segunda-feira, 17 de junho de 2013

A DITADURA É ASSIM


São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, onde mais? O Brasil de Dilma está acabando. Passeatas. Durante a ditadura oficial foi assim. Ou não tanto como agora. Restringiam-se mais a São Paulo e Rio, com todo o apoio da mídia do sistema que desejava tirar a farda dos governantes e fingir de democracia. Nas eleições indiretas o vice Sarney conseguiu ser Presidente devido à estranha e providencial morte de Tancredo Neves, que não era muito confiável. Pior que isso: pertencia ao PTB de verdade que, na época, se travestia de MDB.

   Nas eleições diretas, a Globo elegeu o Collor e quando achou necessário o apeou do poder com uma passeata fabricada em estúdio, apelidada de “caras-pintadas”. Depois veio o Itamar – lembram dele? E o Fernando Henrique, em 1995, ano em que o TSE criou a máquina de votar, apelidada de urna eletrônica. Mais segura para os donos do poder, posto que mais fácil de fraudar.

   O grande medo sempre foi o povo. Em 1996 1/3 do eleitorado, cerca de 35 milhões de pessoas, votou nas urnas eletrônicas sem comprovante do voto conferido pelo eleitor. Em 1998 foram 2/3 dos eleitores e em 2000, 100%. Em 1999 surgiu no Senado o primeiro projeto de lei que obrigava as máquinas (urnas eletrônicas) a imprimir o voto para conferência do eleitor, criava a auditoria estatística de 3% das urnas a serem sorteadas depois da eleição, impedia a identificação do eleitor na mesma máquina onde fosse votar e obrigava o uso de software aberto nas urnas eletrônicas.

   Pra quê! Imediatamente os juízes ministros do Superior Tribunal Eleitoral exerceram forte lobby no Congresso Nacional e conseguiram, em apenas dois dias de 2001, 7 emendas ao projeto original com o objetivo de cegar novamente o eleitor.

- Foi adiada a aplicação do voto impresso para conferência do eleitor para 2004.
- Mandava sortear as urnas a serem auditadas antes das eleições.
- Permitia a identificação do eleitor na máquina de votar.
- Permitia ao TSE usar programas de computador fechados dentro das urnas eletrônicas, cujo código-fonte não são apresentados aos fiscais.

   Esta é a transparência da nova democracia brasileira. A democracia deles. Passaram a lenda de que democracia é sinônimo de votos, de eleições. A participação do povo termina nas urnas. Eletrônicas e fraudáveis. Eles dizem: “Se você votou está numa democracia”. Você retruca: - “Eu quero conferir o meu voto”. Impossível.

   Então você protesta. Não só porque desconfia das urnas eletrônicas, mas pela bandalheira, pela corrupção em todos os níveis, pela inflação, pela cultura do roubo, pelo uso do dinheiro público na construção de gigantescos estádios. Dinheiro que deveria ser usado na educação, que eles jogaram na lata de lixo; na saúde, que só existe para quem pode pagar; na reforma agrária, que foi deixada de lado; nos cuidados com o povo de um país cujo território está sendo desmatado e desertificado sofregamente, destruído pelas multinacionais aliadas do poder.

   Você protesta porque está sendo roubado diariamente e os seus representantes nada fazem porque deixam de ser representantes depois de eleitos. Protesta contra os assassinatos de indígenas, contra a construção de hidrelétricas devastadoras, contra a impunidade e, principalmente, contra a hipocrisia dos que desejam que você continue como o palhaço que bebe novelas e come futebol e informações pasteurizadas.

   Você protesta contra a seleção de futebol formada pelos milionários que desejam o seu aplauso para ficarem ainda mais ricos e desdenhosos do povo.

   Sai ás ruas gritando “Não!” e a “democracia” joga em cima de você os seus cães amestrados e fardados, ferindo-o com cassetetes, balas de borracha, gás de mostarda, gás lacrimogêneo - todas as armas disponíveis para serem usadas contra o povo, aperfeiçoadas desde a época da ditadura oficial para conter manifestações verdadeiramente democráticas.

   Você protesta, é esbordoado, reage e a mídia oficial o chama de vândalo e anarquista. Você não pode protestar nesta democracia que só lhe permite o direito de votar. Você pode fazer passeatas e manifestações desde que sejam por direitos das minorias, nunca afetando a ganância do sistema.

   No sábado, Dilma foi vaiada estrondosamente no estádio Mané Garrincha, em Brasília, e o presidente da FIFA pediu ‘fair play’ para o povo. É claro, senhor Blatter, vamos deixar a bola rolar, não é assim? Talvez seja o caso de gritar: “Os que são roubados e massacrados te saúdam?”

   Atos em apoio aos protestos no Brasil estão acontecendo no mundo inteiro. Ontem, domingo, centenas de pessoas se reuniram em Berlim, na Alemanha e em Dublin, na Irlanda. Nesta segunda-feira, novos atos em Boston, Montreal e em outras cidades da Europa e da América Latina.

   Aqui, sob o lema “A luta se nacionalizou” novos protestos devem acontecer nesta segunda-feira e pelo resto da semana, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Campinas, Florianópolis, Cascavel, Belém, Vitória, Niterói e Sorocaba, entre outras. A Primavera brasileira começou no fim do outono. Ainda há vida no povo.

Um comentário:

  1. Ótima e instigante matéria sobre o momento atual em nosso país. A análise reflete perfeitamente o Brasil de ontem e hoje. Parabéns!

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