem opções de vida.

     Os congressistas, que ganham enezilhões a mais que os simples trabalhadores, não se importam com isso. Tampouco o Judiciário ou o Executivo. Formam um mundo à parte e ainda acreditam que os trabalhadores existem para serem escravizados, mental e fisicamente.

     O Congresso deveria ser fechado, ou extinguir-se de pura vergonha. Perdeu a sua razão de ser, que é a defesa os direitos do povo que o elegeu. Além disso, é um Congresso completamente entregue ao Executivo, que é quem dita as suas normas. Um Congresso sem força alguma. E um Congresso sem oposição. A oposição que existe é necessária para que o regime de governo pareça ser uma democracia. De fato, vivemos uma ditadura. Uma ditadura eleita pelo povo, mas ditadura.

     Para que Congresso?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O BRASIL MÍNIMO


Esperam-se grandes manifestações nas ruas das principais cidades do país, depois da aprovação do salário mínimo de R$545,00 pela Câmara Federal. Os deputados seguiram ordens da presidente Dilma e do partido do governo, que ainda leva o nome de “Partido dos Trabalhadores”, para aprovar o mínimo salário para os que tem emprego com carteira assinada no Brasil.

     Os que protestaram e votaram contra as ordens do governo não são membros do partido do governo e não pertencem à “base aliada” - um nome muito usado para se referir aos partidos aliados do partido da presidente e que ajudaram a eleger Dilma Roussef em troca de ministérios, secretarias, cargos de confiança e outras prebendas. Enfim, foram comprados de todas as maneiras democráticas conhecidas.

     Assim, esses partidos que demonstraram a sua inconformidade e não votaram no salário mínimo imposto pela presidente, o fizeram como protesto por não estarem participando dos lucros da grande empresa conhecida como “governo”, no Brasil.

     Não? Não é assim? Não haverá grandes manifestações nas ruas do país? Em que ano estamos? 2011? Ato falho. Pensei que ainda estivéssemos no início dos anos ’60, quando os trabalhadores tinham vontade própria e sabiam reivindicar os seus direitos. Por isso – ou também por isso – deram o golpe no governo de Jango. Naquela época havia comícios. Hoje os comícios estão proibidos até em época de eleição.

     E os trabalhadores não saem às ruas, protestando. Nem sabem mais o que é isso. No máximo, os trabalhadores vão beber nas ruas e discutir sobre futebol. É tudo o que é permitido pelo estado democrático. Perderam a sua força vital. Estão atrelados a grandes sindicatos que, por sua vez, estão atrelados, indexados, de mãos dadas com o governo democraticamente repressor. E os grandes sindicatos dizem aos trabalhadores que não devem protestar; devem aceitar tudo de cabeça baixa e ainda agradecer por terem um salário, num país que tem quase 11 milhões de desempregados.

     No entanto e apesar disso, os partidos poderão mobilizar grandes massas... Também não?! Mas que coisa... Quer dizer que os partidos, mesmo os que se dizem trabalhistas, também perderam a sua força vital? E o PCB? Ah... Está em constante reunião e lançará um manifesto brevemente... Sei... O PC do B? Depois da guerrilha do Araguaia nada mais fez senão beijar os pés dos governantes - é isso? E agora beija os pés também dos latifundiários e ruralistas? O tempora, o mores!

     Então o Brasil virou o que? Será que nem os cortadores de cana se revoltam? Não? Porque estão escravizados? Porque são submissos demais? Porque perderam a coragem e a força, como os trabalhadores que tem carteira assinada? Mas são todos covardes neste país? Ou vendidos e corruptos? São?! Dio mio!

     Então é mesmo o que me disseram... Este é um país de sorridentes carnavalescos e carnavaliados e acanalhados, que tem medo até de sorrir errado... “Triste Bahia/Ó quão dessemelhante...” – como escreveu o Caetano.

     Mas deve, ao menos, haver uma juventude atuante, lutando contra esse estado de coisas, ansiosa por transformar este país... Também não?! A classe média está imersa em celulares e Ipads, pensando que o mundo é virtual? E os jovens do povo? Magnetizados pela televisão, hipnotizados pela propaganda do governo, dominados pela ânsia de alcançar um nível social em que possam consumir cada vez mais, como fazem os jovens burgueses? Ansiosos por carros, motos, dinheiro fácil no bolso, consumo e tráfico de drogas? Não dão a mínima para o trabalho?

     Ou se prostituem... Há tantas maneiras de prostituição... Seguem o exemplo dos políticos, entendo... Que são os primeiros que se vendem, os primeiros a dar o exemplo da prostituição legalizada...

     Mas ainda temos os índios, com certeza, os indígenas, os nativos, os verdadeiros donos desta terra! Morreram todos ou quase todos? Restam alguns em alguns lugares, desprezados, atirados em reservas e quando reagem contra a invasão das suas últimas terras são mortos?

     Mas o que resta do Brasil, então? Um governo vendido, um Congresso vendido, um povo vendido? Terras desmatadas e inundadas... O território sendo entregue aos bancos e às multinacionais...

     Não, não quero ir embora pra Pasárgada. Não sou amigo do Rei, nem gostaria de ser. Desconfio que o meu Brasil diluiu-se em samba. Um samba industrializado, sem breque ou paradinha. Um samba formalizado, apatetado, ladeira abaixo em direção ao lixão, em direção à vala comum dos zumbis cercados de moscas e de corvos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O SECRETO PROTESTO DOS INTELECTUAIS CONTRA BELO MONTE



Disseram-me que os Intelectuais vão protestar, sim, contra Belo Monte. Estariam se preparando para um grande protesto. Não só um abaixo-assinado, talvez até uma marcha para o local do floresticídio.

     ‘Marcha’ é força de expressão. Perdoem-me. A demora é porque alguns estariam preparando os seus aviões particulares; outros estão com a solene dúvida se irão com os seus carros ou de ônibus. Provavelmente escolham ônibus. É mais povo. E “todo artista tem que saber aonde o povo está”1 – uma frase célebre que revela que artista não é povo. O povo agradece, penhorado.

     E quando escrevo ‘intelectuais’, por favor, entendam que estou a me referir àqueles incensados pela mídia – que eles fingem desprezar – e, muitas vezes aliados do sistema – que fingem repudiar.

     Poderiam ser chamados de intelectuais endêmicos ao biossistema governamental. Mas existe vida no sistema governamental? Ou, ao menos, amor pela vida? A insistência com a construção de Belo Monte parece ser uma coisa mais vampiresca do que humana. E depois, a frase acima – “intelectuais endêmicos...” – está me cheirando a coisa de intelectual. Vamos deixar por intelectuais orgânicos do governo. Fica mais simples e mais objetivo. Aqueles intelectuais que ficam sempre à volta dos governos – sejam quais forem os governos. Conseguem empregos pra um e pra outro, às vezes jogam futebol com presidentes e presidenciáveis... Gente boa... Com um intelecto!

     Fico imaginando quem teria inventado a palavra “intelectual”... Deve ter sido alguém que se considerava tão superior, mas tão superior aos demais seres pensantes que considerou urgente encontrar uma palavra que indicasse, desvelasse a sua suprema inteligência – atribuindo-a a todos aqueles que considerava tão superiores quanto ele. Talvez um dicionarista.

     Daí, para se formar a expressão “classe intelectual” foi um passo. Todos os escolhidos adoraram.

     Pois os intelectuais estão se organizando para protestar contra Belo Monte. Secretamente, como convém. Como vocês sabem, intelectuais fazem tudo meio escondido, com olhares significativos e sorrisos esfíngicos. Inclusive, produzem em segredo. Porque intelectual não trabalha: produz.

     Essa notícia chegou lá do Maranhão – onde mora o Sarney - o dono do Senado e da Academia Brasileira de Letras. Veio chegando devagarzinho, como quem não quer nada, na sua tênue timidez de notícia quase secreta. Bateu na porta, aqui em casa, eu abri e ela disse:

     - Eu sou uma notícia que vem lá do Maranhão.
     - Você tá me parecendo é um pedaço de letra do Milton Nascimento.
     - É que eu não posso demorar...
     - Pois não demore.
     - Os intelectuais... Belo Monte...
     - Entendi.
     - Era só isso. Não espalhe.
     - Claro.

     Foi-se. Sabe-se lá para onde. Pareceu uma notícia fofoqueira, dessas que batem de porta em porta.

     Mas fiquei feliz. Os intelectuais e não só o Sarney, nem apenas o Milton... Quem sabe até o Chico! Fiquei feliz que nem lambari em dia de chuva calma.

     Pensei: “Eles estão percebendo que devem não só pensar e escrever e sabe-se mais o que... Mas participar do mundo que os cerca. Não ficarem como ostras fechadas que acreditam que guardam uma pérola e que o seu mundo é somente em torno dessa pérola...”

     E assim fiquei divagando por um bom tempo até me dar conta que os intelectuais deveriam ainda estar se organizando.

     Aí desesperei! Intelectual, quando resolve se organizar para alguma ação que não seja o bebericar do fim de tarde, leva anos. Ficam analisando prós e contras; tese, antítese e síntese... O que Proust pensaria; o que Nietzsche diria... Quantas calças de brim devem levar, como estará o clima no Pará, quantos shoppings devem existir em Belém, e, principalmente, o que a Dilma diria caso eles realmente fizessem algo contra Belo Monte – mesmo que fosse um simples manifesto...

     Se for um manifesto devem deixar claro para a sua presidente que não é nada pessoal, é só coisa de intelectual...

     E poderia ser assim:

     “Querida companheira e irmã de lutas renhidas.

     “Viver é lutar e estamos juntos com a companheira em todas as suas lutas, mas há algo que nos entorpece as noites e nos faz pensar menos. Chama-se Belo Monte.

     “Será que a companheira poderia, ao menos, adiar por alguns meses a escavação daquele buraco de 500 quilômetros quadrados que será tomado e coberto pelas belas águas do Xingu? Pelo menos, até baixar a poeira?

     “Atenciosamente.

     “Os Intelectuais.”

     Seria um texto simples e honesto.

     Não. Os intelectuais são intelectuais e agirão como intelectuais. Organicamente. Se eles escrevessem algo como o texto acima, não teriam mais a confiança do governo e isso os faria perder empregos, favores especiais, desesperar. Não apareceriam mais na mídia. E não aparecer na mídia é terrível para um intelectual.

     Mais fácil, mais intelectual e mais estratégico será um forte protesto – com choro, ranger de dentes, buzinas e bater de címbalos – logo após a construção da hidrelétrica.

     Todos reconhecerão que até os Intelectuais ficaram indignados com a mortandade dos bichos da floresta, com a devastação da natureza. Mas será fato consumado e eles continuarão amigos da Dilma e favorecidos pela mídia.

     Enquanto isto, enquanto as escavadeiras já estão lá no Xingu, devastando e triturando tudo o que encontram pela frente, graças ao IBAMA da Dilma, que deu uma licença espúria para liquidar a floresta e tudo o que existe dentro dela, e enquanto o Brasil inteiro geme por outras fúrias, os intelectuais se preparam – lenta e secretamente – para o seu histórico protesto.

     Uma dúvida cruel acelera as suas mentes em constante crescimento (além do “ser ou não ser”): antes ou depois?

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1 - Verso de Milton Nascimento.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O PT É DE ESQUERDA!


Enquanto a direita dava um golpe na direita, lá no Egito, com o apoio dos Estados Unidos e das Forças Armadas do próprio Egito, e prepara-se para novos golpes via internet - porque a estratégia facebook, twiter e outras engenhocas deu certo para a classe média egípcia, que pensa estar fazendo uma revolução - Lula esteve no Fórum Social Mundial, em Dakar, Senegal.

     Acostumado com Davos – aquele Fórum Econômico Mundial que se reúne na mesma época do Fórum Social – e sua linguagem restrita, onde os grupos dos muito ricos avisam para os governos do mundo inteiro como deve ser a política econômica durante o resto do ano, Lula meio que se confundiu: foi contra o aumento do salário mínimo no Brasil. Mesmo assim foi aplaudido.

     Todos aplaudem Lula aonde quer que ele vá e diga lá o que diga. É um hábito, no mundo inteiro. O Lula aparece e as pessoas já se preparam para aplaudir. É como aqueles palhaços que quando surgem as pessoas já começam a rir antes que façam palhaçadas. Reflexo condicionado.

     Lula exaltou o Fórum Social e criticou Davos – para onde irá, na semana que vem, receber ordens e orientações. Fez do Fórum Social Mundial um palanque e elogiou o próprio governo de oito anos. E o público aplaudindo. Chegou a dizer – pasmem! – “Nós ensinamos ao mundo como é que uma força de paz deve agir. É motivo de orgulho a quantidade de brasileiros que querem se inscrever para ir até o Haiti.”

     E o público aplaudiu essa tolice gigantesca. No Haiti, o exército brasileiro está às ordens do exército dos Estados Unidos para o que der e vier. Como sempre esteve, desde 1945, ou pouco antes. Desconfia-se que o Fórum Social Mundial não seja o mesmo: cada vez menos social e menos mundial.

     O ministro-chefe da secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com todo esse título pomposo também esteve lá, provavelmente para fazer propaganda do seu governo. Envolveu-se em um debate – o que talvez não esperasse – e disse a seguinte pérola: “O governo do PT não é socialista, mas é de esquerda”. Uma confissão interessante.

     Todos já sabiam que o governo do PT não é socialista, mas a afirmação de que é um governo de esquerda foi surpreendente. O ilustre ministro-chefe, etc., baseou a sua afirmação no fato de que o governo do PT segue, em parte, a Constituição, dando mesadas ao povo mais faminto. E considera que isso é ser de esquerda.

     É claro que ele não citou Belo Monte e os continuados casos de corrupção em muitos setores do governo Lula (e no governo Dilma é uma questão de tempo, a continuar o mesmo ritmo).

     Vou lembrar de alguns:

     - Caso Celso Daniel. Assassinato do prefeito de Santo André, em 2002. Sete testemunhas morreram em circunstâncias misteriosas. A família pressionou as autoridades para que o caso da morte do prefeito fosse reaberto. Em 5 de Agosto de 2002 o Ministério Público de São Paulo solicitou a reabertura das investigações sobre o sequestro e assassinato do prefeito. Em Agosto de 2010 a promotora Eliana Vendramini, responsável pela investigação e denúncia que apura o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, sofreu um estranho acidente automobilístico em uma via expressa de São Paulo. O veículo blindado e conduzido pela promotora, capotou três vezes após ser repetidamente atingido por outro automóvel, que fugiu sem prestar socorro.

     Há a hipótese de crime político. O irmão de Celso Daniel, João Francisco alega que Celso Daniel, quando era prefeito de Santo André, sabia e era conivente de um esquema de corrupção na prefeitura, que servia para desviar dinheiro para o Partido dos Trabalhadores. O suposto esquema de corrupção envolvia integrantes do governo municipal e empresários do setor de transportes e contava ainda com a participação de José Dirceu. Zé Dirceu foi inocentado recentemente, pouco antes de assumir um dos ministérios de Dilma.

     - Caso José Eduardo Dutra. O senador José Eduardo Dutra foi acusado de envolvimento na violação do painel eletrônico do Senado no episódio da cassação de Luiz Estevão. A denúncia questionava o fato de Dutra ter afirmado que ouvira boatos sobre a violação. A partir de um parecer da Advocacia Geral do Senado, o conselho de ética do Senado decidiu arquivar a denúncia por falta de evidências. José Eduardo Dutra é o atual presidente do PT.

     - Caso Benedita da Silva. Foi governadora do Rio de Janeiro. Deixou o Governo sob polêmica após usar recursos públicos em um evento religioso na Argentina. Devolveu o valor das diárias e das passagens após o caso ser divulgado pela imprensa.

     - Escândalo dos Bingos. O escândalo dos bingos é o nome de uma crise que surgiu em Fevereiro de 2004, após denúncias de que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil José Dirceu, estava extorquindo empresários com a finalidade de arrecadar fundos para o Partido dos Trabalhadores. O escândalo veio à tona após a divulgação de uma gravação feita pelo empresário lotérico (bicheiro) Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. A gravação mostra Cachoeira sendo supostamente extorquido por Waldomiro Diniz.

     - Escândalo do Mensalão. Escândalo do mensalão, escândalo ocorrido em 2005 no governo Lula e que causou indiciamento no STF de 40 políticos, entre eles José Dirceu. Também conhecido como mensalão do PT.

     - Escândalo dos fundos de pensão. O escândalo dos fundos de pensão foi um entre os muitos escândalos que eclodiram durante a crise do Mensalão, no governo brasileiro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele veio à tona depois das denúncias feitas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, originalmente criada para investigar denúncias de irregularidades na estatal Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Nos primeiros depoimentos para esta CPI - que ficou conhecida como CPI dos Correios - foram feitas denúncias de que algumas instituições financeiras estariam recebendo investimentos de entidades privadas de previdência complementar (fundos de pensão) através de um esquema montado pelo empresário Marcos Valério.

     - Escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa.

     Francenildo é um caseiro que obteve notoriedade ao dizer publicamente ter visto o então Ministro da Fazenda Antonio Palocci freqüentar habitualmente uma determinada mansão em Brasília, coisa que o ministro negava com veemência perante a opinião pública e a imprensa.

     No local, conforme narrou Francenildo, teriam ocorrido reuniões, churrascos e festas com a presença de garotas de programa, das quais participavam o ministro (que, segundo o caseiro, tinha o apelido de "Chefe") e os seus ex-assessores da prefeitura de Ribeirão Preto, com o suposto objetivo de se fecharem negócios considerados suspeitos e procederem à divisão do dinheiro relativo a tais negócios.

     Aos depoimentos de Francenildo perante a imprensa e a Polícia Federal seguiram-se um polêmico indiciamento por lavagem de dinheiro (já arquivado), tido por certos analistas como meio velado de pressão do governo do PT sobre uma testemunha julgada perigosa, além da muito comentada quebra do sigilo bancário do caseiro, que divulgou para a Revista Época extratos bancários sigilosos nos quais constavam certos depósitos em dinheiro. Aventou-se que tais recursos poderiam ter sido pagos ao caseiro pela oposição ao governo federal, mas logo após foi esclarecido que o dinheiro vinha do pai biológico de Francenildo.

     Os testemunhos de Francenildo e o envolvimento direto de Antonio Palocci e de seus assesores na quebra do sigilo bancário do caseiro foram a principal causa da demissão do mesmo, no dia 29 de Março de 2006. No episódio, também perdeu o cargo o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, tido como co-responsável pela quebra do sigilo. Palocci foi inocentado e é um dos principais ministros de Dilma.

     - Escândalo dos Sanguessugas.

     O Escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como máfia das ambulâncias, foi um escândalo de corrupção que estourou em 2006 devido à descoberta de uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro para a compra de ambulâncias. Entre seus principais envolvidos estavam os ex-deputados Ronivon Santiago e Carlos Rodrigues.

     O caso daria origem, no mesmo ano, ao escândalo do Dossiê, em que integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) foram presos em flagrante pela Polícia Federal comprando, com 2 milhões em dinheiro vivo, um dossiê que revelaria a suposta participação de políticos do PSDB no esquema, entre eles o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, e o candidato à presidência da república Geraldo Alckmin.

     - Escândalo do Dossiê.

     O Escândalo do Dossiê ou Escândalo dos Aloprados, entre outros nomes, são as alcunhas pelas quais se chama a repercussão da prisão em flagrante, a 15 de setembro de 2006, de integrantes do PT acusados de comprar um falso dossiê, de Luiz Antônio Trevisan Vedoin, com fundos de origem desconhecida. O dossiê acusaria o candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PSDB, José Serra, de ter relação com o escândalo das sanguessugas. O plano seria prejudicar Serra na disputa ao governo de São Paulo, para destruir em nível nacional o PSDB e ajudar o PT eleger o senador Aloizio Mercadante como governador naquele estado.

     - Escândalo dos cartões corporativos.

     O escândalo dos cartões corporativos foi uma crise política iniciada em 2008 após denúncias sobre gastos irregulares no uso de cartões corporativos. Os cartões foram instituídos em 2001 mas só entraram em funcionamento no ano seguinte para uma maior transparência e rapidez em gastos emergenciais. O problema do cartões corporativos é estrutural, pois o sistema que deveria ser usado para despesas pequenas e urgentes vem sendo usando para dispensar licitações e dar mimos aos governistas. Dos 150 cartões corporativos, o Portal Transparência, site oficial do Governo Federal, só divulgou os dados de 68 cartões.

     - Operação Santa Teresa.

     A Operação Santa Teresa da Polícia Federal foi deflagrada para desmontar um esquema de corrupção envolvendo a liberação de recursos do BNDES que pode ter beneficiado em torno de 200 prefeituras. Alguns presos na operação: Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho, advogado, indicado pela Força Sindical para o conselho do BNDES. João Pedro de Moura, amigo do deputado Paulinho.

     - CPI da ONGs.

     A CPI das ONGs é o nome dado para investigações sobre repasses de dinheiro ocorridos no primeiro mandato do governo Lula (entre 2003 e 2006) para ONGs ligadas tanto ao governo federal como ao Partido dos Trabalhadores (PT), e à oposição.

     Tem mais, mas cansei de dar exemplos de corrupção do PT e seus aliados. Também existiram muitos casos de corrupção nos outros partidos de direita, como DEM, PSDB, etc.

     A direita é assim. Carente de ideologia, a não ser a ideologia do individualismo, atira-se ao dinheiro do povo como ratos ao queijo. E uma das características da direita é a corrupção desenfreada. Principalmente se tiver um Judiciário que garanta a impunidade.

     E o senhor ministro-chefe diz que o PT é de esquerda. Conheço várias pessoas que, ingenuamente, pensam a mesma coisa. Talvez eles entendam esquerda como uma posição que não seja exatamente a extrema-direita. Como a extrema-direita é muito mais atuante no Brasil, através dos grandes canais de televisão e de programas como “Manhattan Connection”, entre outros, dá pra confundir.

     Confunde ainda mais por não haver esquerda organizada no Brasil. Não se pode chamar de esquerda um PCB imobilizado que se alimenta de teses doutrinárias e ainda espera a revolução burguesa para depois, então, quem sabe, se as condições objetivas e subjetivas forem as apropriadas... É querer demais.

     Tampouco pode ser apelidado de esquerda o PSOL, que apenas tomou o lugar que o PT deixou vago quando o PT ainda se pensava socialista e que se solidariza ao sistema ao legitimar as eleições. O PCO ainda é uma incógnita e o PSTU quer ser trotskista sem saber exatamente o que seja marxismo. Apóia o golpe de estado no Egito como se fosse uma revolução proletária.

     Essa desorganização do que seria a esquerda no Brasil dá um grande espaço para que o PT se autoproclame de esquerda – e as pessoas acreditem. Principalmente pessoas que não tem nenhum conhecimento de política.

     Na verdade, a função do PT no Brasil é a de acabar com a esquerda, e de acabar até com o trabalhismo, que é o seu principal adversário, porque o desmascara.

     Se formos comparar, o governo João Goulart, que iniciou a reforma agrária, instituiu o método Paulo Freire na educação e as reformas de base – que abrangiam os setores educacional, fiscal, político e agrário – esteve anos-luz à frente do que hoje é o PT, com o seu falso humanismo social. E evoluiria naturalmente para o socialismo se não tivesse sido golpeado pelas Forças Armadas aliadas dos Estados Unidos, em 1964.

     Os governos de direita pós-ditadura militar brecaram tudo isso, e principalmente o PT que, fingindo-se de socialista, aos poucos foi se aliando novamente às mesmas forças retrógradas que o trabalhismo sempre combateu.

     O que foi golpeado em 1964 foi a força e a consciência do povo brasileiro em sua capacidade de transformação; foi o trabalhismo, o que ainda restava de nacionalismo no povo brasileiro e que os militares chamaram de “comunismo”. Foram os trabalhistas que foram presos, mortos, torturados e escorraçados do seu país.

     Aquela gurizada da classe média que formou grupos de guerrilha tentando uma resistência armada a um governo totalmente militarizado e que se considerava comunista depois de ler um Politzer e um livro do Che e que, ainda mais tarde, formou o PT e uma Nova Esquerda que abjurava o socialismo, e que hoje está no poder nada teve a ver com o nacionalismo da época de João Goulart.

     E hoje quer ser internacionalista sem conseguir, ao menos, ser socialista.

     Aceitaram alegremente a globalização imposta por Bush & Cia. E hoje pensam que são de esquerda, quando, simplesmente, cumpriram a missão que a direita lhes tinha imposta: a de acabar com qualquer sintoma de nacionalismo no Brasil. A recompensa é o poder. Um poder compartilhado com as Forças Armadas, com as multinacionais, com o grande capital nacional e estrangeiro, mas poder.

     E com o poder, eles podem fazer de tudo, incluindo o máximo de corrupção. E se dizem de esquerda.
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