quarta-feira, 28 de novembro de 2012

FALTOU AREIA NO DESERTO VERDE





Gravíssimo o caso de Bagé, onde falta areia para que a barragem que iria (irá?) suprir a demanda de água, acabando com a estiagem que já dura há mais de oito anos e provoca um cruel racionamento parou de ser construída. Motivo: falta areia para a construção. Durante a campanha eleitoral, o Prefeito Dudu (PT) disse que terminaria a barragem em abril. Verbas que variam entre 40 a 50 milhões de reais já estariam destinadas pelo Governo Federal especificamente para a construção da barragem.

     Todos ficaram felizes e votaram no Dudu. É o que mostrou o resultado das urnas muito eletrônicas, que repetiram tediosamente o mesmo número de votos que a suposta oposição recebeu nas anteriores eleições. Inclusive, já se projeta qual será o futuro prefeito do PT em Bagé, visto que as oposições supostas, aqui, recebem sempre o mesmo número de derrotados e tristes votos - por mais aguerrida que seja a campanha eleitoral.

     E a campanha do alegre e renovado Prefeito baseou-se na construção da barragem. Também nas corridas de galgos. E agora faltou areia. Logo após a festa dos frigoríficos, também conhecida como festa do churrasco. Parou tudo na construção da barragem. Ou quase. O prazo da construção foi espichado para... quem sabe 2014, na véspera das eleições presidenciais?

     Especula-se. Alguns jornalistas ensinam as pessoas a tomar banho. 1. Coloque uma enorme bacia sob os pés, durante o banho, e depois aproveite a água para lavar a casa. 2. Um banho gradativo: ensaboe-se, saboreie um chimarrão, ligue o chuveiro e lave-se com rapidez. 3. Banheira nem pensar, com a exceção provável do banho em família uma vez por semana.

     Não é possível aproveitar a água dos arroios que cercam a cidade. Estão completamente poluídos, apesar das informações oficiais em contrário. Existem duas barragens no município. A do Piraí e a de Sanga Rasa, e uma terceira que é chamada de Emergencial. Em setembro, devido às chuvas, elas encheram e transbordaram. O racionamento continuou.

     Fofocas nos bares, becos, quiosques. A água seria desviada para os grandes plantadores de soja e arroz - pessoas muito espiritualizadas e com profundo senso ecológico que usam sementes transgênicas por necessidade extrema. Fofocas, intrigas da oposição.

     Faltou areia. Um engenheiro ou assemelhado teria proposto a destruição de rochas, pedras, talvez tijolos, telhas para a confecção de areia que serviria para a construção da nova barragem. Cavar poços e vender a água a preços módicos... Enormes e finíssimas, quase invisíveis redes nos quatro cantos da cidade para recolher a areia que os vendavais levantam... Será que alguém lembrou a compra de areia? Afinal, a verba para a construção da barragem é enorme! Ou acabou-se a verba depois das eleições? Muitas coisas acabam depois de eleições.

     A esperança do povo é uma delas. O povo que não come churrasco na festa dos frigoríficos. O povo que ainda acredita em eleições. O povo que é levado a pensar que o poder é público.

     Qual a causa da seca? O desmatamento é uma delas, mas nada se faz a respeito. Ao contrário, várias praças foram "revitalizadas" e essa "revitalização" incluiu o corte de muitas árvores. Algumas foram arrancadas pela raíz. outras simplesmente foram cortadas à vista de todos. Protestou-se. Nada adiantou. O Prefeito foi reeleito. Continuará com a sua ação antiecológica?

     Caturritas invadiram a cidade. Aquelas aves verdes, que adoram morar em eucaliptos e espantam pássaros de toda espécie. O terror das plantações. Invadiram a cidade. São tantos os eucaliptos e pinus plantados no município, árvores que alimentam as grandes empresas de celulose, que Bagé está sendo considerada, há vários anos, um município que está sendo dominado pelo "deserto verde".

     O deserto verde acontece em lugares onde há monocultura, principalmente de grãos ou árvores que exijam muita água. Em média, em sua fase de crescimento, o eucalipto exige cerca de 30 litros de água por dia. Como consequência, retira a água da vegetação nativa, matando-a. Seca várzeas, vertentes, poços artesianos, sangas... Resseca a terra de superfície na região toda e altera o regime de chuvas. Provoca a seca. E tem ainda um agravante: uma vez formada uma monocultura de eucalipto, quando chove, a água escorre e infiltra pouco. Por isto, além de consumir muito água, ele repõe pouca. Isto, com o passar do tempo, reduz drasticamente a umidade em toda a região onde são plantadas as grandes monoculturas de eucaliptos. Em períodos de estiagens isto se torna dramático para o povo, pois falta água para o consumo das pessoas e para matar a sede dos animais. O Pinus e a Acácia Negra provocam contaminação biológica, liquidando com a vegetação nativa.

     Além disso, as plantações de grãos geneticamente modificados levam à esterilização da terra.

     Nada é feito contra as causas da seca em Bagé e região. Sequer se fala a respeito. Esta é uma terra quase ecologicamente analfabeta. Há um grande respeito pelos fazendeiros e por seus interesses econômicos. Na última campanha eleitoral, os dois lados aparentemente opostos foram atrás do apoio dos grandes donos de terras.

     É provável que a próxima barragem seja construída antes de 2014, mas a seca continuará porque não há interesse em combater as suas causas. O povo, mal orientado pelos meios de comunicação que não investigam, quer a barragem; deseja eliminar os sintomas. O mesmo povo que talvez ajude a derrubar as árvores e a plantar as espécies exóticas causadoras da monocultura, do deserto verde e da estiagem crônica em Bagé. Não por acaso a ignorância e alienação são fatores fundamentais para a instalação de  ditaduras reacionárias.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com o Blogueiro. Em tudo que foi exposto na postagem. Postagem que levanta tópicos interessantes sobre a barragem famosa que nunca sai e principalmente os interesses políticos eleitoreiros deixando o povo sempre para trás. Parabéns! Na mosca!

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