sexta-feira, 29 de junho de 2012

O PREFEITO E AS ELEIÇÕES






O prefeito estava em seu gabinete de secretário quando mandou chamar o seu secretário... Ou melhor, o prefeito estava no seu gabinete que desejava que fosse gabinete de prefeito, quando... Ainda melhor: o secretário do secretário que pensava que era prefeito foi chamado ao gabinete do secretário que só admitia ser chamado de prefeito. Entrou e foi logo falando.

     - Às ordens, companheiro secret... er... companheiro prefeito.

     - Nunca esqueça, companheiro secretário: quem já foi rei sempre será majestade. Tive a infelicidade de ser sucedido por um adversário político que faz questão de não reconhecer essa grande verdade e que pensa que quem manda agora é ele.

     - Mas companheiro prefeito, o companheiro prefeito que o sucedeu na prefeitura não é do nosso partido?

     - Siglas! Não me venha com siglas! Ideologias! Quem quer saber disso? Só ele, que ainda é um retrógrado!

     - Mas companheiro prefeito...

     - Nem mas, nem meio mas! Diga-me quem é o mais bonito: eu ou ele?

     - É o senhor que manda, companheiro prefeito.

     - E quem manda sempre é mais bonito, não é verdade? Já escreveu aquele texto, companheiro secretário?

     - Qual deles, companheiro prefeito?

     - Aquele para o meu jornal de Três Estrelinhas - a cidade onde eu fui, sou e serei prefeito!

     - Permite uma pequena correção, companheiro prefeito?

     - Só se for uma correção bem pequena. E cuidado com as palavras.

     - Bem pequenininha...

     - Está bem. Fale!

     - O senhor não poderá ser o próximo prefeito porque não é candidato. O candidato é o seu adversário político do nosso partido sem ideologia.

     - Santa ingenuidade! Então o companheiro entende que só porque eu não sou oficialmente o prefeito e porque não concorro às eleições para prefeito eu não vou mandar? E eu não sou o prefeito agora, mesmo que tenha aquele outro lá, ostentando o nome de prefeito? Ele não depende de mim, dos meus contatos partidários, da minha influência no governo do estado para receber verbas? Atenda, que o telefone está tocando.

     - É o governador, companheiro secret... er... prefeito.

     - Passe o telefone!

     “Pois não, companheiro padrinho... Beijo as suas mãos, companheiro padrinho... Os pés também... Eu sei que devo tudo ao senhor, companheiro padrinho... Tudo, tudo, tudo, até as calças que... Não preciso exagerar? Claro que não, companheiro padrinho... Perdão, companheiro padrinho, mas fazer campanha política com ele, subir no mesmo palanque... Perdão, companheiro padrinho... O que eu estava dizendo?... Nada, companheiro padrinho! Eu estava apenas pensando alto... Não é para pensar alto? As paredes tem ouvidos?... Os telefones também?... Eu sei, companheiro padrinho... Como quiser, companheiro padrinho... Fingir apoio... Chutar com as duas... É claro que eu sou esperto, companheiro padrinho!... O senhor é um gênio, companheiro padrinho!... Aquele jornal? Já mudei a direção, está tudo encaminhado, companheiro padrinho, não se preocupe. Obrigado, companheiro padrinho... Mil vezes obrigado... Não precisava tanto!... Quer dizer... nunca é demais... Obrigado, companheiro padrinho! Obrigado!!!”

     - Ele desligou. Será que eu falei alguma coisa errada?

     - O senhor falou o de sempre, companheiro prefeito. Ele é dado a esses chiliques, o companheiro sabe, liga e desliga o telefone quando quer.

     - Ah, o poder! Nada como o poder...! Poder ligar e desligar o telefone quando quiser... Poder dizer o que quiser... Poder fazer os outros se agacharem... Poder até exigir que os outros... Não! Eu não gosto de pensar nisso. São águas passadas. Foi um momento de volúpia de poder.

     - Como disse, companheiro prefeito?

     - Eu perguntei se o companheiro já escreveu o meu artigo para o jornal de Três Estrelinhas.

     - Qual dos dois jornais, companheiro prefeito?

     - Eu não vou dizer o nome, mas você sabe: o que mudou a direção, o novo, o que seria da oposição. Adoro oposição consentida! O outro já é meu há muito tempo...

     - Aquele que o senhor comprou?

     - Jamais diga isso! Nem mesmo pense! Eu nunca comprei jornal algum. Não no meu nome, entende? Eu sou apenas um servidor do povo. O que seria do povo daquela cidade sem mim? Eles me adoram!

     - O artigo está pronto, companheiro prefeito. Basta o senhor assinar. Mas se eles ganharem, companheiro prefeito? O partido perderá a prefeitura!

     - Somente oficialmente, companheiro secretário, e apenas por quatro anos.

     - E as rádios? Estão sob controle? Adoro a expressão ‘sob controle’!

     - Todas elas, companheiro prefeito. Inclusive eu fiz aquilo que o companheiro pediu: dois ou três programas que atacam o senhor, para depois serem desmentidos.

     - Você está aprendendo. Devagar e sempre. E os programas da televisão local?

     - Está um pouco mais difícil, companheiro prefeito. Parece que o outro companheiro prefeito, aquele da nossa sigla sem ideologia e que é o prefeito oficial, também está aprendendo.

     - Não fala a palavra ideologia! Por favor! É uma palavra que me lembra aquele outro que está na prefeitura e não quer obedecer à voz da razão. Ou seja, a mim! ‘Voz da razão’ é um chavão, companheiro secretário?

     - Dos mais chaveados, companheiro prefeito.

     - Então, faz de conta que eu não disse, companheiro secretário. Eu somente falo coisas sérias e inteligentes. Jamais digo chavões! Os blogs?

     - É claro, companheiro prefeito. Está anotado. Quando eu escrever a sua biografia, daqui a alguns anos, não haverá nenhum chavão. Quanto aos blogs, por enquanto temos um, companheiro prefeito. Tem até charges e histórias em quadrinhos. Está ficando caro...

     - Nada que não se possa bancar, não é companheiro secretário? Sabe-se lá de onde vem o dinheiro; o importante é saber para onde ele vai.

     - Essa é uma frase rara e inteligente, companheiro prefeito. Vou anotar para a posteridade.

     - Voltando ao artigo, como é que está? Eu estou escrevendo bem?

     - O melhor que eu posso, companheiro prefeito, de acordo com o rascunho que o companheiro me passou. Tenho certeza de que não está parecendo uma composição de criança de primeiro grau. Mas tudo isso para perder a prefeitura por quatro anos, companheiro prefeito...

     - Para voltar à prefeitura, companheiro secretário.

     - Voltar com outra sigla?

     - Diga-me quem é mais bonito: eu ou o candidato deles - talvez futuro prefeito, que comerá nas minhas mãos? E aquele outro sumirá! Desaparecerá! Como é bom o poder!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

AS CATURRITAS E OS LOBOS




Matéria no jornal Folha do Sul, de Bagé - ainda a minha cidade - revela que cortar árvores é uma prática justificada pela própria Secretaria do Meio Ambiente. Principalmente se o corte de árvores for uma solicitação de empresários, porque a Prefeitura de Bagé tem como principais aliados os empresários da cidade, obedece a tudo que esses senhores desejam. Cortar árvores é um dos seus desejos. A Prefeitura obedece.

     Diz a matéria, de 19 de junho, na página 11: “O biólogo Zeno Freitag, da secretaria, informa que a solicitação de corte foi feita por um empresário que irá desmanchar um prédio que está comprometido pelo seu estado de deterioração. No local, será construído outro”.

     Até aí, aparentemente tudo bem. Razoáveis motivos para o corte das árvores. Razoáveis motivos para eles, que se acreditam os donos da cidade, porque não existem motivos ou razões suficientes para algo tão anti-ecológico como cortar árvores.

     Uma única árvore pode transpirar por suas folhas até 60 litros de água por dia, formando um vapor que se mistura com as partículas de poluição do ar, acumulando-se em nuvens e provocando a chuva.

     Bagé é uma cidade que sofre com constantes e avassaladoras secas. Os dois últimos prefeitos, do mesmo partido muito amigo dos empresários, estão construindo uma terceira barragem emergencial há mais de seis anos. O povo e a natureza sofrem com a seca até no inverno. Quando um antigo prefeito, certa vez, durante uma dessas grandes secas, recebeu o conselho de que mais árvores deveriam ser plantadas na cidade, achou muito engraçado. Até mandou plantar algumas, mas depois desistiu. Era de outro partido, igualmente muito amigo dos empresários.

     Quem, despreocupadamente, lê a matéria que foi manchete no jornal Folha do Sul no dia 19, até pode achar suficiente a explicação do biólogo. Alguns vão achar estranho, no início da leitura; outros vão se apavorar ao ler a continuação. O biólogo explica que cortar as árvores da cidade é um projeto da Prefeitura, apoiado por sérias instituições.

     “A ideia é, com o tempo, ir substituindo as árvores de maior porte por outras mais adequadas. Em geral, de pequeno ou médio porte, sejam elas exóticas ou nativas”.

     Ou seja, continuar cortando as árvores. E substituí-las, ‘com o tempo’, por outras árvores – inclusive exóticas – desde que sejam do tamanho considerado ‘adequado’.

     O biólogo ainda diz que as árvores da cidade são velhas, colocando esse argumento como mais uma razão do corte de árvores. Leiam “Prefeitura”, quando eu escrevo biólogo. Não acredito que tenha falado aquilo conscientemente. Afinal, ele tem que defender o seu emprego e deve saber que uma árvore adulta recebe pelas raízes muitos nutrientes de matéria orgânica (como as fezes dos animais), que são absorvidos e transformados, através da fotossíntese, em alimento para toda a planta. Também deve saber que a camada de folhas que se forma embaixo da árvore, serve de berço para as sementes e para proteger o solo dos pingos de chuva, evitando a erosão. Além disso, folhas, frutos, madeira e raízes servem de alimento para diversos seres vivos. Uma árvore é um pequeno ecossistema; quando destruído, afeta todo o meio ambiente onde está inserido.

     Mas, aqui em minha(?) cidade, o que importa é o tamanho das árvores. Eles chamam isso de “revitalização”. Já revitalizaram algumas praças e as deixaram quase nuas de árvores e sem nenhum gramado. São loucos? Talvez sejam racionais em demasia, e é isso que eu temo. Tenho muito medo dos que esbanjam excesso de razão, porque costumam ser predadores. São estranhos seres insensíveis que acreditam que saber é poder, e que revelam esse poder de uma maneira absolutamente destrutiva.

     Um dos pensadores prediletos dessas pessoas que consideram a natureza alheia ao ser humano, de tal forma que existe somente para ser usada, é Francis Bacon. Em “Elogio ao Conhecimento” (1592), Bacon escreve: (..) “Será que não devemos perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja? Será estéril a verdade? Não poderemos, através dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do homem com uma infinidade de coisas úteis?”

     Com a filosofia de Bacon, o mecanicismo cartesiano era alimentado pelo utilitarismo e nascia o homem racional, acreditando que a natureza existe apenas para servi-lo.

     Algumas correntes de supostos pensadores e sociedades que se dizem discretas em seus aventais litúrgicos, afirmam que Bacon era Shakespeare. Que teria sido ele, Bacon, a escrever as obras de Shakespeare, em lugar do autor, que não possuía nem título de nobreza. Mas basta ler e raciocinar sobre as obras de Shakespeare, em seu extremo romantismo e amor à vida, para nos darmos conta que é uma afirmação, no mínimo, falaciosa. Houve quem chegasse a dizer, para rebater, que é mais provável que Shakespeare tenha escrito as obras de Bacon, do que o contrário. Também não acredito nisso. Shakespeare era muito inteligente e, antes de tudo, um artista, ao contrário de Bacon.

     Foi esse pensamento cartesiano-mecanicista-utilitarista, originado durante o Renascimento, que sustentou filosoficamente o surgimento da industrialização e do capitalismo selvagem, com todas as suas contradições e misérias, culminando com a destruição da natureza.

     Por isto também, a Rio+20 não vai dar em nada. É uma cúpula dos donos do poder (e mais algumas esforçadas ONGs) que simplesmente estão constatando o alto grau do seu poder de destruição. Mas como essa destruição gera lucros, nada será feito, além de uma carta de boas intenções.

     Aqui, na minha cidade, árvores são cortadas. Em seu lugar serão plantadas, inclusive, árvores exóticas, desde que tenham o tamanho adequado para a funcionalidade que a nova democracia formada por políticos e empresários exige.

     Já temos árvores exóticas no pampa, principalmente o eucalipto, plantado especialmente para fornecer madeira para as fábricas de celulose. Está comprovado que o eucalipto, que está se tornando uma rendosa monocultura para alguns, provoca a perda de biodiversidade, provoca erosão e mata as árvores nativas da região onde é plantado, devido ao seu grande consumo hídrico. As árvores nativas são desprezadas, porque o que interessa é o lucro.

     A Agência Internacional de Desenvolvimento do Canadá recomendou que “para retornar ao sequestro potencial de carbono de 1950 deveríamos restabelecer 500 milhões de hectares de florestas nativas”.

     Mas aqui se planta eucaliptos e em floresta de eucaliptos, geralmente só há formigas e caturritas. Tantas caturritas, que já invadiram a cidade.

     “Cinco por cento da área original do bioma pampa já foram perdidos para a monocultura do eucalipto e seus desertos verdes. Os impactos desse cultivo para o aqüifero Guarani, maior reserva de água doce do mundo, serão irreversíveis. Aumentará a desertificação em municípios como Alegrete e Bagé onde, aliás, as papeleiras já adquiriram áreas e estão principiando o plantio de mudas de eucalipto” – afirma o jornalista Cristiano Muniz, em seu blog “Não Deixe o Pampa Morrer” (salveopampa.blogspot.com.br). Isto ele escreveu no tempo de Yeda Crusius como governadora do estado. Agora os eucaliptos já cresceram.

     Mas não é somente Yeda Crusius a responsável, ou o grupo RBS ou quaisquer outros alvos mais visíveis. Para que esteja acontecendo a desertificação do solo e consequentes secas e desastres ambientais, é necessário, no mínimo, a complacência dos governos municipais. E em Bagé temos um governo demasiado complacente com o que acontece no município. Dentro da cidade, o corte desenfreado das árvores; no campo, a cegueira, a desinformação ou a ganância.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

OS MENSALÕES


Criada para esconder o julgamento dos indiciados no Mensalão, a CPI de Carlinhos Cachoeira transformou-se em um Mensalão 2, devido aos fortes indícios de ligações de Carlinhos Cachoeira não só com parlamentares de todos os partidos – especialmente PT, PMDB, DEM e PSDB – como por tráfico de influência através de governadores e de empresas, como a Delta Construções, ligada estreitamente ao governo federal.

     Carlinhos Cachoeira é o nome do momento, mas todos sabem que existem outros “Carlinhos Cachoeira”, que estão soltos e assim continuarão. Vinte deles foram presos na Operação Hurricane (Furacão), no dia 13 de março, e soltos por liminar concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello no dia 1º de maio. Entre os vinte soltos pelo ministro Marco Aurélio, quatro são os mais famosos: Aniz Abraão David, o Anísio, Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, o seu sobrinho Julio César Guimarães Sobreira e Antonio Petrus Kalis, o Turcão. O ministro argumentou que o decreto de prisão não estava suficientemente fundamentado. E soltou os vinte conhecidos contraventores.

     Na mesma época, Carlinhos Cachoeira estava sendo preso, também por contravenção, o então senador do DEM, Demóstenes Torres, amigo de Cachoeira, saía do seu antigo partido (e brevemente será expulso do Senado e da vida parlamentar) e era instalada a CPI de Carlinhos Cachoeira, com base em revelações da operação Monte Carlo e operação Vegas, montadas pelo Departamento de Polícia Federal para desarticular uma organização que explorava máquinas caça-níqueis e jogos de azar em Goiás.

     A operação Monte Carlo foi além das ligações de Demóstenes com Carlinhos Cachoeira. Descobriu que a Delta Construções – principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fez contratos diretos com 18 administrações estaduais. A Delta estava ligada à organização de Carlinhos Cachoeira através de seu ex-dono, Fernando Cavendish. Cavendish afastou-se da Delta Construções quando a Polícia Federal descobriu que a Delta financiava empresas fantasmas criadas por Carlinhos Cachoeira.

     Quem levou a Delta Construções para tão perto governo Dilma teria sido o (ex?)consultor da empresa, José Dirceu – ex-deputado do PT, cassado por denúncias de corrupção, apontado como o “chefe da quadrilha” do Mensalão e um dos principais chefes do partido do governo.

     O deputado federal Almeida Lima (PPS-Sergipe) afirmou, em abril, ainda na fase de preparação da CPI, que a instalação da CPI era um “tiro de bazuca no pé do PT”. De acordo com o site www.ucho.info, José Dirceu prestou serviços de consultoria para a Delta. Segundo os jornais, o contrato foi assinado no final de 2008 para prospecção de negócios na América do Sul. “Na mesma ocasião, os contratos com a empreiteira com o governo federal praticamente dobraram, passando de R$ 393 milhões para cerca de R$ 800 milhões. Atualmente, a empresa detém a maioria dos contratos de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e com ramificações em vinte e três estados. “Não é sem razão que é chamada de a empreiteira do PAC”, ironizou o deputado.”

O MENSALÃO I

Em 2004 o nome Carlinhos Cachoeira ficou conhecido, quando foi divulgada uma gravação onde Waldomiro Diniz – assessor especial de José Dirceu, quando este era ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula – aparecia extorquindo dinheiro do contraventor para arrecadar fundos para a campanha do PT em troca de facilitação em concorrência pública. Foi o chamado caso LOTERJ, que deu origem à CPI dos Bingos, cuja única consequência foi uma medida provisória assinada por Lula, proibindo bingos, caça-níqueis e outras casas de jogos de azar em todo o Brasil.

     Em 2005, foi descoberto um esquema de corrupção que foi denominado Escândalo dos Correios. Os principais implicados eram membros do PTB – partido da base aliada do governo -, que controlava os Correios em troca de apoio ao governo Lula. O ex-deputado Roberto Jefferson, então Presidente do PTB, acuado, revelou um esquema de corrupção ainda maior, do qual fazia parte. Esclareceu que parlamentares que compunham a chamada "base aliada" recebiam, periodicamente, recursos do Partido dos Trabalhadores em razão do seu apoio ao Governo Federal, constituindo o que se denominou como "mensalão" – e acusou o então Ministro da Casa Civil José Dirceu de ser o mentor do esquema de compra de votos. Segundo informações veiculadas pela imprensa, o PT se comprometia a pagar a quantia de R$ 150.000,00 a cada deputado federal do PTB, em troca do apoio dos parlamentares petebistas ao Executivo. O não cumprimento da promessa teria provocado o rompimento entre os dois partidos, o que veio a culminar com a série de denúncias de corrupção alardeadas a partir de maio de 2005.

     O dinheiro para comprar os deputados viria, principalmente, do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, que também controlava as empresas de telefonia privatizadas. Mais de 127 milhões de reais foram parar nas contas da empresa DNA Propaganda, de Marcos Valério, que repassava ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para o pagamento dos parlamentares da “base aliada”. Mas não foi somente Daniel Dantas que financiou os projetos do PT.

     O deputado Roberto Jefferson disse que parte do dinheiro do mensalão vinha de empresas estatais, entre elas, Furnas, Eletronuclear, Petrobras, Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT).

     Furnas: Segundo o deputado, Furnas repassou R$ 3 milhões por mês ao Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados.

     Eletronuclear: O presidente da empresa Paulo Figueiredo (indicado pelo PCdoB, aliado do PT) e o ex-assessor do ministro José Dirceu e ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno são suspeitos de terem manipulado os fundos de pensão da estatal para desviar dinheiro ao PT.

     Petrobras: Segundo o deputado Roberto Jefferson, foi uma das principais empresas usadas pelo PT para desviar recursos para o partido. Em 5 de julho de 2005 o secretário-geral do PT Silvio Pereira renunciou a seu cargo porque foi descoberto que ele recebeu de presente um automóvel Land Rover da empresa GDK, vencedora de uma licitação de U$ 90 milhões junto à Petrobras.

     Instituto de Resseguros do Brasil (IRB): segundo Roberto Jefferson, Marcos Valério articulou um encontro com representantes da Portugal Telecom, ligada ao Banco Espírito Santo (BES). Nesse encontro ficou decidida a transferência de U$ 600 milhões do IRB ao BES e que este compraria as linhas de transmissão da estatal Eletronorte. De acordo com o deputado, a operação renderia até R$ 120 milhões para o PT e o PTB. O próprio Jefferson foi acusado de interferir junto ao IRB para arrecadar fundos para seu partido, o PTB. Jefferson admitiu a manobra, contudo disse que ela foi legal e que as doações seriam registradas legalmente e feitas por empresários indicados pelo então presidente do IRB.

     Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT): Inicialmente o deputado Roberto Jefferson foi acusado de comandar um esquema de corrupção nos Correios. Jefferson admitiu a existência de um esquema de corrupção, mas alegou que ele era controlado pelo PT. Em depoimento para a CPI dos Correios, Maurício Marinho, que foi chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal, citou os nomes do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira e do então ministro Luiz Gushiken, como as pessoas e teriam influência na administração da empresa.

     Também os fundos de pensão das empresas estatais são suspeitos de arrecadar dinheiro para o caixa 2 do PT.

O MENSALÃO II

O Mensalão 2 tem a participação dos contraventores que, na época da CPI dos Bingos (que não deu em nada) passaram a agir clandestinamente devido à MP que proibiu jogos de azar.

     Desta vez não se trata de deputados e senadores sendo comprados pelo PT para votarem nos projetos do Governo, mas de empresários do jogo do bicho, bingos, máquinas caça níqueis, que tiveram a sua ação oficialmente criminalizada e passaram a atuar subterraneamente, contando com o apoio – supostamente comprado – de políticos e membros de diversos governos estaduais. Também são apoiados por outros empresários – que não tem as suas ações criminalizadas – e a eles apoiam, para que tudo dê certo no mundo dos grandes negócios.

     A Delta Construções, que já ganhou mais de R$718 milhões com negócios em 18 estados brasileiros, e que teve, na CPI do Cachoeira, o pedido da quebra do seu sigilo bancário defendido pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT)– para espanto, gritos e sussurros de membros de todos os partidos – tem como seu principal acionista Fernando Cavendish, que estaria envolvido com o esquema de Carlinhos Cachoeira.

     Acresce que Cavendish foi fotografado junto com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), aliadíssimo do Governo Federal e principal dono do dinheiro do petróleo que deveria ser brasileiro. Estavam com lindos lenços na cabeça, rindo e brincando de qualquer coisa ou não sei o quê, especula-se que do resultado de negócios lucrativos, em um belo hotel de Paris.

     Além de Sérgio Cabral, o governador Marconi Perilo (PSDB) de Goiás e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que é do PT, também seriam velhos conhecidos de Carlinhos Cachoeira, Delta Construções e outros menos cotados.

     Outros menos cotados. Talvez os menos cotados sejam aqueles bicheiros conhecidos, os 20 contraventores que foram soltos por ordem judicial em abril, no Rio de Janeiro, e mais sabe-se lá quantas centenas de contraventores por este Brasil afora. Pessoas que tem seu dinheiro arrecadado dos otários brasileiros acostumados à cegueira do futebol, samba e muitos feriadões e que acreditam que jogar no bicho é uma coisa ‘inocente’, assim como jogar seja lá no que for, porque este é o país em que ninguém vive de salário – conforme um ditado popular.

     Os donos do jogo do bicho (e de outros jogos ainda ilegais) não por acaso são chamados de banqueiros e se relacionam com outros banqueiros oficiais para lavarem o seu dinheiro arrecadado em praças, ruas e outros lugares mambembes e circenses deste país que segue nos enganando com a sua falsa pose de ministro togado que faz rir por falta de lágrimas. E os banqueiros de todo o tipo – desde os que tem grandes casas bancárias até os que se escondem em porões – acostumaram-se a comprar senadores, deputados, ministros e todos aqueles seres que, volta e meia, nos pedem votos em troca do que todos sabemos serem mentirosas promessas.

     Acostumamo-nos com a mentira e com a corrupção e delas rimos, porque as lágrimas já secaram, devido à inevitável raiva que ruboriza os mais crédulos e crentes nos carinhos do Estado.

     Estamos cada vez mais acostumados com o ‘dar em nada’ das CPIs, com os julgamentos vazios de corruptos que se tornam famosos pela sua qualidade de corromper a todos – e todos desejam ser corrompidos -, com o seu rosto ‘esperto’ de jogadores que nos enganam diariamente e que muitos admiram, porque o muito dinheiro da corrupção os torna impunes.

     Cada vez mais ficamos acostumados com a hipocrisia do Estado.

     O Mensalão 2 nada mais é que os contraventores comprando políticos, imiscuindo-se nos negócios do Governo, conseguindo licitações fraudulentas e favores especiais em troca da continuidade da fraude conhecida e de mais especiais favores, o que os faz rir desbragadamente de nós – com lenços na cabeça e com olhar de escorpiões - os que se acreditam honestos e pagam os impostos que eles arrecadam.

     Este é o país que vai pra frente com pontapés na traseira dos brasileiros que ainda não se corromperam. Pontapés e risos de escárnio.
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