domingo, 28 de setembro de 2014

AS PESQUISAS E AS URNAS




Não há esquerda nestas eleições. Ou por outra, há uma esquerda apagada, sem espaço para divulgar as suas idéias e os seus programas - representada por partidos como PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCO (Partido da Causa Operária) e, talvez, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Entre esses partidos existem pequenas divergências de linha doutrinária e, curiosamente, mesmo sabendo que as eleições são uma farsa criada para legitimar a nossa fraudada democracia, fazem questão de corroborá-la ao lançar os seus próprios candidatos. Talvez para que suas siglas se tornem conhecidas do grande e alienado público, mas o público alienado, mesmo sendo grande, não pensa, não raciocina e é facilmente manipulável. O mais correto para a verdadeira esquerda seria a união e, se a união é impossível no momento, a não participação em eleições com cartas marcadas deveria ser a opção mais saudável.

   Enquanto isto, o PT segue esbravejando que é de esquerda, Dilma e seus seguidores vestem-se de vermelho passando para a grande multidão dos amestrados que ser de esquerda é uma questão de aparência. Ou uma questão moral. No segundo caso, o PT é o partido menos indicado a falar de moral ou de ética, perdeu-se no lamaçal de contínuas corrupções e não sabe viver sem o vício cotidiano. No primeiro caso, as vestes vermelhas poderão iludir, este é o país do carnaval e muita gente gosta de votar em palhaços, malabaristas e outras atrações do circo chamado Brasil.

   E existe uma direita extremamente burra. Como toda direita, tende a ser reacionária, ou seja, a reagir automaticamente contra toda e qualquer mudança, mesmo as mais superficiais, como as promovidas pelo governo do PT com o intuito de chamar para o seu bloco de sujos as minorias até então discriminadas. A isso a direita chama de “comunismo”, revelando a sua incapacidade de raciocinar coerentemente sobre política, e nessa reação usa do maniqueísmo mais primário e não apresenta propostas progressistas, porque tende a ser estanque como um poço de águas paradas que deseja eleger-se para o status de rio, desde que todos os rios se transformem em poços.

    É essa direita retrógrada que faz do PT um partido de “esquerda”, ainda que o PT – e seus aliados do momento – faça uma política contra a reforma agrária, alie-se ao agronegócio das grandes empresas latifundiárias que devastam nossos campos e florestas, faça coligações espúrias com políticos que detêm votos a cabresto, como Maluf e Sarney, discrimine e criminalize a pobreza, pauperize o ensino e destrua a língua portuguesa, una-se às grandes empresas nacionais e internacionais, promova a privatização, entregando as nossas riquezas, atue no campo internacional apoiando descaradamente Estados Unidos e aliados – em ações como a invasão do Haiti e o cerco do Líbano -, consinta em deixar o Brasil como eterno país dependente de tecnologia, limitando-se às exportações e sinta-se confortável com o crescente aumento de analfabetos funcionais, fonte dos seus milhões de votos.

    A essas ações petistas a direita estagnada chama de “comunismo”. E tenta fazer com que militares enraivecidos e com mentalidade medieval partam para um golpe de força caso o PT não perca as eleições. O que seria um ato de covardia e desvendaria ainda mais a comédia da democracia consentida. Dificilmente acontecerá, porque o PT é o grande aliado da direita. Qual a diferença entre PT e PSDB? As siglas. Os dois partidos são a favor da privatização, promovem o neoliberalismo, aceitam a globalização impingida pelos meios de comunicação a serviço dos Estados Unidos, propõem mudanças cosméticas e são absolutamente contra o nacionalismo. O PT foi criado para promover o sonambulismo nacional, e está cumprindo a sua missão. Foi além, desejou mais do que o salário prometido e descobriu pântanos muito particulares. Mas é o partido ideal dos latifundiários e empresários de todos os setores. O partido capitalista por excelência. Golpear o PT é o mesmo que golpear o capitalismo em seu momento triunfal, quando se disfarça de vermelho e faz alegres passeatas ululantes.

     Resta o quê? A Marina? Quem é a Marina? O que é a Marina? Não é de esquerda, por que deriva do PT, mas demonstra sensibilidade e discernimento. Ao mesmo tempo, ingenuidade quando acena para políticos de todas as facções para formar o governo com os “melhores”, caso seja eleita. O que são “os melhores”? Os tecnocratas ou os menos corruptos? É acusada de ser evangélica - o que antes é um elogio do que uma acusação. Desconfio da mentalidade destrutiva dos ateus. As pessoas espiritualizadas defendem valores morais e são menos propensas a qualquer tipo de corrupção. Além disso, Marina é ambientalista, e não se pode dizer o mesmo de Aécio ou de Dilma - tão orgulhosa das suas predadoras usinas, notadamente a de Belo Monte.

    A princípio, Marina seria uma opção de pureza, quase uma ilha em meio a um oceano político depravado por perversões, em plena decomposição moral.

   De início, quando Marina foi lançada como candidata à presidência, logo após o suposto acidente que vitimou Eduardo Campos, a “oposição” se eriçou. Aécio não decolava, sequer chegava perto do aeroporto, e tratava-se de derrubar o PT. Para isso, servia qualquer um, inclusive Marina. Quem sabe ela poderia ser usada... Foi só no início. Naquele momento, as pesquisas a elevaram ao topo. Não confio em pesquisas, assim como não confio em urnas eletrônicas: ambas são passíveis de fraudes. As pesquisas manipulam a opinião pública; as urnas eletrônicas podem ser programadas, e delas não se pode pedir a recontagem dos votos.

    Depois, alguma coisa aconteceu, e não foram os discursos ufanistas da Dilma. Curiosamente, até o Aécio passou a hostilizar a Marina, refletindo o pensamento do PSDB, que é a outra face do PT. Ambos – PT e PSDB – sentiram medo de uma desconhecida terceira força, com a qual talvez não possam negociar cargos, conforme estão acostumados.

    Então as pesquisas mudaram. Se o Aécio não pode ganhar, que vença a Dilma - vaticinaram os áugures da “oposição”. E esse pensamento levou as pesquisas a revelarem um súbito desejo dos brasileiros de reeleger a Dilma. “Esta nós já conhecemos” – dizem entre si os amigos opositores. Quanto à Marina... Quem é a Marina? O que é a Marina? Dilma subiu nas pesquisas junto com o dólar, favorecendo as exportações. A política é um grande negócio, quem dá mais?

    Na ausência de esquerda, devido à repressão ao discurso ideológico, a direita esclarecida optou pela Dilma. Provavelmente, se houver segundo turno, grande parte dos votos do Aécio irá para o PT, apesar de todas as conhecidas (e as ainda desconhecidas) corrupções envolvendo setores do governo. A “oposição” sempre receberá a sua fatia. O que não se consente é a existência de uma esquerda de verdade no Brasil. Mais uma vez, estas eleições serão decididas entre a centro-direita e a direita. As pesquisas e as urnas se encarregarão do resultado.

Um comentário:

  1. Muito boa análise sobre os candidatos, eleições, esquerda, direita.... Parabéns!

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