sábado, 7 de janeiro de 2012

CHICO BUARQUE & CIA.



Assisti a uma entrevista de Chico Buarque na TV Cultura, em um programa intitulado Sangue Latino, que me deixou, no mínimo, triste. Ele não tinha nada a dizer. Pareceu-me depressivo; envolvido em memórias das quais fala como se tivesse vivido momentos de folclore nos anos setenta e oitenta, quando fez as suas melhores composições e se tornou uma referência cultural na resistência contra a ditadura militar.

     Talvez naquele tempo ele tivesse acreditado em alguma coisa. Ou nós, os que acreditávamos em pessoas como Chico e os tornávamos em ídolos é que tenhamos nos enganado. Não com todos eles. Mas aquela turma de artistas e intelectuais do eixo Rio-São Paulo, que lideravam movimentos e que tinham em Chico, Betânia, Caetano, Gil - e outros, que agora esqueço ou que se deixaram esquecer - pessoas que apareciam, na mídia da época, como ícones da resistência contra a barbárie, um a um foram se entregando ao sistema quando supostamente aconteceu o que se convencionou chamar de “abertura democrática”.

     Entregaram-se.

     No Brasil, temos essa mania de criar ídolos. Não acreditamos no Lula? Foi tudo uma grande farsa, agora sabemos, e muitos anos foram roubados do verdadeiro sangue latino através do circo montado naquela época, quando as ilusões eram vendidas e a realidade tornada em letras de fácil trocadilho.

     Mas não se pode dizer que eles traíram. Sempre foram assim, agora é que estamos nos dando conta. Pessoas da classe média alta, que nunca tiveram um contato verdadeiro com o povo, com a realidade latina e brasileira e se acomodaram ao sistema que os engoliu e lhes promete, agora, apenas uma velhice tranqüila e abastada – sem lutas, sem queixas, sem lamúrias. Apenas a aceitação passiva do que a mídia vende como sendo a verdade. Ou as verdades.

     Eles já serviram aos donos do poder; ainda servem com a sua atual omissão. Gritaram por diretas já e receberam o direito de votar nos aventureiros de plantão. E se consideraram satisfeitos. Agora, viajam para espairecer. Uns vão para Paris, outros para Madri ou Budapeste; outros, ainda, ficam entre São Paulo e Rio, brincando com os netos e fingindo que nada está acontecendo.

     Não mais se posicionam. Cansaram ou a sua visão sobre política ficou demasiado estreita – e sobre isso eles poderão alegar o tempo, a idade, as costas curvas ou o cansaço ao falar. Ou qualquer outra coisa.

     Foram gigantes que se deixaram apequenar.

     Talvez estejamos a merecer a mediocridade da música sertaneja, o rap importado, os shows de mesmice, o teatro que já não tem um Augusto Boal, a educação que perdeu Paulo Freire.

     Está na hora de repensarmos o Brasil que realmente desejamos. Caso contrário, o exemplo dos ídolos quebrados nos remete a um futuro de povo amestrado e submisso.

Um comentário:

  1. Também fiquei triste e decepcionada com a entrevista do Chico. Já não esperava muita coisa, pois vem se repetindo na imprensa oficial em outros depoimentos, um desdizer do passado. Bem, continuamos a lutar, pois a coerência é tudo que nos resta. Ótima matéria!
    Lidia.

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