quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

COMO O RESPIRAR DA TERRA


Queriam fazer da poesia
Apenas
Gotas de orvalho
Ou soluços de amor incompreendido
Ao luar de noite esplêndida
E sempre noite
E sempre luar
E sempre esplêndida
Pois como pode esse amor
De folhetim
Acontecer em noite escura
E tempestuosa?

Quiseram fazer da poesia
Apenas
Um falso ornamento
De uma falsa vida
E de um inexistente e langoroso
Amor cinematográfico
Com direito a rosas
Lágrimas
E o esperado beijo final
Doméstico e burguês.

Fabricaram a poesia asséptica
Das casas bem arrumadas
E dos corações tranqüilos e formatados
Para bater no compasso certo,
Ao ritmo europeizado, triste e caquético,
Como as tranças das suas princesas
Esquecidas nos turísticos castelos do Mediterrâneo.

Esqueceram que o nosso Ocidente
É amazônico e pampeano
E andino e caribenho
Onde se fala o castelhano
E o português
Em suas inúmeras vertentes
Com sangue negro e índio
E mestiço
Em um único e imenso coração.

A nossa é a poesia
Dos esbulhados e dos perseguidos,
Dos esfomeados e dos favelados,
Mas também a poesia
Dos lutadores e dos guerrilheiros
Que sempre conservam a esperança vermelha
Como o sangue
E verde como o respirar da terra.

Aqui na terra latina
A nossa poesia
Não se detém a beijar as estrelas
Ou a louvar o luar,
Mas busca a luz que revela a verdade,
Ainda tímida e escondida
Pelas trevas dos cúmplices das trevas,
Para tirar a máscara dos déspotas
E encontrar a esperança
Nos raios do acariciante sol
E no sabor da seiva que alimenta.

Uma poesia sem flores artificiais.

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