quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O PARTIDO DA DITADURA




À medida que eu acompanhava o desenrolar do “caso Negromonte” – mais um ministro acusado de corrupção e que entregou o seu cargo hoje, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, à presidente Dilma Roussef – percebia que os grandes jornais e revistas, que tanto batalharam para que os ministros anteriores fossem derrubados passavam da manchete para o título e do título para a notícia quase escondida em suas páginas virtuais.

     “O que está acontecendo?”, eu perguntava para o espelho ou para as sombras. “Será que desistiram de importunar a Dilma e seus malfeitores do Governo, porque a própria Dilma está disposta a acabar com os ‘malfeitos’?” Dúvida cruel.

     Resolvi pesquisar e eis que.

     Mario Negromonte pertence ao PP (Partido Progressista), era o Ministro das Cidades – ministério que recebe o terceiro maior orçamento da Esplanada, de R$ 21,1 bilhões – e a sua demissão não afeta em nada o PP. Aquele partido continuará com o Ministério das Cidades, porque Negromonte  está sendo substituído pelo líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro.

     Ou seja, o mesmo partido do ex-ministro acusado de corrupção continuará com o mesmo ministério e, se desejar e achar interessante, razoável e lucrativo para seus membros, poderá continuar com os ‘malfeitos’ – porque dificilmente Dilma Roussef tirará duas vezes um ministro do mesmo ministério, confiado a um partido fiel ao Governo –por maiores que sejam as provas de corrupção.

     De acordo com dados do TSE, o PP é o segundo maior partido brasileiro, logo atrás do PMDB. O PT vem depois, seguido pelo PSDB e PDT. E, no entanto, vemos embates diários entre PT e PSDB que, na verdade, dependem do centro-direita PMDB e do auto-aclamado partido de direita PP.

     O PP é um partido fisiológico, aderente ao poder, seja quem for que estiver no poder. Acostumou-se a isso desde a época da ditadura militar, quando se chamava ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e, junto com o MDB, que ainda não tinha o “P”, brincava de fazer política, sob os olhos atentos dos ditadores de farda.

     É o partido dos latifundiários, empresários, coronéis, bacharéis e doutores. Toda a retrógrada elite brasileira.

     De vez em quando pede alguma coisa, exige alguma benesse, como o Novo Código Florestal, Belo Monte... E o Governo por ele apoiado sente-se na obrigação de retribuir o apoio, sem o qual não existiria de fato.

     É um partido camaleônico. Quando houve o acordo entre militares e civis desejosos de poder para que a ditadura militar se transformasse em civil, o PP, então ARENA, mudou a sigla para PDS (Partido Democrático Social). Passou a ser democrático. Em convenção nacional datada de 4 de abril de 1993 o PDS se fundiu ao Partido Democrata Cristão (criado em 1985) e deu origem ao Partido Progressista Reformador (PPR).

     Em 1995, houve a fusão entre o Partido Progressista Reformador e o primeiro Partido Progressista (PP), criado em 31 de janeiro de 1993, união que deu origem ao Partido Progressista Brasileiro (PPB), desde logo comprometido com o apoio ao Plano Real e ao governo Fernando Henrique Cardoso.

     O agora PP virava PPB, depois de ter sido ARENA, PDS E PPR. Foi aquilo que se viu. Privatização total, o Brasil entregue às multinacionais e Fernando Henrique pousando de grande estadista. Lá fora.

     Em 4 de abril de 2003, o PPR decidiu-se a ser somente PP (Partido Progressista). Lula vencia as eleições e prometia ser somente o “Lulinha Paz e Amor”. Coerente com essa nova postura, o presidente eleito pelo PT fez um grande leque de alianças com todos os partidos que desejavam um pedaço do poder e distribuiu ministérios e secretarias para os aliados.

     Todos saíram ganhando, menos o povo, e Lula teve que seguir a política aliancista e entreguista inaugurada por FHC e aceitar o jogo da direita, com quem já namorava. Também passou a namorar com os militares e deu-lhes uma missão intervencionista no Haiti, para começar. Nunca se rezou tanto para São Francisco e o “dando que se recebe” ficou famoso. O PT perdeu a moral e as bases políticas mais fortes, mas preferiu aliar-se com partidos de direita, que lhe garantiam o poder e, afinal de contas, o único objetivo do PT – que já foi um partido dos trabalhadores – era o poder. Maquiavelicamente.

     E o PP ali, adorando aquele poder. Quando Dilma assumiu, apenas repetiu a dose e seguiu a receita lulista, enquanto guarda a cadeira para o seu chefe.
Mas o chefe tinha deixado o que alguns chamaram de “herança maldita”, ora vejam! A corrupção.

     Como se corrompe? Pergunte aos políticos. Acredito que a teoria é a seguinte: “Todos tem seu preço e podem ser comprados”. Uma teoria simples e que pressupõe que todas as pessoas são corruptas ou passíveis de corrupção. Principalmente se morarem em um país chamado Brasil.

     A herança de Lula, que já era herança de FHC, faz com que Dilma gaste algum tempo trocando ministros. Não que isso resolva a corrupção, mas apazigua a opinião pública que passa a acreditar que a presidente é a única pura em um antro de corruptos nomeados por ela.

     Não somente os ministros.


     FAXINA

     De acordo com Vanildo Mendes, de “O Estado de São Paulo”, em matéria de 12 de dezembro de 2011, sobre a “faxina” no Governo, o grau de corrupção tem crescido entre os agentes públicos.

     A Polícia Federal já teria prendido 79 policiais, em dez operações de combate ao crime organizado realizadas em todos os Estados. Somente em 2011.

     “Além disso, segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão responsável pelo controle interno do governo, de janeiro a novembro deste ano 514 servidores federais foram expulsos da administração pública, um recorde para o mesmo período nos últimos oito anos.

     “Os expurgos do setor público atingiram não só a PF, mas todas as carreiras típicas de Estado, inclusive as que têm o dever cobrar dos outros o cumprimento da lei. De 2004 a 2011, a CGU puniu malfeitos de 64 analistas e técnicos de finanças da própria equipe.

     “Entre 2003 e 2010, a corregedoria da PF puniu mais de 600 policiais com penas que vão de advertência a suspensão e demissão. Desse total, 72 (12%) foram demitidos por irregularidades graves, incluindo corrupção e crime organizado.”

     Junto com os ministros demitidos, tem sido exonerados inúmeros integrantes do segundo escalão. Pessoas que acreditam que ter um cargo é sinônimo de prevaricação. Ou de corrupção explícita.

     Este é um país de corruptos? Esperem as eleições. Enquanto isto, Dilma tenta caminhar no mar de lama que não deve ignorar, porque foi ministra de Lula e, se não corrompeu ou não foi corrompida, conhece a turma.

     Falta a faxina no Judiciário, mas essa não acontecerá, ou vocês acham que os que se consideram intocáveis deixarão que investiguem os seus negócios?

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