quinta-feira, 30 de abril de 2015

PROFESSORES ENSINAM A LUTAR




O nome dele é Beto Richa. Recentemente foi eleito governador do Paraná. É do PSDB. Ele entende que democracia é o governo de alguns, cercados por policiais bem armados, contra todos. É o promotor do massacre de Curitiba, onde mais de 170 professores ficaram feridos depois que a PM os atacou com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo, jatos d’água e pauladas. Ele, o governador Beto Richa, do PSDB, defendeu a ação da PM. 

   De acordo com o JB virtual (http://www.jb.com.br/opiniao/noticias/2015/04/30/guerra-civil-no-parana/) “O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Damous, avalia que a polícia militar do Paraná, por ordem do governador, espancou de forma selvagem professores em greve na defesa de seus direitos que estão sendo esbulhados por um governo inconseqüente, incompetente e violento”. 

   Violência. Durante a ditadura militar o que mais se viu foi violência. Ninguém podia andar nas ruas tranquilamente, exceto eles. Qualquer manifestação popular era alvo de espancamentos. Nada mudou na ditadura civil e o governador do Paraná é um exemplo de gorila truculento que tem medo do povo. O nome dele é Beto Richa e pertence a um dos partidos golpistas – o PSDB. 

   Os professores estão nas ruas em todo o país para ensinar o povo a lutar. No Brasil, o povo está sendo violentado de todas as maneiras. Lembram que hoje, 30 de abril é o último dia para pagar o imposto de renda? E, em troca... violência e descaso. Em troca, o fim da Consolidação das Leis do Trabalho. Em troca, um governo vendido ao capital internacional. 

   Esta é a hora de sair às ruas e lutar – ensinam os professores. Chega de palhaçada, de um Congresso romariento e tiririca, de cunhas e calheiros corruptos, chega do Levy pago pelas multinacionais para destruir os direitos trabalhistas e entregar as nossas riquezas, chega de uma Dilma acovardada, de um Lula mentiroso, chega do país dos banqueiros e das safadezas a céu aberto. É hora de lutar, ou então, quando será a hora? E não esqueçam: o nome dele é Beto Richa.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O SUICÍDIO DA REFORMISTA ESQUERDA MEDROSA




O Mensalão tinha o objetivo de desviar dinheiro – o nosso – para pagar uma mensalidade para os trezentos picaretas dos partidos que não são declaradamente oposição e ficam o dia inteiro naquele balcão de negócios perguntando: “quem dá mais?”. Com isso, todos ficariam muito felizes e aprovariam os projetos enviados pelo Governo ao Congresso - desde que fossem projetos assistencialistas ou meramente demagógicos e não mexessem com as estruturas do poder. O Brasil deveria continuar capitalista, seguir o modelo neoliberal na economia, aproximar-se dos Estados Unidos e cumprir algumas missões visando diminuir a influência dos países bolivarianos e de Cuba no hemisfério sul. 

   Cuba, através do Raúl Castro, está sendo comprada pelo Obama e, por enquanto, não representa perigo para o império, principalmente depois que Fidel Castro adoeceu e ficou enclausurado, fora de todas as decisões importantes. Já os países bolivarianos é outro papo. Bem que o Lula tentou aproximar a Colômbia ocupada pelos Estados Unidos da Venezuela e fez uma grande onda com a libertação de alguns prisioneiros das FARCs. Quase deu certo. Nem os guerrilheiros colombianos, nem Chávez se deixaram enganar. Chávez foi morto e Lula foi substituído pela Dilma, que é isso tudo que estamos vendo. Ou isso nada. E os países bolivarianos continuaram bolivarianos, ou seja, independentes e procurando o seu caminho pacífico para o socialismo. A Colômbia permanece ocupada pelos USA e a guerrilha segue firme, entre um e outro armistício para tomar fôlego. Não é só na Colômbia: há guerrilhas no Peru, no Paraguai... Onde mais? Por incrível que possa parecer, determinados povos são bravos e não se deixam enganar facilmente pelos seus governos entreguistas.

   Depois da descoberta do Mensalão e o nosso dinheiro não sendo mais depositado para a turma do PP, PMDB, PR, PCdoB, PT e P sei-lá-o-quê - inventaram o Petrolão. Ou o Fernando Henrique já o havia inventado em priscas eras e o PT, para não perder o hábito, seguiu o exemplo. O Petrolão tinha a vantagem de - além de pagar todo aquele pessoal que pede dinheiro para votar nos projetos do Governo - incluir as grandes empresas e a nossa burguesia que, na verdade, obedece à burguesia internacional. 

Ao descobrir que todos são corruptos, o PT aproveitou para se corromper junto. O grande projeto nacional tantas vezes anunciado por Lula e amigos foi transformado em grandes transações internacionais. Através dos bancos o dinheiro roubado era “branqueado” ou “lavado”, tornando-se um dinheiro digno, impoluto, pronto para ser sujado de novo. Os bancos, todos eles, existem para lavar dinheiro sujo - ou alguém pensa que os bancos funcionam apenas como depósitos do dinheiro dos seus clientes? Esta é a fachada. O que seria dos bancos se não existissem as máfias? Não seria; já teriam fechado há muito tempo. E o povo que poupasse o seu dinheirinho embaixo do colchão. As máfias mais famosas são as oficiais, os bancos dos governos. É nesses bancos orgulhosos de sua riqueza que são depositados fundos de todos os tipos, desde os fundos de pensões até (adivinhem?) os fundos partidários.

Com a descoberta do Petrolão, bilhões pararam de circular, contas foram fechadas, aqui e no exterior, e os bancos foram coagidos a revelar o quanto os ladrões depositavam. Dinheiro que está sendo resgatado aos poucos, e os pobres dos bancos começaram a ver diminuídos o que chamam de “ativos financeiros”. A mamata estava acabando. E aí? Aí, os títulos da dívida pública começaram a ser cobrados e o Mercado (leia-se bancos internacionais) começou a duvidar se o Governo teria condições de pagá-lo. Se não pagar, quebradeira geral; se pagar, mesmo através de novos financiamentos, o Governo se salva, mas quem quebra é o povo. 

Sem contar que, para pagar os bancos, o país entra em recessão, milhares ou milhões de pessoas são demitidas de empregos públicos, não haverá mais incentivo para produção, pesquisa, ensino, saúde, etc. E o Governo dirá que a culpa é da inflação, causada pela oscilação do mercado financeiro internacional e outras mentiras que todos estamos acostumados a ouvir. A verdade é que o Governo está tão atrelado aos bancos que, sem eles, não existe. É um governo dos bancos e para os bancos, das empresas e para as empresas, e para pagar os credores que detêm os títulos públicos o Governo faz o que chama de “enxugamento de investimentos”: todo o dinheiro que iria para obras sociais é recolhido, ou “enxugado” e entregue aos bancos e fac-símiles. É claro que tudo isso é feito de maneira muito organizada pelo Banco Central, Fundo Monetário Internacional e outros conhecidos abutres.

Nem sempre dá certo, porque os abutres fazem de tudo para que o clima recessivo perdure o maior tempo possível. O que eles desejam não é o dinheiro do Governo, mas o lugar de onde vem todo esse dinheiro: as empresas nacionais. Se conseguirem a privatização das grandes empresas, liberam o Governo do pagamento e o país é entregue definitivamente em mãos das multinacionais e filiais brasileiras. Haverá o que apelidaram de “reaquecimento do mercado”, com geração de empregos devido aos novos investimentos e o povo se sentirá feliz por algum tempo e mal perceberá quando tiver perdido todos os seus direitos trabalhistas e o Brasil definitivamente será escrito com “Z”.

Para que o povo não acorde, passeatas e manifestações são organizadas, onde toda a culpa é jogada na governante do momento – a Dilma – que, assustada com a possibilidade de ser apeada do poder, faz o possível para que o Mercado fique satisfeito, inclusive empregando um ministro todo-poderoso, agente das multinacionais, que é chamado de Ministro da Fazenda, para satisfazer bancos e empresas. Enquanto isto, as passeatas, as manipulações estatísticas das agências de classificação de riscos, como a Moody’s, pedindo que não haja novos investimentos no Brasil enquanto Dilma governar, as manipulações nas pesquisas de opinião para fazer o povo acreditar que Dilma não tem mais nenhum apoio (onde estão os 55 milhões de pessoas que votaram nela?), as investigações na Petrobrás e em outras empresas públicas, que são alicerces do Estado, preparam o ambiente para a deposição de Dilma.

E por que depor Dilma, se ela está sendo tão boazinha com o Mercado, obedecendo a todas as orientações do Levy? Porque Dilma representa o PT e as conquistas sociais, por menores que sejam, e para que os conservadores e reacionários de toda espécie possam argumentar que o país está indo à falência devido à má gestão dos partidos de esquerda – que, de esquerda só tem o apelido – provocando no povo zumbi temor e repúdio a tudo o que for considerado de “esquerda”, a toda e qualquer transformação social.

É claro que o Lula mentiu quando disse que o Governo havia pagado a dívida externa ao FMI, quando, na verdade a transferiu aos bancos internacionais através de papéis do Tesouro. Caiu na armadilha e agora quem paga somos nós. Também é óbvio que o PT aproveitou o momento de ufanismo com a descoberta do pré-sal para roubar um pouco, e outro pouco para pagar a base aliada ou os partidos que se dizem de centro para receber dinheiro de todos os lados. Os mais corruptos dirão que a corrupção é endêmica, uma doença nacional, que todos têm seu preço... E se acreditarmos nisso seremos iguais a eles.

Foi com esse pensamento que o PT decidiu comprar o Congresso e quem mais se prostituísse. E quando acabou o dinheiro do Mensalão e do Petrolão, perderam a base aliada. Então, subitamente, PMDB, PP (antiga ARENA – partido da ditadura militar) e demais partidos acostumados à corrupção mensal, entraram em greve contra o Governo, decidiram que não mais aprovariam os projetos da Dilma, e, mesmo não sendo uma oposição oficial, fariam de tudo para que a Dilma se sentisse, no mínimo, desconfortável. Não adiantou receberem ministérios, secretarias, cargos de confiança. Não. Queriam dinheiro fácil. Vivo. Líquido.

E Dilma deu. Em última instância, na ausência do dinheiro desviado triplicou a verba do Fundo Partidário, sancionando um projeto dos corruptos políticos congressistas que aumenta de R$298 milhões para R$867,5 milhões. Dinheiro do orçamento de 2015, ano em que o Levy coloca o país em recessão e aprova a inflação desenfreada. Imediatamente políticos que até então pediam o “impeachment” e Dilma, mudaram o discurso, o Congresso tornou-se mais amigo da Presidente e todos esperam viver felizes para sempre até as próximas eleições. Ou antes. Na verdade, eles não desistiram de tirar a Dilma e colocar alguém de mais confiança – como o Temer ou o Cunha – que possa acelerar o processo de privatizações.

E o que faz a Dilma a respeito? Nada. Espera, talvez, um milagre que salve o seu governo. O que faz o PT (e os partidos supostamente a ele aliados, como PCdoB e PSOL)? Afasta-se covardemente da Presidente, revelando com isso a sua incapacidade de mobilizar as massas contra os avanços da direita sobre o monopólio estatal do petróleo; revela-se um partido impotente, governado por caciques que só desejavam enriquecer com o poder e que, se for extinto devido à sua debilidade corrupta, demonstrará o quanto uma falsa esquerda apoiada por intelectuais revisionistas e levemente reformistas – jamais revolucionários – pode fazer mal politicamente a uma nação que está sendo orientada, em sua maioria, ao individualismo reacionário e à alienação.

O golpe está acontecendo, a exemplo de 1964, mas, ao contrário da época de João Goulart, que tinha ministros como Darcy Ribeiro e Paulo Freire, e governadores como Leonel Brizola e Miguel Arraes e um povo decidido a resistir – o que só não aconteceu devido à renúncia de Jango para evitar derramamento de sangue -, o que se vê agora é um povo amestrado, induzido aos prazeres materialistas, que nada sabe de política e tudo conhece de futebol, refletindo claramente a mentalidade dos seus governantes incapazes, mentirosos e corruptos. Governantes que vem desde José Sarney, passando por Fernando Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e cristalizando-se na inépcia de uma Dilma, que, dizem por aí, um dia foi guerrilheira. Um golpe que somente será referendado pela direita, que, desta vez, nem precisará dos militares. O verdadeiro golpe ou suicídio político está sendo levado a cabo por essa pseudo-esquerda neoliberal e medrosa.

Depois do golpe confirmado, restará o Brasil a refazer. Todo ele, desde o seu mapa até a sua cultura. E, para isso, precisaremos de novas gerações mais fortes, mais aguerridas, mais valentes, com maior cultura e verdadeiro amor à pátria – assim como a Argentina atual -, ou imergiremos inevitavelmente sob a tutela dos Estados Unidos, a tal ponto que os que se consideram “modernos” somente falarão inglês e não será impossível, a exemplo de Porto Rico, que a nossa bandeira ceda lugar a mais uma estrela no pavilhão estadunidense.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

DILMA TERCEIRIZADA




A lerdeza e apatia da Dilma levam-me a pensar que talvez ela tenha sido terceirizada. Junte-se a isto o fato de ela ter adotado o PMDB como principal partido aliado, deixando o PT para segundo plano ou, ainda, medidas recessivas – exatamente as mesmas que o Aécio teria feito, em nome da “austeridade econômica”, mas, na verdade, a favor das multinacionais que cultuam o deus Mercado. Mais: Dilma está se afastando tanto das causas populares que partidos como PT, PCdoB, PSOL defendem a Dilma por obrigação e de maneira envergonhada.

   Nunca se viu um governo tão reacionário e entreguista no Brasil, somente comparado, quem sabe, à ditadura militar. Desta vez é uma ditadura civil que criminaliza o povo e não prende os políticos de esquerda, mas os marginaliza, não reagindo às manifestações que tentam criar uma cultura verde-amarela de cunho nitidamente fascista.

   Ostensivamente, pedem que Dilma saia do governo, mas poucos entre eles sabem que ela já saiu. Foi terceirizada. Preferiu brincar de rainha da Inglaterra, cedendo o poder ao Temer e ao Joaquim Levy. E ao Cunha, aquele estranho ser que usa bigodes que parecem postiços. E ao Calheiros, o rei da malandragem.

   Mas quem manda mesmo é o Levy, um legítimo representante da burguesia cínica e temerosa da força popular. Dilma quer mais é passear. Foi avisada pelo pessoal da Veja e da Globo que, se não se comportar direitinho perderá todas as mordomias de presidente. Pode viajar, fazer as vezes de representante do país, mas não mais que isso. Vez que outra é chamada pelo Levy para assinar a nomeação ou destituição de algum ministro. Assina e volta para o seu canto. Em alguns momentos, quando é obrigada a dar declarações à imprensa, ela decora o texto e faz o possível para não errar as palavras – o que é quase inevitável, porque sempre provoca risadas.

   Dilma foi terceirizada. Percebe-se que não é mais aquela pessoa de voz firme e decidida, cheia de planos para melhorar a vida do povo. Os planos sumiram, restou a voz cada vez mais claudicante. É a cara do PT. E do PCdoB. E do PSOL. Uma farsa vestida de vermelho. Ou azul. Ou verde. Ou amarelo. Depende do dia. Fora do Brasil, muitas pessoas ainda acreditam que ela governa, mas fora do Brasil acontecem coisas estranhas até com pessoas que nasceram aqui e esqueceram o Português. Vejam o Ed Mota. Não é de dar pena?

    Apesar disso tudo, mesmo que não saiba, pois os terceirizados costumam ficar em estado hipnótico, Dilma conseguiu a unanimidade da repulsa.  Os aécios, cunhas e outros que tais, volta e meia organizam passeatas pedindo para Dilma renunciar. Acreditam que é uma questão de perseverança e que qualquer dia ela faz uma viagem e não retorna. 

    O povo, através das suas organizações de classe, já percebeu que a única maneira de não perder totalmente os direitos trabalhistas é partir pra briga, e já está se organizando. A indiferente Dilma, mesmo desejando somente a paz das planícies tépidas ou dos planaltos açucarados poderá provocar, com a sua indiferença, uma revolução ou, eufemisticamente, uma ruptura institucional. E, quando deixar oficialmente o governo - provavelmente ainda hipnotizada -, ninguém sentirá a sua falta.

terça-feira, 14 de abril de 2015

JORNALISMO, PROFISSÃO PERSEGUIDA




Em 17/06/2009 os ministros do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello derrubaram a Lei de Imprensa ao acatarem um recurso extraordinário interposto pelo SERTESP (Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo), que contestava um acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que afirmou a necessidade do diploma, contrariando uma decisão da primeira instância em uma ação civil pública. Na época, o Ministério Público Federal sustentou que o decreto-lei 972/69, que estabelecia as regras para a profissão de jornalista, incluindo a obrigatoriedade do diploma, não era compatível com a Constituição de 1988.

   O arrazoado de 91 páginas do relator do processo, ministro Gilmar Mendes, foi seguido pelos demais ministros citados acima, e somente o ministro Marco Aurélio Mello votou a favor da regulamentação da profissão de jornalista. Os ministros Joaquim Barbosa e Carlos Menezes Direito não estavam presentes na sessão. Entre as razões levantadas por Gilmar Mendes, o relator destaca que a ação proposta pelo Ministério Público tem “o objetivo não apenas de defender os interesses individuais homogêneos dos profissionais do jornalismo que atuam sem diploma, mas dos direitos fundamentais de toda a sociedade (interesses difusos) à plena liberdade de expressão e de informação”.

    Dando a entender, portanto, que a obrigatoriedade do diploma profissional para o jornalista fere “os direitos fundamentais de toda a sociedade (interesses difusos)” – o que é um argumento totalmente difuso, carecendo de coerência e de lógica. Não conheço nenhum caso em que a “sociedade” tenha sentido restringidos os seus direitos em face da obrigatoriedade do diploma profissional para jornalista. Ficou patente, contudo, que além do SERTESP – que, enquanto sindicato, defende o interesse das empresas jornalísticas – o Ministério Público, ou seja, o Estado, através de seus representantes nos três poderes, está evidentemente desejando que o diploma de jornalista não volte a ser obrigatório para o exercício da profissão.

   Quais os interesses por trás disso tudo? O bom jornalista deve fazer sempre essa pergunta. Ora, a SERTESP, assim como muitos sindicatos patronais, tem grande interesse em aviltar a remuneração dos seus assalariados – os jornalistas. Logo, a maneira encontrada foi impetrar uma ação civil pública de inconstitucionalidade para que os diplomas profissionais da classe não sejam obrigatórios, dando ensejo a que os jornalistas percam os seus direitos, ficando extremamente vulnerados e sujeitos a ser despedidos a qualquer momento, por qualquer motivo, com as empresas lucrando sempre e contratando novos jornalistas pelo salário que desejarem.

    Isto é óbvio para qualquer um, menos para o ministro Gilmar Mendes e demais ministros que votaram a favor da ação, e, das duas uma: 1) ou esses ministros do Supremo não raciocinam com clareza – e, se for assim, quem está vulnerado é todo o povo brasileiro, sujeito a julgamentos de pessoas quase irracionais – ou, 2) pensam primeiro nas empresas e não nos cidadãos ou assalariados em geral – o que, se for verdade, revela que a ditadura do Judiciário é a maior inimiga do povo.

    Na página 90 do seu relatório e voto, o ministro Gilmar Mendes escreveu uma pérola: “Está claro que a exigência de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar”. Isto, porque segundo o seu juízo de que o diploma profissional não deveria ser obrigatório para jornalistas, Gilmar Mendes contrapõe a Constituição de 1968-1969, feita durante a ditadura através de Atos Institucionais, à Constituição de 1988 – que foi tão mal redigida que, a todo instante, novas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) são votadas no Congresso.

    Mas o que assusta é o simplismo do ministro. Segundo ele, o que foi feito juridicamente pela ditadura é ruim; a Constituição escrita após o período militar, com todas as suas lacunas, deverá ser necessariamente boa - uma falácia que vem sendo contestada diariamente. Além disso, em nenhum momento “intelectuais, políticos e artistas” deixaram de expressar os seus pensamentos – invariavelmente censurados. Os generais não precisavam de uma lei para evitar que determinados segmentos da sociedade se manifestassem: eles tinham a censura prévia e cortavam toda e qualquer exposição de pensamentos que não lhes agradasse. Mais que isso: prendiam, torturavam e matavam.

     Jornalismo é coisa muito séria, que necessita, sim, de um curso profissionalizante para quem deseja exercer a profissão e, muitas vezes, exige-se mestrado e doutorado para aqueles que postulam uma cadeira num curso de Comunicação Social. Até entendo que advogados que, devido às benesses do Poder, são guindados a ministros do Supremo Tribunal Federal, entendam muito pouco de profissões como Jornalismo e outras adstritas aos Meios de Comunicação Social. Vivem envolvidos em leis, nos seus castelos envidraçados, acreditando-se deuses. Infelizmente, este é um país excessivamente capitalista, que propicia a uma minoria um poder tão grande que os torna cegos em relação às demais pessoas que exercem profissões que não a advocacia. Mas não entendo quando pessoas que, se supõe, tenham grande saber jurídico possam escrever tantas bobagens com tanta empáfia.

    A profissão de jornalista é das mais perigosas, e deveria, no mínimo, receber algum respeito. De acordo com a Federação Internacional de Jornalistas, em 2014 mais de 100 jornalistas morreram exercendo a sua profissão. Na América Latina, 25 jornalistas morreram em incidentes violentos registrados no Brasil, Peru, Colômbia, República Dominicana, Honduras, México e Paraguai. Pagaram com a própria vida por denunciarem crimes como corrupção ou tráfico de drogas – e por não estarem protegidos por uma legislação que impeça ou dificulte a sua extrema fragilidade. 

    Mas essas são notícias que dificilmente saem nos meios de comunicação de massas, porque os jornalistas sempre estão sujeitos às normas da redação onde trabalham ou aos interesses dos donos das empresas de comunicação – e as mortes de jornalistas dificilmente são enfatizadas, a não ser em casos extraordinários que provocam conseqüências políticas, como os assassinatos no Charles Hebdo, na França. 

   Em outra parte do seu texto que condena a regulamentação obrigatória da profissão de jornalista, o ministro Gilmar Mendes argumenta: “O exercício do jornalismo por pessoa inapta para tanto não tem o condão de, invariável e incondicionalmente, causar danos ou pelo menos riscos e danos a terceiros. A conseqüência lógica, imediata e comum do jornalismo despreparado será a ausência de leitores e, dessa forma, a dificuldade de divulgação e de contratação pelos meios de comunicação, mas não o prejuízo direto a direitos, à vida, à saúde de terceiros”.

    Percebe-se a inabilidade do ministro para julgar o Jornalismo como um todo. Limita-se a jornais e revistas e de uma maneira tão pequena que ele próprio parece um leitor limitado. Por outro lado, entende, talvez, que prejuízos a terceiros, quais sejam os citados, relacionam-se apenas com delitos que prejudiquem a saúde física, a vida ou direitos individuais. Desconhece o ministro que o Jornalismo, atualmente, engloba todos os veículos de comunicação, e não somente jornais e revistas. Um bom curso de Comunicação Social, além de técnica e prática de redação em jornais e revistas, tem matérias como: rádio, televisão, cinema, produção editorial e direção teatral, e todas as disciplinas relacionadas com Relações Públicas, Marketing e Publicidade e Propaganda, além de conhecimento da internet.  

    A grade básica de qualquer curso médio de Comunicação Social exige o aprendizado de Ética e Legislação, Psicologia, Português, Filosofia, Língua estrangeira, História da Comunicação, Estatística, Planejamento e Produção de Campanha e Apresentação de Campanha. Pode-se e deve-se agregar a essa grade disciplinas que tratem de Sociologia, Economia, História, Geografia, Ecologia... E são pré-requisitos Linguagem Gráfica, História da Comunicação, Comunicação e Artes, Comunicação e realidade brasileira, Teoria da Comunicação, Comunicação e Filosofia, Linguagem audiovisual, Sistemas e tecnologias da Comunicação, Fotografia, Antropologia e Comunicação e tantas outras que só quem fez o curso sabe das imensas dificuldades até alcançar o bacharelado. 

   Em todas essas matérias, que são inter-relacionadas, e em Teoria da Cultura de Massas, aprende-se o quanto um mau comunicador ou um mau veículo de comunicação pode fazer mal a um público massificado, composto por pessoas desacostumadas a pensar por si próprias, a desenvolver senso crítico e que podem ser facilmente manipuladas, aculturadas e levadas a acreditar em “verdades” que, a médio e longo prazo tendem a destruir a cultura nacional e imbecilizar o povo. E, geralmente, programas que prejudicam mentalmente o grande público, levando-o à alienação, e, muitas vezes, à idiotia, são produzidos por empresas que pretendem monopolizar o mercado, servindo a interesses anti-nacionais e conduzidos, ao mais das vezes, por pessoas que não tem uma sólida formação profissional, os chamados “práticos”. Não podem existir maiores danos do que esses. Os males físicos podem ser tratados, enquanto a massificação gera robôs programados a repetir clichês e a aceitar o mundo conforme lhes é mostrado por esses veículos de comunicação. 

   O jornalista deve ser obrigatoriamente um profissional formado por uma boa faculdade de Comunicação Social para que se evite que pessoas que não conhecem a profissão – como padeiros, costureiras, médicos ou advogados, por exemplo – façam do jornalismo uma mixórdia tão grande que leremos, assistiremos e ouviremos somente programas sobre culinária, moda, leis e medicina. É claro que esses programas são importantes, porque o Jornalismo, ao contrário das demais profissões, abrange todos os assuntos e não pode se limitar à repetição de notícias selecionadas por agências internacionais. O jornalista deve ser alguém que, terminado o curso, deve se interessar em buscar informações em todas as fontes possíveis, mesmo quando a pauta do veículo onde trabalha não as estipula. 

   E leitura, muita leitura. Quem deseja ser jornalista deve dedicar um mínimo de duas horas por dia à leitura. E não só os livros indicados no curso, mas livros de todos os tipos, principalmente os clássicos, além de bons romances, realidade brasileira, política internacional, sociologia, filosofia... tudo. Tudo o que cair nas mãos. Assistir programas de televisão (com senso crítico), ler dois ou três jornais por dia, para que possa estudar e analisar técnica de redação, discutir assuntos do momento com os colegas, participar ativamente dos laboratórios, editar jornais, programas de rádio e televisão, filmes, passar horas fotografando, navegar na internet, fazer um site ou um blog, buscar informações em sites estrangeiros totalmente fora de mídia, investigar, pesquisar, ir atrás. 

    Jornalismo é coisa muito séria e dinâmica. Por mais que os donos das empresas de comunicação insistam que basta copiar o que as agências de notícias mandam para as redações, o jornalista deve ter em mente que isso é muito pouco em um mundo tão vasto, onde as informações pipocam a cada instante. E mesmo que muitas notícias não possam ser publicadas porque a política da empresa não permite, o conhecimento é essencial para o jornalista, que não pode se restringir apenas a redigir e a entrevistar. Para ser jornalista de verdade é necessária uma sólida base profissional. 

    É claro que antes das faculdades de Jornalismo e de Comunicação Social existiam somente os práticos, pessoas que se dedicavam ao Jornalismo dia e noite, muitas vezes por motivação política. No entanto, se observarmos bem, todas as profissões tiveram, em seu início, práticos. As primeiras universidades ocidentais surgiram na Idade Média, a princípio ensinando o Trivium e o Quadrivium – as chamadas artes liberais, constituídas por disciplinas como lógica, dialética, retórica, aritmética, música, geometria e astronomia. Os nobres e mercadores necessitavam que seus filhos aprendessem o básico para que pudessem gerir, posteriormente, os negócios da família. No âmbito dos estudos superiores, a maioria dos filhos dos donos do poder aprendia Direito, Medicina e Teologia.  

    Os primeiros professores que ensinavam essas matérias, no entanto, não estudaram em universidades, porque estas ainda não existiam. Eram práticos nas suas profissões, ainda não consideradas como profissões, mas atividades necessárias para o funcionamento da sociedade. Com o passar do tempo essas atividades foram adquirindo caráter de especialidades, com seus conceitos, regras, fundamentos e conhecimento específico. Todas as principais profissões nasceram devido ao esforço de pessoas que não eram profissionais e sim curiosos que se dedicaram a desenvolver um saber particular, transformando-o, aos poucos, em cursos ensinados em escolas e universidades. Da mesma forma o Jornalismo, que teve grande impulso com a impressora por tipos móveis, inventada por Gutenberg, em 1439.  

    O primeiro jornal de que se tem notícia foi o Acta Diurna, em 69 d.C., que informava a população romana sobre fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções. As notícias eram colocadas em placas brancas expostas em locais de grande acesso ao público. Na China, jornais escritos à mão surgiram no século VIII. 

    A partir da prensa móvel de Gutenberg surgiram os jornais modernos, geralmente divulgando notícias mercantis, mas havia aqueles que se dedicavam ao sensacionalismo. Em Veneza, o governo lançou o Notizie Scritte, em 1556, que era vendido ao custo de uma pequena moeda chamada “gazetta” – e foi com o estranho nome de Gazeta que apareceu o primeiro jornal impresso no Brasil, em 1808: a Gazeta do Rio de Janeiro. Com o surgimento do telégrafo, em 1844, do rádio, nos anos 1920, da televisão, nos anos 1940, e da internet, ao final dos anos 1990, o Jornalismo tomou um gigantesco impulso, sendo utilizado pelos governos de todos os países como máquina de propaganda. 

  Ainda durante o século XX, os estudiosos perceberam que estava sendo formada uma massa sequiosa por informações, que acreditava em tudo o que era veiculado e, portanto, fácil de ser manipulada. Formaram-se, então, as grandes agências de notícias, geralmente vinculadas aos dominadores do mundo e, através delas, as notícias são filtradas e vendidas para todos os veículos de comunicação associados, de modo que essa massa possa ser “orientada” ora para um lado, ora para outro, apoiando ou se opondo a determinado grupo de poder, muitas vezes sendo levada a grandes manifestações que acabam destituindo um governante ou mudando um sistema de governo.  

    Os indivíduos que compõem a massa são induzidos a acreditar que são eles, espontaneamente, que provocam essas mudanças. Sabe-se que as “revoluções coloridas” ocorridas em diversos países têm sido patrocinadas pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e aliados com o objetivo de desestabilizar governos considerados indesejáveis e promover golpes de Estado. Para isso concorre não só a internet, através das redes sociais, como determinados jornais e redes de televisão e rádio ligados aos centros de poder. E as pessoas são usadas acreditando que estão participando de uma grande festa democrática quando, ao mais das vezes, não passam de títeres inconscientes. 

   Ao escrever que “O exercício do jornalismo por pessoa inapta para tanto não tem o condão de, invariável e incondicionalmente, causar danos ou pelo menos riscos e danos a terceiros” e, ainda: “A conseqüência lógica, imediata e comum do jornalismo despreparado será a ausência de leitores e, dessa forma, a dificuldade de divulgação e de contratação pelos meios de comunicação, mas não o prejuízo direto a direitos, à vida, à saúde de terceiros” Gilmar Mendes (e os ministros que acompanharam o seu voto) revela-se incapaz de entender o universo da comunicação de massas que provoca danos psicológicos e culturais a terceiros, levando-os a esquecer a própria capacidade de raciocinar com clareza, danos esses que só tendem a aumentar à medida que pessoas sem qualquer formação ficam encarregadas de selecionar e organizar o conteúdo dos veículos de informação – ou de simplesmente redigir, de maneira claramente inapta, o que só concorre para a deseducação do público leitor. Aliás, o ministro cai em flagrante contradição ao dizer que “o exercício do jornalismo por pessoa inapta (...)” - uma vez que se a pessoa é inapta não tem aptidão ou capacidade de exercer o Jornalismo. 

   A afirmação de que o Jornalismo despreparado tende a perder leitores é um equívoco. Na sociedade de massas a personalidade desagrega-se sempre que as pessoas são incitadas a agir em conjunto sob determinadas motivações subliminares provocadas pelos meios de comunicação social que as torna indivíduos participantes de uma massa e não pessoas com determinada personalidade, cultura e formação. E a massa é levada a acreditar, sob apelos os mais diversos que atuam diretamente no subconsciente – principalmente em países como o nosso onde a cultura é menosprezada e a educação é mínima -, que matérias jornalísticas mal feitas ou consideradas “leves” são mais fáceis de serem entendidas e que programas de entretenimento que nada acrescentam e divulgam a cultura chula ou a anti-cultura que favorece a inversão de valores devem ser os preferidos. 

   São essas pessoas “inaptas” e “despreparadas”, sem qualquer formação básica em Comunicação Social as responsáveis pela elaboração de programas de baixíssimo nível que visam unicamente a alienação do povo. E, assim como na televisão, aumenta cada vez mais o número de jornais e revistas de cunho sensacionalista e de programas de rádio pífios, sem qualquer pauta inteligente e que – ao contrário do que imaginou o ministro – não só não afastam ouvintes, telespectadores e leitores, como os atraem pelo conteúdo superficial e leviano, porque no Brasil está sendo criada a cultura da mediocridade. 

    Com o apoio daqueles que deveriam zelar para que isso não acontecesse. Observe-se que os ministros do STF que votaram contra a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão não somente revelaram desconhecimento da matéria que julgavam como, indiretamente, deram a entender que o curso de Comunicação Social e o estudo do Jornalismo em todas as suas nuances deve ser colocado em segundo plano – o que é o mesmo que dizer que a cultura deve ser desprezada e determinados cursos superiores devem ser considerados dispensáveis, porque algumas pessoas que não tem qualquer graduação poderão, quem sabe, ser prejudicadas. 

    Em apoio à sua tese que desrespeita os jornalistas profissionais, o ministro Gilmar Mendes cita alguns jornalistas que ele considera muito bons, mas não tem curso superior. Ora, os seus pontos de vista ou os seus gostos pessoais não devem participar de um julgamento que deveria ser isento e atinge a toda uma classe profissional. E esses jornalistas nomeados pelo ministro deveriam ter o bom senso de cursar Comunicação Social e as empresas onde trabalham deveriam facilitar esses estudos. Não estamos mais em tempo de desculpas esfarrapadas para a falta de cultura que poderá ser causada por preguiça mental ou desleixo. Felizmente, e apesar de determinados grupos que gostariam de ver a sociedade dividida em castas, ainda existem universidades públicas e gratuitas em todos os lugares. 

   Afirma, ainda, o ministro Gilmar Mendes, que muitos países não têm cursos de Jornalismo ou de Comunicação Social, como se a ausência de enriquecimento cultural nesses países fosse suficiente razão para que nós também busquemos um maior empobrecimento na formação dos profissionais de Jornalismo. É certo que muitos países ficaram famosos não pela sabedoria dos seus cidadãos, mas pela riqueza material muitas vezes alcançada de forma ilícita, e pelo desenvolvimento tecnológico conseqüente, mas são exemplos que não devem ser seguidos se ainda acreditamos que os povos devem buscar a paz e a prosperidade em igualdade de condições. 

    O Jornalismo é uma profissão muito perigosa. Não só porque o jornalista está sujeito a ser agredido física e moralmente sempre que, no exercício da sua profissão, descobrir as sujeiras da tradicionalmente corrupta classe dos governantes, mas também porque esses mesmos governantes têm um grande medo da verdade. Para ser jornalista é necessário, antes de tudo, coragem. E uma boa formação profissional.
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