terça-feira, 31 de janeiro de 2012

É UM JOGO?





É um jogo. Estamos todos febris. Olhos infantis nos olhos e as vidas nas mãos.
E os pés.
Quem tem pés para correr, para sobreviver no porão ou na mata?
Na mata? Não tem mata não tem mata, quem te mata, quem me mata, quem descobre o meu corpo escondido lá no fundo do mais fundo deste chão?

     Vai começar.
     É um jogo, não te assusta, não me assusta, não te encolhe, não me engole que eu te como, te devoro, é um jogo, só os ossos estão fora, tanta carne a partilhar, tanta bebida a beber, cadê a sorte?!
     Parece um trem.
     Mas não se deve tremer, por que se deve temer? É um jogo. Quantos pelos tem um gato acabado de nascer? Quem tem pelos, quem tem pulgas, quem tem pó, quem tem pureza? Quem se esconde na certeza? Ou na beleza? Ou na esperteza? Quem vai por a minha mesa? Quem tem medo da tristeza?
     É um jogo, é um logro. Ganho boi, quero boiada, quero vida na mordida, quero amor, quero amada, quero suco de goiaba – me dá teu sangue?
     Já é tanta a madrugada... Quem dá cartas? Olha as marcas!
    É um jogo, só um jogo, quero mais, quero bem mais, quero quero quero quero – me dá teu corpo? Por um pouco, só um pouco, um pouco instante de louco.
     É um jogo, é um bobo quem se joga assim no fogo. Estás com sono?
     Olha o sol e suas chamas! Um asteróide que passa, vuuufff!, quase me pega! Pedra louca... Será o fim do mundo? Qual é a próxima guerra? Outro ministro que cai, e o dinheiro pra onde vai? É um jogo? É um logro? É coisa de louco bobo? Quem tem fome? Quem tem sede? Quem insiste a reclamar? Olha a polícia!
     Olha o jogo a se jogar.
    Estão voltando. Deputados, senadores, secretários, faladores, vem chegando o carnaval. Fala sério, quem é sério no país do futebol? Deixa ficar, Brasil é assim, todo mundo engambela, tá na hora da novela, será que ele fica com ela?
     Olha o jogo, olha o lobo, olha o leão, olha o pato: a multidão. Quem tem goela grita gol, mas não foge da panela. Que panela? Olha o campo, olha o estádio, olha o juiz que ladrão! Deixa de olhar, vai dormir. Talvez um sonho feliz... Talvez a fada madrinha apareça como atriz... Ou meretriz. Só no jogo, só no sonho, só na noite entristecida. Queres vida?
     É um jogo. Quem te morde quer a pele, quer a carne, quer a alma e a solidão. Cadê teu chão? É um jogo ser mendigo ou é ficar de castigo? Talvez uma religião... te console, te enrole, te dê o infinito na mão.
     É um jogo.

      Ou não é. 
     Há dúvidas e discordâncias. 
     Pode ser uma visão. 
     Talvez um disco voador, um anjo na contramão, um pedaço de esperança, a que resta, lá no fundo, tão fundo que ninguém vê. 
     Pode ser até um ET vindo pra salvar a Terra, resgatar a Natureza da fome da motosserra, como arca de Noé.

     Metratron, Esganatron, Pluratron, Magnotron, todos os trons piedosos, Super-Homem e outros supers – tantas canalizações! Batman, Homem-Aranha, e no Brasil Super-Silva, o protetor das florestas, a divindade que resta, depois que o Saci-Pererê queimou o pé e fugiu num redemoinho gigante, ninguém sabe para onde.

     Para onde vai o povo que não tem terra nem teto, nem ternura nem afeto, nem Natal nem dia santo, que corre do próprio espanto de transformar-se em espantalho, em bóia-fria, em escravo, em um estorvo agrário?

     Povo de tantos padrinhos, padrinhos que viram padres, padres que fazem seu ninho no mistério do sacrário e se escondem em palavras quando surge a fumaceira.

     É um jogo ou não é quando juram a bandeira os que invadem favelas?

     Talvez reste a romaria, rezar tanto pra essa deusa ou pro deus que vem um dia... Ou é antropofogia. Macunaímas não sabem como comer ambrosia.

     Traz o santo padroeiro, traz a virgem Madalena, traz a santa Mega-Sena – quem me tira do atoleiro? Quem manda ser brasileiro?

     Meu Deus, chegou o fim do mês! Que beleza! Que tristeza!! Vai começar de novo... É um jogo. É um jogo?

sábado, 28 de janeiro de 2012

NOVA ESPERANÇA



Aqui é Vila Miséria. Não tem cinema nem shopping-centers. A água é sempre racionada, não tem canalização decente. Não tem luz de noite nas ruas. Não tem ruas, melhor dizendo, as ruas que tem foram criadas por nós mesmos, os moradores. Todos os que caem na miséria vem parar aqui, sem contar os miseráveis que já nascem miseráveis. Somos centenas.

     Moramos no Rio Grande do Sul, em Bagé, uma cidade que, vista de longe é bem iluminada à noite. E tem muitos carros. Me disseram que tem três carros por habitante. Devem gastar muita gasolina.

     O prefeito decidiu que o nome Vila Miséria é muito feio e trocou por Nova Esperança. Talvez esperando votos nas eleições. Eleições é uma boa época. Todos os candidatos nos visitam e trazem coisas. Dizem que gostam muito do povo, que tudo vai melhorar e que Deus é bom como eles.

     Natal também é um tempo esperado com ansiedade pelos moradores. Trazem cestas básicas, falam bem da gente e lembram que o Menino Jesus nasceu pobre. Coitado, até ele! Mas depois virou Deus. Nós não podemos virar Deus.

     Dizem que aqui tem 40 famílias. Não sei quem foi que andou contando, mas contou mal. Todo o dia chega mais gente. Constroem suas casas no canto que dá, com o material que acham por aí. Quando chove forte é uma devastação. Nos dias de calor é um horror! De vez e quando aparece um secretário, dizendo que vai fazer e acontecer, que conseguiu verbas pra transformar Vila Miséria numa vila de verdade. Ficamos esperando.

     O gozado é que Vila Miséria tá virando ponto turístico. Volta e meia aparece gente da cidade e a gurizada cerca os carros, com a mão estendida. Alguns dão, outros fogem correndo. Será que isso aqui é um zoológico? Até parece, porque somos tratados como bichos estranhos.

     Eu sou curiosa. Meu marido trabalha fora; não vou dizer onde, porque pode ser perigoso. Mas eu sou curiosa. Então, dia desses, apareceu outro dos visitantes com o filho na garupa da moto. Pararam em frente de casa. Me fiz de morta e fiquei observando. O pai dizia para o filho: - Olha só, tu que vive pedindo coisas sem necessidade toda hora! Olha a miséria dessa gente, olha as casas onde eles vivem, olha essas crianças magrinhas e esfomeadas e vê se aprende! O filho olhava. Daí a pouco ele disse: - Pai, mas eu tô vendo uma televisão naquela casa! O pai retrucou: -Tu não tem jeito mesmo! Vai ficar sem computador no fim de semana!

     Então, eu olhei para a minha televisão, que às vezes funciona, às vezes não, e que o meu marido trouxe não sei de onde e pensei “Coitado do menino que vai ficar sem computador no fim de semana. Tudo por causa dessa televisão”.

     Lembrei daquela vez em que apareceram duas mulheres distintas, bem arrumadas, falando com todo mundo, dando coisas e prometendo loisas. Parece que uma delas era candidata a vereadora. Não sei se foi eleita. Nunca mais apareceu. Quando estavam indo embora, ouvi a outra dizer pra candidata: - Por que tu me trouxeste aqui? Que pobreza! Já é uma pobreza falar em pobre e em pobreza, quanto mais ver!...

     O homem da moto já tinha ido embora, com o filho agarrado na cintura. Saí, recolhi a roupa e chamei as crianças. Era dia de mingau. Vieram correndo. Já estava anoitecendo e de noite até cobra aparece. Um perigo!

     Aqui é Vila Miséria, que agora querem chamar de Nova Esperança. Se quiser nos visitar, traga alguma coisa. Estamos esperando.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PIQUENIQUE NO PARQUE


Tentei chegar perto quando vi aquele montão de barracas. Já tinha visto de longe, porque eu sempre durmo no parque, a não ser nos dias de chuva, e a primeira coisa que imaginei é que tinham me tirado o lugar. Mas depois pensei: “é gente como eu, só que são um pouquinho menos pobres; tem até barracas”, e fui chegando perto, esperançoso de também encontrar comida, porque eu e meus amigos dividimos tudo, até os restos que achamos no lixo.

     Já era quase de noite. Fui chegando devagar, espreitando aqui, espreitando ali, sem ficar muito perto, porque vá que fossem da polícia... Quase eram! De repente, ouvi um grito de mulher: “Um mendigo!” É claro que sou um mendigo, não sei qual foi a surpresa e nem porque tanto espalhafato. Logo vieram outras pessoas e um deles me perguntou: “O senhor é de onde?” Ora vejam, que pergunta boba! De onde eu sou... Fiquei até pensando... De onde eu sou? Taí uma pergunta inteligente.

     Eu sou de onde der pra ser. De onde deixarem eu ser. Às vezes cato lixo, mas não paga a pena. Além de ficar todo esfalfado carregando aquele carrinho pesado o dia inteiro, fraco e com fome, quando entrego na fábrica que recicla o lixo dos que tem, recebo uma miséria. Moedinhas. E assim não dá! Por mais que digam que é trabalho e que é honesto, não dá pra sobreviver só com aquela honestidade. Coisa de escravo. Já não sou mais um moço; tenho minhas dores e minhas vertigens. “Qualquer dia caio morto”, pensei, no dia em que desisti de ser catador. As pernas doíam muito e não sentia mais as mãos. Mas de onde eu sou?

     “Eu sou ali da igreja”, expliquei, por falta de melhor resposta. Muitos riram, mas um deles ainda perguntou: “De qual igreja?” Tive que explicar que eu não podia escolher igreja; que ficava na mais próxima, quando podia ia para uma mais central onde passa mais gente e aproveitei para perguntar se eles tinham algum resto de comida, porque havia muita gente, tudo gurizada, e faziam comida aqui e faziam comida ali e tocavam violão e cantavam e falavam muito. Aqueles que estavam à minha volta pareciam já ter jantado. Tinham os olhos gordos e brilhantes. E logo uma das moças – bonita! – falou: “O senhor espere um momentinho aqui, que eu já vou lhe trazer um prato de comida.”

     Levei até um susto, esse tipo de coisa só acontece em época de Natal, e olhe lá! Mas acreditei. Sentei ali por perto, sobre um tronco caído, e esperei. Não demorou muito e veio um prato de comida, e até talheres.

     Comi. Comi. Comi. Comi de ficar feliz. Como é bom comer! Depois, entreguei o prato pra moça e perguntei se ela queria que eu fizesse alguma coisa em troca. Ela disse que não, que não precisava; que ali estava tudo muito bem organizado, pois era um acampamento da juventude. E eu pensei: “Então é piquenique, e dos grandes!”.

     Logo depois, vieram dois rapazes e me perguntaram se eu estava sabendo do Fórum Social. Disse que sim, para não parecer muito burro, mas que não sabia bem o que era, embora eu soubesse que existia, que estava acontecendo. Então, me disseram que era uma reunião com gente muito importante – reunião grande, que durava dias – para debater sobre como resolver o problema das maldades do mundo. Disse pra eles que a intenção era muito bonita, ainda mais se tratando de jovens, mas que não precisavam debater muito, porque as maldades do mundo estão bem à vista, era só olhar em volta.

     Foi quando um deles me falou que todas aquelas maldades em volta eram resultado de um modelo de política que eles queriam acabar e por isso se reuniam para debater a respeito. Vibrei! “E quando esse modelo acabar, eu posso não ser mais mendigo?”, perguntei. O que parecia mais esperto, ou mais falador, disse que sim, que quando aquele modelo errado acabasse eu seria tratado como gente, poderia até ter casa e emprego decente e assistência médica de verdade. Me entusiasmei e perguntei: “E quando vai ser?”

     O outro, que parecia mais compenetrado, disse que tudo iria depender do processo político, da conscientização das pessoas, da mobilização das massas. Aparteei, perguntando se até a semana que vem já dava para eu ter casa e emprego. Expliquei que eu já não era mais um jovem como eles e que não podia ficar esperando muito.

     Riram e saíram, me olhando com uma cara estranha. Não demorou muito e chegou uma moça dizendo que eu poderia dormir por ali naquela noite, mas nas noites seguintes não, porque aquele acampamento era vigiado pela polícia, que dera permissão só para a juventude ficar ali durante os dias do Fórum.

     Percebi que tinham desconversado, que era um piquenique mesmo, mas não me fiz de rogado. Agradeci, me afastei e fui dormir sonhando com o dia em que o tal processo político mudar. Parece que vai demorar muito, mas não custa nada sonhar. É só fechar os olhos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

DILMA E YOANI – QUAL A DIFERENÇA?



A blogueira cubana Yoani Sanchez – que acaba de receber visto para vir ao Brasil fazer propaganda aberta contra Cuba, apadrinhada pelo senador Eduardo Suplicy – disse que se sente como Dilma Roussef, quando a presidente estava presa. Nada mais verdadeiro. Só que Yoani confundiu as coisas. Naquela época, Dilma era de esquerda e Yoani sempre foi de direita.

     Mas agora as duas são iguais. O governo de Dilma dá saudades do governo Lula, mesmo e apesar do todos os mensalões. Dilma revelou-se quase uma ativista de direita. Provavelmente, depois de sua passagem pelas prisões da ditadura militar tenha sido convencida que a boa esquerdista é somente assistencialista. Quando muito. Está ao lado do deus Mercado e bajula o império.

     Dilma. Não o PT como um todo, porque há indícios de que ainda existem pessoas de esquerda no PT. São poucas, mas ainda estão lá. Mas Dilma, Zé Dirceu e todo aquele pessoal do Amplo – a corrente que realmente manda no PT – estão alinhadíssimos com as teses neoliberais da direita e, na prática, revelam amor ao capitalismo, que tem como uma das suas principais características saciar-se de corrupção.

     Yoani Sanchez – todos sabem – é uma agente mercenária dos Estados Unidos que usa o cyberespaço, através do seu milionário blog, para descobrir e divulgar os defeitos do governo de Cuba. Sua missão é formar opinião contra Cuba – ou desinformar e manipular o público ainda inapto de julgamento próprio.

     Ou todos não sabem? Talvez todos não saibam. Com tantas matérias veiculadas principalmente nos canais globais, que fazem da coitada Yoani uma heroína perseguida pelo cruel regime cubano, muitos assíduos de novelas e BBBs podem acreditar que isso é verdade.

     Alguns dados.

     Em 19 de abril de 2010, no Instituto George Bush, com o patrocínio da Freedom House, se efetuou o evento “Cyberdissidentes: Êxitos e Desafios”. De acordo com os organizadores, o encontro esteve destinado a: "analisar as condições das liberdades políticas na Internet e no mundo" - o que é o mesmo que imiscuir-se na soberania tecnológica, cultural e política daquelas nações que não se dobram à hegemonia de Washington.

     Entre os participantes, encontrava-se um grupo de blogueiros subordinados aos interesses imperiais, com uma destacada trajetória no desenvolvimento de ações de desinformação e manipulação contra os países de onde procedem.

     É o caso de Rodrigo Diamant, da organização Futuro Presente, da Venezuela; Arash Kamangir, do Irã; Oleg Kozlovsky, da Russia; Isaac Mao, da China e Ahed Alhendi, da Síria.

     Ernesto Fernandez Busto, um blogueiro de origem cubana radicado em Barcelona e que acaba de publicar uma declaração exortando aos dissidentes cubanos a não envergonhar-se de receber o dinheiro que lhes envia o império, foi o representante de Cuba.

     Depois disto, não resta a menor dúvida de onde surgiu e com que fins foi inventada a blogosfera contra-revolucionária cubana, onde sobressaem, além do convidado Bustos - editor do blog Penúltimos Dias - outros blogueiros mercenários como Yoani Sanchéz.

     O jornalista cubano M. H. Lagarde, diretor do site www.cubasi.cu, na matéria “Guerra Cibernética Contra Cuba”, afirma que a Freedom House recebe fundos da USAID e da NED, “patrocina visitas à Ilha para - sob o eufemismo de ajudar a formar líderes civis e políticos em Cuba - treinar contra-revolucionários e publicar reportagens distorcidas sobre os direitos humanos.”

     “Para cumprir seus objetivos, essa organização tem aumentado anualmente seus investimentos. No ano de 1999 foi de 275 mil dólares, em 2000, 500 mil dólares e para 2010 a USAID deu um total de 900 mil dólares.

     “E, como quando se trata de mercenários o pagamento é essencial, não é de estranhar que a nova cyberguerra patrocinada por Bush, além de traçar estratégias e treinar blogueiros, tenha entre seus principais fins pressionar Obama para que deixe de vacilações e descongele os quase 7 milhões de dólares que, de uma ou de outra forma, é destinado pela USAID para incrementar a cyberguerra contra Cuba.

     “O que deve corresponder aos blogueiros cubanos é o seguinte:

     “- 900 mil dólares para a Freedom House fortalecer os líderes da oposição cubana entre os artistas, músicos, comunidade negra e blogueiros.

     “- Dois milhões e seiscentos mil dólares para a Development Associates Inc. para ampliar a rede de apoio cubana que Washington criou e promover mensagens de Miami para Cuba.

     “- Dois milhões e novecentos mil dólares para o Departamento de Estado, para promover a "livre expressão" na Ilha, especialmente entre certos artistas, músicos, jornalistas e blogueiros.

     “- Um milhão, cento e cinquenta mil dólares para adestrar certas organizações, incluindo jornalistas e blogueiros em Cuba para utilizar as novas tecnologias da informática e das comunicações.

     “Esses fundos são os que estão em jogo em um evento que, por ignorância ou esquecimento, os amos dos novos mercenários efetuam justamente em outro 19 de abril - 49 anos depois da primeira derrota do imperialismo na América.”

     Dilma visitará Cuba na próxima semana. Dizem que é uma viagem estritamente comercial. Depois, irá a Washington fazer o relato das suas viagens, em outra visita estritamente comercial.

     Como o visto de turista já foi concedido a Yoani Sánchez, não é improvável que Dilma traga consigo a blogueira, quando voltar das suas viagens. Aqui, será apresentado um documentário contra Cuba, onde há depoimentos de Yoani e outros que tais.

     Yoani é do time de Eduardo Suplicy e vice-versa, mas já foi flagrada em algumas contradições.

     Em novembro de 2009, ela comunicou à imprensa internacional que tinha sido sequestrada e agredida por membros do governo cubano, mas não apresentava qualquer ferimento quando foi entrevistada.

     Na mesma época, divulgou que o presidente norte-americano Barack Obama respondera uma série de perguntas suas enviadas à Casa Branca. Posteriormente, documentos vazados pela Wikileaks comprovaram que um diplomata respondeu à entrevista de Yoani. De acordo com os documentos, sabia que Obama não era o autor das respostas.

     Yoani é muito premiada. Tem recebido prêmios de todas as instituições que apóiam a sua luta contra o governo cubano e desejam transformar Cuba, novamente, em uma grande praia destinada ao lazer dos muito ricos.

     Recebeu prêmios do Times, El País, do Foreign Policy, do Fórum Econômico Mundial, da Universidade de Colúmbia e não será surpresa se receber o Nobel da Paz. Talvez dividindo com Dilma.

     Certa vez, Fidel Castro, entrevistado por um jornalista estrangeiro sobre qual era a principal riqueza de Cuba, respondeu: "A principal riqueza de Cuba é o seu povo". Mas as gerações se sucedem.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

OS QUE COMEM


“Qual é o destino da gente?”, me perguntou Arnaldo Descuidista, ao acordar. Eu já estava acordado desde cedo, ou talvez não tivesse dormido, com toda aquela fome, que parece maior quando a gente não sabe como será o dia seguinte, nem a hora seguinte, às vezes nem o minuto seguinte, e a fome aumenta não por fome propriamente dita, mas pelo vício de comer, pelo vício de ter fome. Vocês já dormiram embaixo de viaduto? Não aconselho, é muito barulho, quente no verão e frio no inverno. Não tem ar condicionado e o teto costuma pingar quando chove. Mas é um teto, pois o importante é dormir embaixo de alguma coisa, porque dá uma sensação de resguardo e aquece a esperança. Esperança de que? Na falta de coisa melhor, esperança de ter esperança. Eu respondi para o Arnaldo que a gente vive para ter esperança. Ele me olhou com aquele olhar descrente que só o Arnaldo tem e disse: “Vamos tomar café?” Levantamos, pegamos as nossas coisas, colocamos nos sacos e saímos. Fomos de porta em porta, sempre escorraçados, e, quando já estávamos perdendo a esperança de ter esperança e a fome aumentava e os ouvidos zumbiam e nem o cigarro que encontramos perdido na calçada e que dividimos fumada por fumada nos alegrou um pouco e o Arnaldo já estava pensando em descuidar alguém, coisa que eu não sei fazer, porque as minhas mãos são pesadas e sem jeito - e por isso já fui preso algumas vezes e corrido da cadeia depois de uns tapas por não saber roubar direito - encontramos uma porta que se abriu e uma senhora nos disse: “Esperem um pouco, que eu tenho um restinho de comida”. Parecia um sonho. Esperamos, nos coçando de felizes e ela voltou com uma panela velha que nos deu dizendo que podíamos ficar com a panela e fechou a porta. Pensamos que ela ia chamar a polícia e saímos correndo. Quando cansamos, repartimos o que tinha dentro da panela e fomos lavar as mãos no chafariz daquela praça que fica ao lado da igreja. Lavamos as mãos e a panela. Nunca se sabe. “Aquela mulher é das que comem”, disse Arnaldo. Tem pessoas assim, pessoas que comem. A maioria se vira como pode, mas tem os que comem. Ficamos pensando. Daí, quando foi por volta do meio-dia e nós estávamos contando as moedas recebidas perto da igreja, Arnaldo lembrou da mulher da panela. Lembrou de ir lá pedir mais comida, mas eu disse pra ele que seria um exagero, um abuso, uma falta de vergonha e estávamos discutindo sobre isso quando vimos ela passar na outra calçada. Sozinha, curvada, baixinha, deveria ter mais de setenta anos. Todos a cumprimentavam e ela sorria para todos. Sem querer, a acompanhamos de longe e vimos quando entrou em um restaurante. Fomos chegando perto e paramos na outra calçada, espiando. Dava pra imaginar ela comendo. Às vezes nós ficamos imaginando, eu e o Arnaldo. Pensando nas coisas e imaginando. É bom. Quase tão bom como comer. Depois de um bom tempo, nos afastamos devagar e olhem só a surpresa! Ouvimos uma voz nas nossas costas que dizia: “Vocês dois aí!” Nos viramos e era ela, almoçada, satisfeita, talvez tivesse tomado um cafezinho depois do almoço... Estava risonha e nos falou que ia trocar cinquenta reais para nos dar quinze, porque percebia a nossa necessidade. Talvez tenha sido pela alegria de ter almoçado, nós nem tínhamos pedido nada. Logo depois ela voltou com os quinze reais na mão “Olhem, aqui tem quinze reais, mas peço que me devolvam daqui a dois dias, porque é o dinheiro da minha comida”. Ficamos olhando pra ela, apalermados. Depois o Arnaldo falou: “Minha senhora, não podemos ficar com o seu dinheiro, porque não queremos tirar a comida de ninguém”. E nos afastamos. Somos pobres, mas honestos. Às vezes comemos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O ESTADO POLICIAL



Satyagraha foi o termo usado pelo pacifista indiano Mahatma Gandhi durante sua campanha pela independência da Índia. Em sânscrito, Satya significa 'verdade'. Já agraha quer dizer 'firmeza'. Assim, Satyagraha é a 'firmeza na verdade', ou 'firmeza da verdade'. Satyagraha significa o princípio da não-agressão, ou uma forma não-violenta de protesto, como um meio de revolução. Satyagraha também é traduzido como "o caminho da verdade" ou "a busca da verdade".

     A operação Satiagraha, que teve início em 2004 e, em 8 de julho de 2008 teve como conseqüência a prisão de banqueiros, diretores de bancos e investidores, entre eles Daniel Dantas e Naji Nahas, além do ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, foi declarada nula em maio do ano passado (2011) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tornando inválidas todas as provas obtidas pela Polícia Federal.

     Revelações do delegado da Polícia Federal Carlos Eduardo Pellegrini, que atuou na Operação Satiagraha, indicam que a PF apreendeu, no apartamento do banqueiro Daniel Dantas, documentos que comprovam o pagamento "de propinas a políticos, juizes, jornalistas" no valor de R$ 18 milhões. Mas o STF anulou as investigações da Polícia Federal. Coisas assim não devem ser investigadas.

     Ficou famoso o habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes a Daniel Dantas. O procurador da República Rodrigo De Grandis, parte na causa, classificou como "ilegal e inconstitucional" a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, de conceder habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas. Para ele, o mérito do habeas corpus deveria ter sido julgado primeiro pelo TRF (Tribunal Regional Federal), para depois ser julgado pelo STJ e só então chegar ao Supremo. Mas Daniel Dantas continua solto, apesar de ter sido preso novamente.

     Dantas, quando estava preso pela segunda vez, teria dito ao delegado Protógenes Queiroz, num recado endereçado aos políticos e governantes brasileiros em geral, que ia contar tudo o que sabia, tudo sobre suas relações com a política, com os partidos, com os políticos, com os candidatos, com o Congresso, sobre suas relações com a Justiça, sobre como corrompeu juízes, desembargadores, sobre quem foi comprado na imprensa, sobre como pagou um milhão e meio para não ser preso pela Polícia Federal em 2004: "vou contar tudo sobre todos."

     Mas foi novamente solto por Gilmar Mendes e não foi possível vir a público tudo o que Dantas prometia revelar. Uma pena.

     Em matéria não assinada pela folha Online, Igor Gielow, secretário de Redação da Sucursal de Brasília daquele jornal afirmou que um "frio na espinha" percorreu o Palácio do Planalto com revelações sobre pessoas ligadas a Dantas e alguns membros de alto escalão do governo federal e do PT. “O Congresso Nacional ficou em silêncio e ninguém quer saber de uma investigação séria sobre o assunto. Dantas unificou a oposição e a situação, já que são notórias as suas ligações com parlamentares de ambos os lados. Palavras como "financiamento de campanha", "caixa dois" e "tráfico de influência" são sussurradas com um verdadeiro temor supersticioso.”

     O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu condenou em seu blog o que chamou de "espetacularização" da Operação Satiagraha da Polícia Federal. As investigações apontaram que o banco Opportunity, de Dantas, "utilizava-se de pessoas influentes no meio político" e, no relatório, listam dentre elas Dirceu.

     Lembram de todos os detalhes desse caso? São tantos os corruptores e corrompidos no Brasil atual, que a gente até esquece detalhes importantes. A corrupção está ficando notória e vulgar. No entanto, às vezes, os casos se relacionam.

     Pois o Naji Nahas também foi preso na Operação Satiagraha, que era um desdobramento do escândalo do “Mensalão” – e talvez também por isso a Operação Satiagraha tenha sido declarada nula pelo STF. O escândalo do “Mensalão” foi um esquema de compra de votos de parlamentares e a maior crise política sofrida pelo governo do Lula. Como os parlamentares comprados e compráveis eram da oposição, não há nenhum esforço claro para que os atuais réus, que são 38, sejam condenados.

     Os escândalos se permeiam. O do “Mensalão” começou em 2005 e foi abafado em 2006, embora o STF diga que vai julgar os réus, mas alega falta de tempo, aquelas coisas... Talvez depois do Carnaval... E a Operação Satiagraha veio a furo em 2008. Seria uma operação que daria seguimento às investigações do “Mensalão”. E os investigadores quase acabaram presos.

     Mas o Naji Nahas, muito amigo do Daniel Dantas, que tem certa simpatia pelo Gilmar Mendes, que é amigo do Lula e do Zé Dirceu... O Naji Nahas era o dono daquela região, em São José dos Campos, que foi apelidada de Pinheirinho. Ali existia a Selecta S/A, que faliu; e como a massa falida da Selecta S/A, de propriedade do especulador financeiro Naji Nahas tem uma dívida superior a R$15 milhões em impostos com a Prefeitura, o município pediu a reintegração de posse.

     É nesses momentos que a “Prefeitura”, o “Município”, o “Governo” deixam de ser do povo e se tornam entes invisíveis. É nesses momentos que a democracia tira a sua máscara e se revela como plutocracia – o governo dos ricos. E é nesses momentos que o Governo finge de bonzinho e diz que não, que não queria violência, aconteceu porque o governo municipal é do partido da oposição, mas agora está feito, que sente muito pelos feridos e prováveis mutilados, mas são somente povo que estava ali de maneira irregular, sem pagar impostos, apenas desejando viver e apenas viver não é de boa política nem enriquece quem detém o poder.

     Era uma terra que ficou abandonada por 30 anos e nela as pessoas foram construindo as suas casas. Mas quem manda neste país? Somos nós, o povo?

     Resultado: a reintegração de posse foi concedida, a polícia invadiu Pinheirinho, prendeu 16 pessoas, feriu outras tantas, um dos que resistiram à violência do Estado levou um tiro em uma das pernas, os quase sete mil moradores estão sendo levados para galpões improvisados, que lembram campos de concentração e o invisível ente que governa aquela cidade, em nome de um povo que não tem o direito de desejar viver, poderá dormir em paz.

     Isso acontece todos os dias no Brasil da mentira democrática. A pobreza é reprimida e marginalizada e os grandes ladrões continuam soltos. E quando alguns - como a Polícia Federal - levados pela crença de que vivemos em um estado de direito em que a busca da verdade deve ser firme e constante desejam revelar quem são os ladrões que estão por trás de toda essa pantomima, são obstados em suas ações por interesses que não tem nada a ver com o povo ou com a democracia.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

LUISA NÃO ESTAVA NO CANADÁ




“Luisa não estava no Canadá. Não a minha Luisa” – foi o que me disse um amigo meu do Orkut, que prefere continuar no Orkut, apesar dos scraps, e me mandou um longo e-mail explicando que Luisa, a sua Luisa, não estava no Canadá. Resguardando o seu nome, permitiu que eu publicasse.

     “Luisa nunca iria para o Canadá sem antes visitar a América Latina. E foi o que ela fez. Certa vez ela me disse que se tivesse que aprender alguma língua, seria o espanhol, que é tão universal quanto o inglês, sem os barbarismos que tornam esta língua demasiado sintética ideal para robôs.

     “Luisa detesta robôs; nunca iria à Disneylândia, jamais assistiu a uma festa do Oscar e certa vez me disse que considera o Canadá uma extensão dos Estados Unidos, com a diferença que lá também se fala francês, mas, em contrapartida, os canadenses ainda são submissos à Rainha Elizabeth II, embora se digam um povo independente.

     “Considera que o fato de eles falarem também o francês “já é alguma coisa” – disse Luisa, certa vez, quando conversávamos sobre geografia , costumes e idiomas. “Pelo menos o francês é uma língua derivada do latim. Uma língua que expressa algum sentimento de humanidade. Não é tão expressivo nem tem aquela fome de vida do italiano, mas é lindo de ouvir”.

     “Luisa gosta de coisas belas, de belos sons, de pessoas que trazem beleza interior. Por isso foi visitar os países andinos. Disse que gostaria de ouvir uma flauta andina tocada em plena cordilheira dos Andes e, quando Machu Pichu ainda não era moda, Luisa esteve lá, atenta, absorta, olhando os picos onde moram os últimos condores, tentando aprender o aimará – uma língua falada por mais de dois milhões e meio de pessoas, principalmente no Peru, no Chile, na Bolívia, na Colômbia e na Argentina. Luisa se apaixonou pela língua, que é considerada uma das mais belas e mais estruturadas. É muito semelhante ao quíchua. Os que defendem o parentesco entre as duas línguas citam como exemplo a palavra condor que é kuntura em aimará e kuntur em quíchua.

     “Naquela região habitaram os incas, uma das maiores civilizações das Américas. E o que sabemos nós sobre os incas, a não ser que foram destruídos pelos espanhóis e tiveram o seu último imperador, Atahualpa, assassinado em 1533? Muito pouco. No entanto, construíram pirâmides de até vinte e seis metros de altura, conheciam a agricultura irrigada, praticavam o comércio de trocas, porque não tinham moeda nem dela precisavam, conheciam música, culinária, artesanato, arquitetura, medicina e possuíam um regime social assemelhado ao socialismo, onde ninguém passava fome.

     “Entretanto, sabemos tudo o que é possível saber das antigas civilizações, mas muito pouco dos incas, dos astecas e dos maias, povos tão próximos e que nos deixaram um legado cultural que não sabemos aproveitar. Nós, os brasileiros, porque os demais povos à nossa volta procuram resgatar aquela cultura. E nada sabemos sobre o que realmente se passa aqui do nosso lado, como no Uruguai, Argentina e todos aqueles países, pequenos ou grandes que nos vêem de longe, porque não queremos aproximar-nos deles, temos um falso sentimento de superioridade que faz com que eles desconfiem das nossas intenções imperialistas.

     “Mas Luisa esteve lá. Passou dificuldades, andou por caminhos inóspitos, conviveu com pessoas que falam aimará ou uma mistura de quíchua com espanhol e aprendeu muito. Principalmente, aprendeu o que ela chama de “senso de latinidade”. Aprendeu a viver.

     “Agora ela quer visitar o Brasil. Isso de intercâmbio com países que passam por muito civilizados faz com que esqueçamos que moramos em um imenso país que só conhecemos – e muito mal – através da televisão.

     “Intercâmbio deveria haver entre os estados da nossa Federação e com os demais países da América Latina; na Europa, com Portugal. Ou vamos nos perder definitivamente em um mundo que não é o nosso, em uma cultura que nada tem a ver conosco, entre povos que pensam que toda latino-americana se chama Amparo e todo brasileiro necessariamente deverá se chamar José. E que fazem o possível para que esqueçamos a nossa verdadeira cultura.

     “Não. A minha Luisa não esteve no Canadá.”

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

GUSTAVO ADOLFO E DRICA DE BENFICA – O RETORNO


     - Gustavo Adolfo!

     - O que é Drica? Será que nunca vai perder esse hábito de gritar no celular? Eu não sou surdo!

     - Para algumas coisas você é surdo, amor. Lembra do colar de pérolas que eu pedi já faz tempo?

     - Hein? O que?

     - Eu não disse? Gustavo Adolfo, você viu o estupro no BBB?

     - Que é isso, Drica? Agora eu sou homem de ficar vendo novelas e BBB?! Eu tenho mais o que fazer. BBB é para...

     - Para o que, Gustavo Adolfo? Para mulheres que não tem o que fazer? Para menininhas, para tarados, para viciados em álcool e outras coisas, para...

     - Eu não disse isso Drica. Jamais diria. Até acho que é um programa bastante educativo. Um grupo de jovens que conversam sobre filosofia e assuntos do momento em uma casa fechada, cheia de câmeras...

     - Não brinca, Gustavo Adolfo, eu quero saber o que você acha. Foi ou não foi estupro?

     - Bem, considerando os prolegômenos que deram origem a atual discussão científica...

     - Prole... o que, Gustavo Adolfo? Agora você deu para falar difícil?

     - Drica, eu tenho andado muito ocupado. Talvez você não esteja sabendo da reforma nos ministérios...

     - Acharam outro ministro corrupto? Gustavo Adolfo, não me diz que você... Está tudo bem contigo? Não está preso, não é? Quer que eu te leve alguma coisa?

     - Drica, eu não estou preso. Aliás, estou muito bem. Desde que o Serra nos serrou nunca estive tão bem. Chegou o momento do retorno, Drica. Alguns ministros saem, outros entram, e com os ministros que saem também saem os seus secretários... Tá entendendo, Drica? Outros secretários e auxiliares entram – percebe Drica?

     - Você quer dizer...

     - O que eu quero dizer não devo dizer por telefone, mas já estive em algumas reuniões e os horizontes estão se abrindo. Todos sabem da minha competência como executivo e fui informado que até a nossa querida presidenta...

     - Querida presidenta, Gustavo Adolfo? Desde quando você...

     - Desde sempre, Drica, desde sempre... Você sabe que política é a arte de aproveitar o momento, como disse o filósofo.

     - Que filósofo, Gustavo Adolfo? Agora você anda com filósofos? Sempre achei que o seu negócio era outro. Você não estava lá no Xingu espantando os índios?

     - Espantando não, Drica. Procurando maneiras e soluções. Mas agora surgiu a reforma ministerial, entende Drica? Ótimos salários para o segundo escalão...

     - É claro que eu entendo, Gustavo Adolfo – ano de eleições, não é?

     - Não é isso que eu quis dizer, querida Drica – embora tudo se relacione e nada aconteça por acaso, como dizia Fu-Man-Chu em seus tempos de guerrilheiro, se a memória não me falha. Tristes tempos que não devemos lembrar jamais...

     - Gustavo Adolfo, estou te estranhando... Você não andou tomando algum chá religioso por aí, ou fumando o cachimbo da paz?

     - O cachimbo da paz, Drica, agora você acertou. Cachimbo da paz alegórico, mas da paz. Porque a paz é importante para os povos de todo o mundo. Sem a paz...

     - Gustavo Adolfo, você está bem? Quer que eu ligue outra hora, quando passar o efeito?

     - Que efeito, Drica? Estou apenas tentando te dizer que talvez o teu colar de pérolas...

     - Não me diz, amor!

     - Digo, e não demorará, se tudo der certo, e pérolas legítimas, Drica.

     - Meu Deus, como Deus é bom. Então eu devo chamar a presidente de presidenta?

     - É claro, Drica. Aliás, uma ótima senhora, dizem que muito bem educada. Não podemos viver eternamente entre o Ser e o Não Ser, porque seria o caos, e a nossa natureza não aceita o caos, não é Drica?

     - É claro, Gustavo Adolfo! Tudo que você quiser e disser, mesmo que eu não entenda. Pode até me chamar de burra, que eu mereço. Burra! Burra! Burra! Então essa troca de ministérios...

     - No momento certo, Drica. A política do país necessita de um impulso, e de pulsos fortes, como os meus - você sabe.

     - Se sei, amor! Estou tão contente! Mas quanto ao BBB, você não acha que foi racismo tirarem o coitado do rapaz?

     - Drica, neste momento histórico das nossas vidas não devemos nos ater a coisas de menor importância. O futuro dirá...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A ARTE DE MANIPULAR



Quem descobriu? Afirma-se que membros do Instituto Tavistock, sediado na Inglaterra foram os precursores das técnicas de degradação moral - sob palavras de ordem como “liberdade sexual” e “ninguém é de ninguém” – que visam fabricar uma nova civilização facilmente moldável aos interesses daqueles que estão instituindo uma Nova Ordem Mundial que, para ser aceita, necessita de pessoas fragilizadas que possam ser conduzidas, como um rebanho dócil, para o aconchegante redil dos múltiplos prazeres.

     Não só o Instituto Tavistock. O Comitê dos 300, o Clube Bilderberg, o Clube de Roma, A Comissão Trilateral e tantos outros clubes e organizações, assim como agências governamentais e sociedades pseudo-secretas, como os Illuminati, a Maçonaria e outras menos famosas, que trocam informações e põem em prática uma agenda que tem como principal objetivo a formação de um governo mundial, ou uma Companhia Mundial, “em que todos, dos governos às pessoas, serão subservientes a eles” – conforme afirma o escritor Daniel Estulin em entrevista à jornalista Denise Mota, em 11/11/2006.

     “É o que eles chamam de Governo do Mundo Único. Eu simplesmente não desejo viver sob essas condições opressivas, e meus livros lançaram a luz da verdade sobre os planos do Bilderberg. Mais do que qualquer coisa, entretanto, eu desejo que as pessoas adquiram pensamento crítico, algo que lamentavelmente está faltando nesta era de estupidificação da população” – afirmou Estulin.

     Mas para que seja assim é forçada uma mudança de paradigmas, uma aceitação passiva das pessoas em relação ao que está acontecendo ou ao que os donos do mundo querem que venha a acontecer. E uma mudança de paradigmas implica em uma drástica mudança de comportamento social.

     Manipulação da sociedade é com o Instituto Tavistock. De acordo com John Coleman, fundador do Instituto Tavistock, em seu livro “O COMITÊ DOS 300”, algumas premissas são necessárias para manipular a opinião pública:

     - “Se entendermos o mecanismo e os motivos da mente grupal, tornar-se-á possível controlar e arregimentar as massas de acordo com nossa vontade sem que elas saibam disso.”

     - “Se puder influenciar os líderes, com ou sem sua cooperação consciente, você automaticamente influenciará o grupo sobre o qual exercem liderança”.

     Bernays, um dos lideres do Tavistock, afirmou que “as elites que governam a sociedade podem e controlam os recursos de comunicação em massa para mobilizar e alterar a mente de “rebanho”.” Bernays, em 1955, escreveu um livro sobre sua experiência intitulado A Engenharia do Consentimento (The Engineering of Consent ) Esse livro se tornou o plano virtual do Tavistock, seguido pelos Estados Unidos para derrubar qualquer país cuja política fosse inaceitável.

     Técnicas de manipulação social as mais diversas foram descobertas e são aplicadas para que o público tornado em massa acredite que a opinião pública existe.

     Uma delas é a degradação da mulher, através do que foi chamado de liberação feminina, com a institucionalização da pornografia.

     O produto final de uma crise social e moral deliberadamente induzida, evidente em toda a parte: nos programas de “realidade” e de música nas rádios e televisão, que parecem ser amálgamas de todos os mais baixos instintos, nos filmes pornográficos (ou quase) passados nas maiores redes de cinema, na publicidade que vende mentiras e no jornalismo que vende 5% da realidade, se tanto.


REALITY SHOWS

     Shows de uma realidade inventada para ser passada para o público médio que declinou da sua capacidade de raciocínio, acreditando que o show é “a realidade”.

     Existem 45 versões do Big Brothers pelo mundo. A maioria deles são edições nacionais, mas alguns agregam vários países, como os da África, dos Bálcãs, Pacífico e Escandinávia. O primeiro Big Brother foi ao ar em 1999, na Holanda.

     Ora (direis) então é moda! E como toda moda, fabricada, induzida, lançada como experiência sociológica, para que se aquilate a reação do público; psicológica, para que se verifique a reação dos participantes à sua total mutilação moral. Em troca de dinheiro.

     E a principal chamada para que a massa assista a esses programas é a possibilidade de ver sexo. Como se as pessoas viciadas em televisão fossem incapazes sexuais ou somente capazes quando motivadas pela televisão. Violência também, porque muitas pessoas confundem sexo com violência. No BBB da Europa Oriental ocorrem muitas brigas e o público vibra.

     Um escândalo atingiu o Big Brother Austrália em 2006. No meio da noite, um dos confinados segurou uma colega, enquanto o outro bateu no rosto da garota com o pênis. No dia seguinte, foram expulsos. Mas o público adorou de maneira muito indignada.

     A segunda edição do Big Brother África teve um escândalo sexual ainda pior. Depois de muita bebida, duas sisters passaram tão mal que tiveram de ser carregadas para o quarto. Também bêbado, um confinado deitou no meio das duas, tirou a roupa delas, começou a acariciá-las e penetrou a vagina de uma das garotas com o dedo. A transmissão ao vivo foi cortada e médicos foram enviados para cuidar das confinadas. Mesmo assim, o brother Richard não foi expulso e ainda venceu o programa. Grupos de direitos das mulheres protestaram e até tentaram cancelar o BBA, sem sucesso.

     Bebida. Tudo é vendido em um Big Brother, desde as pessoas participantes às bebidas com rótulos à mostra. Também se vende – subliminarmente - arquitetura, móveis, decoração, roupas, penteados, palavras, expressões, gírias, “filosofia” de vida e muita sordidez. E se vende o hábito do alcoolismo. Vende-se a passividade, a ausência de auto-estima. Tudo e todos estão à venda. É um mercado de consciências, ou de inconsciências.

     Então, se houve ou não um estupro – e esperemos por mais – no Big Brother Brasil, o que isso tem de mais, não é? O povo brasileiro já está se acostumando com estupros de todo o tipo e vai acabar gostando.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A CONSPIRAÇÃO



Já desconfiávamos, havia uma quase certeza. Quase. Indícios sorrateiros apontavam para a possibilidade. Quando nos reuníamos, nos últimos lugares secretos da cidade, sempre nas noites de lua nova, que são as mais escuras, em nossa linguagem gestual discutíamos acerbamente sobre a Conspiração. Faltavam as provas, mas quem necessita de provas quando são tantos os indícios?

     Não estava a cidade sendo depredada a pouco e pouco? Não era notória a tristeza dos cidadãos que passeavam nas praças, tontamente, dando voltas e mais voltas, como em supremo desespero na tentativa última de esquecer como fora a cidade que se extinguia? Não ouvíamos gritos torturantes de jovens embriagados nas noites dos finais de semana, porque tinham perdido a referência e nada mais existia para eles senão os gritos, a embriaguez e a necessidade de expressão contida por muros que se perdiam infinitamente, esquinas que terminavam em esquinas, praças com árvores de acrílico e luzes que roubavam a beleza do céu?

     Quantas paixões não foram interditas naquelas noites de asfixia da alma!

     Começamos a observar os olhares e a pressa. As pessoas, antes tranqüilas, mesmo em sua pobreza solitária ou as que ostentavam a soberba de campos sem fim, olhavam de maneira arisca, fugidia, mal observando as coisas, quase não cumprimentando as demais pessoas que também se esquivavam como a desejar esconder-se ou buscar a invisibilidade das lojas, a avidez dos supermercados, a forçada alegria das indefinidas multidões em sua algaravia própria de bazares onde estão escondidos os milagres modernos, e sempre com muita pressa, como se perseguidas pelo tempo ou pelo destino, no soluçante ritmo da busca de necessidades forjadas, movidas pela eterna ansiedade que faz esquecer os sonhos.

     O que sonham os inquietos?

     Os mais moços - sabe-se - não sonham, saltitam. Os mais velhos, que trazem a sobriedade no olhar, mesmo quando a vida parece murchar e o tédio finge de companheiro caminham em nuvens de sonhos sem nenhuma urgência, mas os inquietos...

     Somos inquietos. Quando ousamos aparecer arriscando a nossa secreta identidade, até em noites de lua cheia ou em dias ensolarados, brindando com o cafezinho da intimidade nos quiosques onde se fala em futebol e não mais que futebol, buscamos os sinais da Conspiração. E estão todos à vista. Ou melhor, por não estarem à vista, por terem desaparecido, não devido ao tempo e suas iniqüidades, mas aos conspiradores e suas tramas é que temos a certeza da sua existência.

     Logo ali, onde agora se ergue um não sei que de concreto ou pouco além onde um nada de pequenos comerciantes agrícolas vende os seus produtos, havia o grande Mercado Público. Belíssimo! Foi destruído por promessas de progresso e uma pequena e estranha praça desprovida de árvores surgiu no lugar daquela beleza arquitetônica atestada pelas poucas e rasgadas fotografias que ainda restam - não no Arquivo Público, cemitério de saudades mortas, mas preservadas pelo nosso pequeno grupo, que nas solitárias e escuras noites incuba, lentamente, a desforra.

     Os teatros sumiram, um a um, devido a suspeitos incêndios. Os cinemas foram fechados ou transformados em lojas de departamentos, as casas mais antigas são alvo dos conspiradores. Lembram do Casarão? Em seu lugar cresce um detestável edifício. Lembram das árvores da Praça da Estação, da Praça de Desportos, das outras praças? Ficaram algumas árvores e não as mais antigas. Os verdes canteiros não são mais verdes. Nas árvores que restaram, caturritas espantaram os bem-te-vis e sabiás.

     Uma destruição gradativa e planejada, na ímpia tentativa de transformar a cidade que sempre amamos em outra cidade – uma cidade que eles, os conspiradores, desejam construir para os seus babélicos negócios.

     Mas estamos atentos. Até o bicho da Panela do Candal, depois de cansados anos de hibernação, veio juntar-se ao nosso grupo, desejoso de participar da resistência. Não agüenta mais olhar a cidade que se desmancha em falsos fulgores de festas de motociclistas e carnavais engaiolados em duas quadras de fingida alegria. Quer vida, mais vida. E nós queremos a nossa cidade de volta.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

CRACOLÂNDIA BRASIL



Triplicaram o número de policiais em São Paulo para tirar das ruas os viciados em crack, acabar com as cracolândias, se possível encaminhar as pessoas que consomem a droga para assistência médica. A imprensa não fala se está sendo feito o mesmo com viciados em outras drogas, e se supõe que não. Porque outras drogas são mais caras e servem a pessoas de classes sociais com melhor poder aquisitivo, que não ficam nas ruas expondo as suas misérias.

     O objetivo é limpar as ruas, as praças, os lugares onde se amontoam os zumbis que a sociedade fabricou, porque é feio, muito feio de se ver grandes grupos de pessoas que não mais raciocinam e mal conseguem falar, morrendo aos poucos em lugares que deveriam ser turísticos, atrapalhando a visão urbanística da cidade, impedindo os comerciantes de abrir as suas lojas e, o que é pior, pessoas que se transformam em bandidos para obter dinheiro para comprar o crack.

     Combate-se o efeito. Não estou ciente de nenhum combate à causa, de nenhuma operação contra os fabricantes da droga e não se pode usar a desculpa de que são fábricas clandestinas em lugares inacessíveis do exterior. Somos bobos, mas não tanto. É óbvio que as fábricas estão localizadas no Brasil e em lugares que, com um pouco de diligência e inteligência, poderiam ser facilmente localizados através dos traficantes – ou de outras maneiras que somente as nossas polícias sabem.

     Ou não sabem, porque nada fazem a respeito. Aliás, nunca fizeram nada a respeito. Nunca combateram a fabricação da droga. Nem tentaram, porque talvez haja interesse em dar aos mais pobres entre os pobres uma droga barata, que os impeça de pensar porque são tratados como drogas.

     E assim é tudo neste Brasil onde temos o governo de uma senhora que se mostra absolutamente incapaz de exercer o cargo de Presidente.

     As conseqüências, os efeitos são combatidos – quando o são – e depois que já se transformaram em desastres e tragédias. Não há qualquer política de prevenção, não se cuida o país e seus habitantes, nada é planejado, tudo é feito em cima da hora e depois que já aconteceu o pior.

     Vejam o que está ocorrendo em Minas Gerais, Rio de Janeiro - em toda a região Sudeste assolada pelas chuvas. É como se não houvesse Governo. Não só a Presidente revela a sua incompetência, como os governadores e prefeitos seguem o seu exemplo.

     E vejam o que ocorre no Sul e Nordeste, com a estiagem prevista de todos os anos desertificando a terra e acabando com as plantações. Sem contar que a desertificação da terra já vem sendo provocada há muito tempo pelos agrotóxicos, desmatamento e plantio de produtos transgênicos.

     E o desmatamento na floresta Amazônica e Mata Atlântica, ação incentivada por este Governo, através dos seus parlamentares que votaram um novo Código Florestal assassino e predatório? É a lei do mais forte e o mais forte é quem ostenta a motosserra como símbolo de poder.

     Essas causas de destruição são promovidas e incentivadas, porque o desejado é o lucro imediato. Este é um governo mercantilista.

     Quando surgirem as conseqüências – ou quando as conseqüências forem ainda mais visíveis –, assim como destruição da biodiversidade, genocídio e etnocídio das nações indígenas, erosão e empobrecimento dos solos, enchente e assoreamento dos rios, diminuição dos índices pluviométricos, elevação das temperaturas, desertificação e proliferação de pragas e doenças, o Governo pensará em fazer alguma coisa, destinará verbas, que serão desviadas, fará reuniões e dirá à imprensa amordaçada belas palavras.

     Ou será que isso já não está acontecendo?

     Não deslizam os morros devido ao desmatamento? Não morrem os rios devido ao assoreamento? Não diminuem os índices pluviométricos devido à falta de vegetação nativa e ao assoreamento dos rios? A erosão e o empobrecimento dos solos não é um efeito dos agrotóxicos e do desmatamento? As nações indígenas não estão sendo massacradas?

     Este é o país da cracolândia, onde os que se consideram muito espertos querem dinheiro na mão, mesmo que seja no meio do vendaval; mesmo que seja à custa da destruição e da devastação.

     A única coisa que se planeja no Brasil é o Carnaval.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A MORAL DO GRANDE IRMÃO



Você está gostando do BBB? Logo ficará melhor. O Grande Irmão está atento, principalmente com o Brasil. É um Big Brother muito grande e, por isso, os governantes brasileiros o temem. Observadores internacionais dizem que o presidente do Irã não veio e nem virá ao Brasil – que ainda é o maior país do continente, se acrescentarmos a Amazônia que deveria ser brasileira, mas agora é da Dilma – porque o atual governo não “sinalizou” a respeito. Medo.

     Já imaginaram se Dilma convida o presidente do Irã? A imprensa que hoje é “oposicionista” se uniria à imprensa que hoje é “situacionista” para lapidar a nossa quieta presidente. Tão quieta, que prefere ter ministros acusados de corrupção a demiti-los. Pelo visto, as férias na Bahia lhe deram régua e compasso. Compasso de espera até as próximas eleições. Demitir ministro, agora, só se for devido a uma corrupção tão escandalosa que ameace o seu governo(?).

     O OLHO ARREGALADO DO GRANDE IRMÃO

     O Grande Irmão está de olho em Dilma. Afinal de contas, o Barack Obama não veio ao Brasil, ano passado, apenas para tomar café da manhã com a presidente e suas amigas ministras. O representante do Grande Irmão veio dar alguns recados pessoais à representante do Pequeno Irmão. Muito pessoais. Tão pessoais, que não sabemos. O que sabemos é que assinaram acordos bilaterais. Antes, em 2010, o Lula tinha assinado um “acordo de cooperação militar com os Estados Unidos”. Assim, se e quando os Estados Unidos entrarem em guerra com o Irã (ou com qualquer outro país), se necessário o Brasil poderá ser convidado pelo Grande Irmão a participar do evento bélico, ajudando de alguma maneira a aterrorizar aquela parte do mundo.

     Já fazemos o papel de gendarmes no Haiti, ocupado pelos Estados Unidos. Logo estaremos participando da operação “cercar Chávez”, junto com a Colômbia. A desculpa será o combate ao narcotráfico. Ou às FARCs. Por que será que todos falam nas FARCs e não no ELN (Exército de Libertação Nacional), o outro grupo guerrilheiro da Colômbia? Tampouco a mídia uniformizada fala no EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), o maior exército guerrilheiro do México. E outros movimentos guerrilheiros da América latina, porque não são citados? Porque a mídia é do Grande Irmão, que não é nada sexy e revela a sua potência nas armas nucleares que acumula em silos como os de Israel, o seu território na Palestina.

     Israel desenvolveu um míssil, chamado Jericho III, que, com uma carga possível entre 1000Kg a 1300Kg, é capaz de transportar uma ogiva de 750Kg, com um alcance entre os 4800Km e 11500Km, podendo alcançar toda a Europa ou todo o Oriente. É o braço armado do Grande Irmão no Oriente Médio. Para além das armas nucleares, Israel possui ainda diversas armas químicas e biológicas, mais uma vez não sendo signatária ou tendo ratificado qualquer tratado relativo a este tipo de armas.

     MORDECHAI VANUNU

     O judeu Mordechai Vanunu, indicado para o prêmio Nobel da paz, escreveu uma carta para a Academia de Estocolmo e disse que não o queria. Disse que não pretendia figurar numa lista de agraciados que incluía Shimon Peres, o artífice das bombas nucleares israelenses. Mas depois aceitou o Prêmio Nobel Alternativo em 1987, e também o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Tromsø em 2001.

     A história de Mordechai Vanunu, o judeu mais perseguido pelos judeus, também não é contada pela imprensa amestrada. O Grande Irmão não deixa.

     Entre 1976 e 1985, Vanunu foi empregado como técnico no Centro de Pesquisas Nucleares de Negev, localizado no deserto de Negev, ao sul de Dimona. Agências de inteligência internacionais estimam que Israel desenvolveu armas nucleares já na década de 1960, embora o país mantivesse durante tal período uma política ambígua, nem afirmando ou negando a existência de armas atômicas.

     No início de setembro de 1986, Vanunu viajou para Londres com o jornalista Hounam e, violando seu compromisso de não revelar nada do programa nuclear israelense, desvelou o que sabia a respeito do programa para o jornal The Sunday Times, entregando inclusive fotografias que havia tirado secretamente durante sua estada em Dimona. Em 1986, foi raptado em Roma por agentes do serviço secreto israelense (Mossad), e levado de volta a Israel, onde foi julgado e condenado por traição.

     - "Eu não sou traidor ou espião – disse Vanunu. - Só queria que o mundo soubesse o que estava acontecendo". Ele também disse: - "Nós não precisamos de um Estado Judeu. Necessita-se de um Estado Palestino. Judeus podem, e têm vivido em qualquer lugar, logo não há necessidade de um Estado Judeu". Depois de muitos anos na prisão, Vanunu está sob liberdade vigiada em Israel.

     Israel pode ter bombas atômicas, o Irã não. Na verdade, nenhum país deveria ter o direito de desenvolver armas nucleares, mas que moral tem um país como os Estados Unidos, que desferiu dois ataques atômicos sobre civis na II Guerra Mundial, para impedir que outros países tenham as mesmas armas para a sua defesa?

     A moral do Grande Irmão, talvez. A moral do mais bem armado, como nos filmes de farwest. A moral dos que não tem moral.

     Mas Dilma não precisa ficar assustada: o presidente do Irã não virá ao Brasil. O Grande Irmão do Norte proíbe que ela o receba.
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