domingo, 11 de outubro de 2015

A ESQUERDA DA DIREITA




Há quem acredite que ser de direita é o mesmo que ser uma pessoa “às direitas”. Pessoas assim com certeza serão de direita, porque não entendem nada de política e aceitam ser midiatizados. Ou serão de centro? Estranhamente, há quem acredite que existe um “centro” na política. Os que se dizem de centro – nem lá nem cá, muito antes pelo contrário – são meros oportunistas à espera de corruptíveis convites no balcão de negócios das câmaras de vereadores, assembléias estaduais ou Congresso Nacional. Ou em seus diversos ofícios. Na verdade, o “centro” não é uma posição, mas um paradoxo a todas as posições políticas. O centrista é, antes de tudo, alguém que se prostitui para quem dá mais.  Logo, é de direita.

A direita é aquela coisa conservadora, morna, inerme, amorfa, que reage a toda e qualquer tentativa de avanço social. E, ao reagir às naturais e inevitáveis mudanças na sociedade, é naturalmente chamada de reacionária. É formada no Brasil, por uma massa muito grande de pessoas igualmente mornas, que entendem que política é coisa ruim na qual não querem se meter, mas acabam “se metendo” quando qualquer modificação nas suas vidas acomodadas ocorre devido à política. Essas pessoas geralmente se dizem de centro, porque não sabem que são de direita. Simples analfabetos políticos.

         Sobre essa massa domina o que comumente é chamado de “elite” do poder, aqueles que se agrupam em torno de determinados objetivos comuns, formando oligarquias em defesa de seus interesses, geralmente vinculados a grandes negócios e que desejam determinar uma política conscientemente reacionária para o país, considerando que os pobres devem ser somente assistidos quando muito necessário, para que continuem pobres e dependentes de políticas assistencialistas. Costumam dizer que não existem divisões de classes e que os ricos são pessoas mais inteligentes que conseguiram a ascensão social devido aos seus méritos. Sob esse raciocínio dão a entender às massas medrosas que neles acreditam que qualquer um, independente da classe social em que nasceu, poderá chegar a posições de poder, desde que se esforce para isso.

É claro que omitem as causas da existência de pobres e ricos, porque insistem em afirmar que as diferenças sociais são passageiras, e a maioria dentre eles nada sabe sobre História, Sociologia, Economia ou teorias políticas. Ou apenas lêem aquilo que vai ao encontro dos seus interesses. Nitidamente, são contra a Filosofia ou a desejam idealista e estanque. Alguns pararam entre Parmênides, Heráclito e Zenão, entre o Ser e o Não-Ser, e lá estão vagando até hoje. Outros avançaram até Wittgenstein e se tornaram definitivamente niilistas; todos passaram por alto Marx, Engels, Lênin e demais teóricos socialistas. Medo.

Devido ao medo desejam preservar na ignorância as classes sociais inferiores para que continuem inferiores econômica e intelectualmente e essa inferioridade intelectual permite que as pessoas dessas classes se deixem manipular facilmente por todas as mídias, induzidas a aceitar clichês, verdades prontas como receitas de vida que levam à preguiça mental e ao individualismo, desejando libertar-se de toda a obrigação de solidariedade e só pensando em si mesmos.

O capitalismo é uma herança medieval do individualismo aliado ao autoritarismo e que tem como síntese a exploração. O que não impede que pessoas com vocação para vassalos adorem esse tipo de sistema. À mentalidade dos que preferem a vassalagem é mais conveniente aceitar do que contestar. Entendem que “aceitar” implica em ganhos pessoais, pequenas mutretas, diárias corrupções, jeitinhos muito brasileiros, e se consideram muito espertos e malandros. Vassalos são aqueles que aceitam todos os sistemas de governo, todos os regimes políticos, e são os primeiros a acenar bandeiras para o desfile dos corruptos, para a marcha dos generais ditadores, sob os quais se sentem protegidos.

A vassalagem é uma doença que surgiu no Brasil colonial e atravessou os séculos impávida, geração após geração, desafiando vacinas e remédios, conseguiu vencer as briosas revoluções que se lhe opuseram, derrotou valentes e destemidos e enclausurou-se nas salas de redação de rádios, televisões e jornais de quase todo o país, de onde expele os seus medrosos bafios, fazendo com que as novas gerações se tornem precocemente rançosas, individualistas e atemorizadas em relação a tudo o que possa sacudir o seu cultuado escrúpulo a quaisquer mudanças, entrem nas redes sociais em busca de pacíficas lições de vida e passem o tempo todo atrás dos prazeres receitados pela mídia senil e reacionária.

Nem todos. Aqui e ali, entre uma e outra geração e até entre os mais novos existem aqueles que se dizem progressistas e que tomam partido em associações políticas as mais diversas dentre o que se denomina de “esquerda”. Ao contrário da direita, que se organiza em torno de manter privilégios e forma um bloco compacto, desde simples conservadores que só desejam morrer em paz a explícitos fascistas que almejam a renovação das ditaduras, todas elas militares e repressivas com direito a alegres torturas e festejados assassinatos, a esquerda brasileira divide-se em várias facções que não só lutam contra a direita, mas adquiriram o hábito de brigar entre si.

Na aparência, devido a diferenças ideológicas, no fundo por inconfessáveis vaidades. Dentre os que se dizem de esquerda – que não se deve confundir com pessoas canhotas ou com aqueles que fazem o sinal-da-cruz e a continência com a mão esquerda – há grupos que assumem claras posições de direita e não sabem disso, ou, se o sabem, preferem fingir que ignoram, encontrando, ao mais das vezes, motivos escatológicos para o seu estranho comportamento.

Por exemplo, alguns partidos e associações sindicais supostamente de esquerda, neste momento de golpe oportunista preferiram unir-se ao “Fora Dilma!” da direita, fazendo manifestações nesse sentido, sob o pretexto de que tirar a Dilma seria a solução para todos os problemas que afligem os brasileiros. Inclusive, líderes desses partidos que se tornaram golpistas, afirmam que não existe qualquer ameaça de golpe, incitando os seus correligionários a apoiar as demandas da direita e – no máximo da cegueira política – afirmando que a “saída é pela esquerda”.

Como se fosse possível, neste momento histórico de um país que tem uma população a cada dia mais midiatizada e conseqüentemente reacionária, uma “saída pela esquerda”.

É claro que a Dilma não é a melhor das governantes, mas apoiar o golpe é passar atestado de fascista, mesmo que esses partidos que desejam tirar a Dilma – como PSTU, Psol e até o inerme PCB – gostem de vestir vermelho e gritar bem alto que são de esquerda.

Uma estranha esquerda golpista. O PCB, no tempo em que ainda era um partido revolucionário, tentou dar um golpe tipicamente de direita, a famosa intentona comunista que ficou no intento, na vontade, foi facilmente desbaratada e, mesmo que tivesse tomado o poder, não duraria dois dias por falta de apoio popular. Na mesma época, o Partido Integralista, de Plínio Salgado também intentou um golpe de Estado e teve o mesmo mesquinho destino. Hoje, o PCB é um partido que vive do passado, desistiu de ser revolucionário e faz o jogo da direita.

Quanto ao Psol, todos sabem que é um partido que deseja substituir o PT - assim como a Rede, de Marina Silva – e já se colocou no espaço apropriado que apelidaram de centro-esquerda (não confundir com o armador de jogadas de um burocrático time de futebol), pronto para receber os desassistidos da corrupção.

O PSTU, que tradicionalmente coloca todos no mesmo saco, e dele se exclui, ainda não disse a que veio. Revisionista, como o PCB, o Psol e o PT (e ainda o PPS, o PSB, o PPL e a Rede), é um partido igualmente de centro-esquerda, igualmente reformista, que lembra o Syriza, da Grécia, ou o Podemos, da Espanha – partidos que ao chegar ao governo, entregam-no à direita. Como o PT.

Quem pode gostar do governo do PT? Nem mesmo os petistas que, a esta altura, devem estar profundamente desgostosos e desconfiados com a Dilma. Afinal, ela faz todas as vontades da direita, escolheu um ministro das multinacionais – Joaquim Levy – para a pasta da Fazenda, que faz de tudo para executar as ordens do capital especulativo internacional, e uma ministra de extrema-direita – Kátia Abreu – que tem como missão favorecer os latifundiários.

Um governo assim é um governo de direita, não há a menor dúvida. Mas tirar a Dilma, auxiliando os golpistas sob a falsa mensagem de que a “saída é pela esquerda” quando os partidos de esquerda, ou de centro-esquerda, estão divididos, sem qualquer força popular e mínima representação parlamentar é uma mentira grotesca.

Quem assumirá o poder, após o golpe? Com certeza alguém de direita que, em dois meses promoverá eleições para que a direita corrupta e golpista tome de vez o poder e faça as reformas reacionárias que julgar necessárias que esmagarão totalmente os movimentos sociais. Uma esquerda que deseja o golpe só pode ser uma esquerda golpista, uma esquerda da direita.

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