quarta-feira, 4 de novembro de 2015

OS MERCENÁRIOS DO IMPÉRIO E A DIPLOMÁTICA TIMIDEZ DA RÚSSIA




Os Estados Unidos não só ajudaram a organizar o Estado Islâmico como continuam a auxiliá-lo através do envio de armas, munições e alimentos. Os túneis de mais de 15 quilômetros descobertos em várias regiões da Síria e que estão sendo bombardeados pela aviação russa provavelmente foram construídos por especialistas norte-americanos. Ainda em outubro, os Estados Unidos prometeram aumentar em quase U$100 milhões a ajuda à oposição síria, ou aos mercenários treinados por Washington. Além disso, Arábia Saudita, Turquia, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Omã, Bahrein e Kwait fornecem homens e armas para o Estado Islâmico e demais organizações que combatem contra o governo sírio. 
   No capitalismo não poderia faltar a indústria militar privada. Dentre tantas empresas de mercenários, destaca-se a Blackwater, considerada pela mídia ocidental como o “exército-sombra” dos Estados Unidos. A Blackwater conta com 23 mil mercenários em atividade, espalhados por nove países, e mais 20 mil contratados de prevenção. Sua sede é na Carolina do Norte e o Congresso norte-americano finge que não tem acesso a qualquer informação acerca da organização ou de suas atividades. 
   Desde que houve a certeza de que o Estado Islâmico é uma farsa, que não tem nada de Estado e muito menos de islâmico, voltaram-se as atenções para a Blackwater e não demorou muito para que algumas informações vazassem. De acordo com o Lebanon Press, os governos da Arábia Saudita e do Qatar estariam contratando mercenários da Blackwater. O jornal libanês informa que a contratação da empresa militar privada dos Estados Unidos é feita pelo príncipe Bandar Bin Sultan, chefe da Inteligência Geral e secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional da Arábia Saudita. 
   “(...) O destino das tropas de mercenários é o apoio aos grupos paramilitares que lutam na Síria contra o governo do presidente Bashar al-Assad, em mais uma evidência da ingerência externa no conflito. (...) A empresa norte-americana tem desempenhado um papel secreto na piora das relações nos países árabes alertados pela crise síria, que já transbordou as suas fronteiras. Exemplos são o Egito, a Tunísia e a Líbia, com ações como o assassinato dos opositores ao regime destes países e do ataque a instalações do Exército e da polícia. (...)” (http://www.dr-sergio-cruz.com/products/eua-infiltram-mercenarios-na-siria-pela-fronteira-de-paises-vizinhos/). 
   A Blackwater (leia-se Estados Unidos) formou batalhões de mercenários nos Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar, Turquia e Arábia Saudita. Depois de matar 17 civis no Iraque, em 2007, a Blackwater foi rebatizada como XE Services, ou Academi, mas o novo nome não pegou. O chefe nominal da agora Academi é Eric Prince, mas a Blackwater, ou Academi, surgiu graças a pessoas como Dik Cheney (vice-presidente de George Bush e Secretário da Defesa dos Estados Unidos entre 1989 e 1993; foi o principal articulador da Guerra do Golfo e um dos arquitetos da invasão do Iraque), Donald Rumsfeld (Secretário de Defesa de George W. Bush, entre 2001 e 2006) e Paul Wolfowitz (ex-presidente do Banco Mundial, idealizador da política externa de George W. Bush; organizador da invasão do Iraque) – a nata da intelectualidade reacionária dos Estados Unidos. 
   Em 1997, com a União Soviética dissolvida e a China domesticada, os Estados Unidos e aliados se organizaram para recolonizar o mundo. Essa recolonização foi definida No “Projeto Para Um Novo Mundo” (PNCA, na sigla em inglês). Em 2000, um documento chamado “Reconstruindo as defesas americanas: estratégia, forças e recursos para um novo século” lançou as bases para a nova estratégia imperialista – que incluía terceirizar o Exército norte-americano através de “agências de segurança” absolutamente acima das leis, como a Blackwater. A formação de mercenários não está restrita à Blackwater. Existem ainda a britânica Aegis e as estadunidenses Triple Canopy, Zapata, Titan e CACI, entre outras. A idéia básica dessa empresas é recrutar pessoas de todos os países, independente de religião ou raça, e transformá-los em psicopatas, provavelmente drogados, dispostos a matar em troca de dinheiro.  
   A experiência dramática na Guerra do Vietnã traumatizou o exército dos Estados Unidos, que saiu vencido da Indochina e com muitos dos seus membros discutindo a validade de uma guerra que só serviu para enriquecer as grandes empresas bélicas e causou milhares de mortos e mutilados. Aqueles soldados usavam alucinógenos, desde a maconha ao LSD, e não se mostravam muito guerreiros, exceto os que usavam cocaína. Na guerra de Kosovo, em 1999, há informações de que os soldados da OTAN estariam usando heroína e cocaína, o que os deixava imbecilizados e prontos a praticar qualquer crime. 
   Formar pessoas aptas para matar deve ser um dos lemas dessas empresas de mercenários, recrutados em todos os países. “Terceirizar” é a palavra da moda no mundo dos negócios, e os Estados Unidos provocam as guerras, mas usam soldados de outros países ou contratam mercenários, que são atraídos pelo dinheiro, pelas drogas e pela impunidade. Altamente treinados, os mercenários não tem quaisquer escrúpulos e são utilizados tanto para provocar “revoluções coloridas”, promover sedições, assassinar chefes de Estado ou em guerras como a da Síria e do Iraque.  
   Serviços secretos como a CIA estadunidense e o Mossad israelense os encaminham para as organizações onde devem servir – seja a al-Qaeda e suas ramificações ou o Estado Islâmico – que também é uma ramificação da al-Qaeda (leia-se CIA). Os mais inteligentes são infiltrados em diversos países e organizam novas células para insuflar futuras rebeliões artificiais. 
   Assim que a Rússia começou a bombardear o Estado Islâmico, na Síria, havia a impressão que a vitória seria rápida e a destruição dos terroristas uma questão de dias. Passou-se quase um mês, o exército sírio voltou à ação, os mercenários do EI estão sendo desalojados de diversos locais importantes, mas ainda conservam uma forte estrutura graças ao apoio de novos mercenários que entram na Síria através da Turquia, da Jordânia e da Arábia Saudita e, somente em outubro, mais de 50 toneladas de armas e munições foram jogados de pára-quedas por aviões dos Estados Unidos para os militantes do Estado Islâmico, da Frente al-Nusra e outros grupos terroristas, chamados pela domesticada imprensa ocidental de “moderados”. 
   Não existe moderação no terrorismo. Tampouco o terrorismo existente, principalmente no Oriente Médio, é resultado de grupos tresloucados ou facções muçulmanas fanatizadas. Os grupos terroristas que atuam na Síria e no Iraque foram organizados detalhadamente pelos países interessados em desestabilizar Síria, Líbano, Iêmen, Iraque, Afeganistão e Irã, para depois colocar governos fantoches nesses países, com o que tomariam conta definitivamente do Oriente Médio e de suas riquezas minerais, assumindo uma posição estrategicamente dominante, de onde poderiam controlar Europa, África e Ásia. 
   Para não sacrificar os seus exércitos, Estados Unidos e seus parceiros contratam mercenários do mundo inteiro, especialmente de países do terceiro mundo, e para que os mercenários não se pareçam com mercenários e ostentem alguma legitimidade aos olhos da opinião pública, são aparelhados dentro de supostas organizações nacionalistas ou religiosas. Os mercenários recebem toda a necessária infra-estrutura dos países interessados, o que inclui armas, alimentos dinheiro, uniformes, bandeiras, uma ilusória ideologia para os mais cegos e batizam seus grupos com nomes pomposos, como Estado Islâmico e Frente al-Nusra, para que a mídia cúmplice tenha claras referências para a sua propaganda em defesa do império e de seus vassalos. 
   A Arábia Saudita está contratando centenas de mercenários da Colômbia, os mesmos que combatiam as FARC em organizações paramilitares, aterrorizando e matando camponeses. De acordo com o Sputnik News (http://br.sputniknews.com/mundo/20151102/2625482/coalizao-contrata-centenas-mercenarios-colombianos.html) “O salário médio dos soldados da fortuna no Iêmen é de $1.000 por semana.” (...) “Foi alegadamente prometido aos colombianos a cidadania nos Emirados Árabes Unidos. No entanto, o TeleSur informou que é a Arábia Saudita que contratou os mercenários.” (...) “Os combatentes mercenários colombianos tinham sido anteriormente contratados por um exército mercenário secreto norte americano, a Blackwater.” (...) No início de outubro, a Arábia Saudita confirmou a chegada de várias centenas de tropas militares sudanesas; se espera que o número total das forças sudanesas alcance os 6.000”. 
   Observe-se que esses dois países – Colômbia e Sudão – estão ocupados por forças imperialistas. A Colômbia tem inúmeras bases militares dos Estados Unidos, que estão ali a título de “combater a guerrilha”, mas na verdade, apóiam-se na Colômbia e em seu governo entreguista planejando um ataque contra Venezuela, Equador e Bolívia. Talvez com o apoio do Brasil de Dilma Roussef (ou Aécio, qual a diferença?), que mudou radicalmente a sua política externa e, em fevereiro, votou a favor de uma resolução condenando a Síria.  
   O Sudão é um país em constante guerra civil e, assim como a Venezuela, tem imensos campos petrolíferos cobiçados por muitos países ocidentais e também pela China, igualmente imperialista e não improvavelmente aliada secreta da OTAN e dos Estados Unidos, apesar das aparências em contrário. O Sudão tem exércitos paramilitares formados por mercenários que podem ser deslocados para onde o império julgar necessário. E, no momento, o império deseja esses mercenários no Iêmen, a pretexto de lutar contra a guerrilha iemenita. Na verdade, para prepará-los para um contra-ataque na Síria. 
   Khalib al Attiyah, ministro de Relações Exteriores do Qatar declarou, em 21 de outubro: “Junto com nossos irmãos sauditas não descartamos nenhuma hipótese na hora de defender a Síria”. “Defender” significa atacar. “Se o Qatar puser em prática sua ameaça de intervenção militar na Síria, vamos considerar uma agressão direta e nossa resposta será muito dura” – respondeu o vice-ministro de Relações Exteriores sírio, Faisad al Mekdad, no dia 22 de outubro. Sabe-se que o Qatar é um dos principais patrocinadores do Estado Islâmico e no Qatar existe uma imensa base militar norte-americana, chamada Central Command, de onde drones partem regularmente em missões secretas por toda a região. 
   A Turquia não fica atrás. Com a desculpa de atacar os curdos, o exército turco está pronto para a guerra e já fez algumas incursões dentro da Síria para testar a sua força. Na Turquia está a maior base aérea dos Estados Unidos no Oriente Médio – Incirlik – a 110 quilômetros da Síria, onde acabam de chegar mais dezenas de caças F-15 dos Estados Unidos. Quando houve a queda do avião de passageiros russo no Sinai, o Estado Islâmico reivindicou o atentado e o presidente turco, Recip Erdogan, comentou - segundo a agência de notícias Emirates (WAM): “Como eu posso condenar o Estado Islâmico por derrubar um avião russo no momento em que nossos correligionários na Síria estão sendo bombardeados?” 
   Na terça-feira (3), Vladimir Putin admitiu implicitamente que o avião russo foi derrubado, ao afirmar que quaisquer tentativas de assustar a Rússia seriam inúteis. Assustar é a palavra certa. Ações terroristas têm o objetivo de assustar, intimidar, amedrontar o inimigo. Até agora, no entanto, não há sinais de que o Airbus russo tenha sido atingido por um míssil. Provavelmente foi derrubado por Israel/EUA através de ondas escalares, o raio de Tesla vem sendo utilizado seguidamente por várias potências interessadas em esconder os seus feitos maléficos. 
   A todas essas a Rússia tenta o caminho diplomático, aproximando-se da oposição “moderada” da Síria, aparentemente pactuando com o Ocidente para golpear pacificamente o presidente da Síria, fazendo exercícios com a Força Aérea norte-americana, entabulando negociações secretas... Todos os erros e equívocos inerentes aos maus diplomatas ou aos países que costumam andar em zigue-zague. Por certo já percebeu que não pode contar com a China – preocupada unicamente com as suas próprias muralhas – no caso de uma guerra com a OTAN e sente-se insegura em seu isolamento.  
   O próprio governo russo, com medo de uma guerra de desgaste já está começando a dar sinais de que poderá mudar de posição ao diminuir os bombardeios diários, conversar seguidamente com representantes dos Estados Unidos e, por último e mais surpreendente: o chanceler russo, Sergei Lavrov, declarou que a Rússia estaria pronta a ajudar o que denominou de “oposição patriótica”, referindo-se ao Exército Livre Sírio – grupo terrorista organizado pelos Estados Unidos. Ajudar a “oposição patriótica” é o mesmo que colocar-se abertamente contra o governo sírio – até este momento apoiado oficialmente pelo governo russo. 
   O que fazer? A Rússia é um país capitalista. Está havendo uma grande confusão entre os grupos de esquerda que acreditam que a Rússia ainda é a União Soviética ou mesmo um país socialista. Longe disso. A Rússia é um país capitalista e age como tal. A sua decisão de combater o Estado Islâmico tem duas razões principais. A primeira é evitar a expansão do exército de mercenários patrocinado pelos países da OTAN, ao mesmo tempo em que defende um governo ainda aliado e ocupa uma posição estratégica.  
   A segunda razão é apoiar a sua indústria bélica. Atualmente, a Rússia é o segundo maior exportador de armas do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Somente este ano o seu complexo militar-industrial alcançou a marca de U$70 bilhões em armas fornecidas, um acréscimo de mais de 13% em relação a 2014. E continua a crescer, vendendo para países como Índia, Argélia, Iraque, Líbia, Peru, Uganda, Venezuela e Vietnã. 
   Apesar de o governo russo usar um discurso antiimperialista, não se apóia em qualquer ideologia de direita ou de esquerda. Tampouco aceita as novas premissas ocidentais que propugnam o fim dos valores tradicionais visando provocar um caos mental e espiritual, um total liberalismo de costumes que está fabricando uma massa muito fácil de manipular. A Rússia é, talvez, o último país “à moda antiga” e o seu repúdio à falsa globalização liderada pelos Estados Unidos é tão natural como alguém que busca remédios contra uma doença infecciosa. 
   Essa postura sadia é mais ofensiva ao império do que se a Rússia usasse – assim como a China – uma falsa máscara ideológica. O império não aceita concorrência e fará de tudo para destruir a Rússia, uma vez que não consegue cooptá-la para os seus planos de dominação mundial. As grandes guerras sempre aconteceram entre países capitalistas que disputavam o mesmo mercado. A Rússia não deseja a guerra e por isto tem usado o esquivo caminho diplomático, que somente dará bons resultados caso não recue timidamente como a China tem feito desde a morte de Mao-Tsé-Tung ou como fez a União Soviética ao se dissolver, preferindo a obscuridade histórica.

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