quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ENTRE TARTUS E INCIRLIK A PAZ OU A GUERRA




A 110 quilômetros da fronteira com a Síria e a cerca de doze quilômetros de Adana, uma das quatro maiores cidades da Turquia, está a Base Aérea de Incirlik, construída pelos Estados Unidos na primavera de 1951 e que é utilizada conjuntamente pela Turquia, pelos Estados Unidos e aliados da OTAN, como a Grã-Bretanha. A base tem uma pista com 3.048 metros de comprimento e outra de 2.740 metros, ambas localizadas entre 57 hangares reforçados e abriga mais de cem aviões-caça, entre eles, F-22 e F-16 da Força Aérea dos Estados Unidos.

   É a maior base aérea do país e uma das maiores do mundo, e foi a partir de Incirlik que os Estados Unidos bombardearam o Afeganistão, em 2001, e o Iraque, em 2003. Em 2006, a guerra do Líbano teve Incirlik como base de apoio logístico e em abril de 2010 estimava-se que em Incirlik estivessem armazenadas 90 bombas B61 – uma bomba termonuclear de 340 quilotons (equivalente a 340 mil quilos de dinamite, sem contar a radiação) projetada e construída para ser transportada no ar a velocidades supersônicas.

   Estados Unidos e OTAN estão furiosos com a concretização do apoio russo ao governo sírio, o que está provocando a destruição dos terroristas tão pacientemente organizados e armados pelo Ocidente, como a Frente al-Nusra e o Estado Islâmico. Jamais imaginaram que a Rússia, a partir da sua Base Aérea de Tartus, na Síria, passasse a bombardear ferrenhamente os mercenários que tantos milhões custaram aos países ocidentais.

   Acreditavam os generais da OTAN que a Rússia iria se limitar a reforçar as suas fronteiras, a apoiar indiretamente os revolucionários da região de Donbass, na Ucrânia, a tentar incursões diplomáticas através da ONU e de outros meios oficiais, a reclamar das sanções dos países da União Européia e Estados Unidos, mas jamais ousaria atuar com as suas forças armadas justamente na Síria, o país mais estratégico do Oriente Médio e onde os mercenários contratados pelos países ocidentais - além de Arábia Saudita, Jordânia e Turquia – estavam conseguindo significativos avanços.

   Aparentes “donos do terreno”, Estados Unidos e OTAN não imaginaram que, justamente no momento em que estavam por declarar a Síria zona de exclusão aérea – assim como fizeram na Líbia até o assassinato de Khadafi -, a Rússia tomaria a si a defesa do governo sírio e, em poucos dias, arrasaria os grupos terroristas formados por mercenários de mais de noventa países.

   Os Estados Unidos deixaram claro que são eles que financiam os terroristas. Recentemente, forneceram 50 toneladas de armamentos aos mercenários. Entrevistado a respeito, no dia 13 de outubro, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou:

         “Serei bem sincero: nós não temos dúvidas de que ao menos uma parcela significativa desses armamentos irá parar exatamente nas mãos de terroristas. Esta preocupação existe inclusive por parte dos EUA, onde a sociedade e o Congresso já estão começando a fazer perguntas sobre tentativas prévias de apoiar a oposição moderada. Em particular, ali acabou de eclodir um escândalo sobre algumas centenas de jipes que os norte-americanos compraram da Toyota e que foram enviados ao Exército Livre Sírio e a outras forças da oposição. Todos os terroristas do Estado Islâmico estão usando esses jipes. Aparafusaram metralhadoras pesadas neles e estão ‘trabalhando’ com eles, levando suas idéias destrutivas às massas.” (http://br.sputniknews.com/mundo/20151013/2423451/lavrov-reacao-eua-ataques-russia-ei-siria.html).
   Os agenciadores de terroristas contam com a mídia vendida do Ocidente, encarregada de provocar o ódio contra a Rússia. As falsas informações de que as aeronaves russas estariam atingindo civis na Síria, durante os bombardeios, surgiram horas antes do primeiro ataque russo e foram plantadas em toda a imprensa internacional, através de agências de notícias que depois sequer se desmentiram. As mesmas agências de notícias não deram a menor ênfase sobre o ataque dos Estados Unidos a um hospital no Iraque, que deixou dezenas de mortos e feridos. Multiplicam-se as mentiras descaradas sobre a Rússia e os russos, numa campanha sem precedentes, orquestrada desde Washington. 
   A última falsidade vem da Holanda, onde um suspeito relatório sobre a queda do vôo MH17, em 2014, sobre a Ucrânia, ocasionando a morte de 298 pessoas, teria sido derrubado por um míssil disparado a partir da Rússia ou da área onde atuam os rebeldes pró Rússia que ocupam a região do Donbass, na Ucrânia. A empresa fabricante de armas, Almaz-Antey, da Rússia, contesta o relatório e afirma que o Boeing 777 foi abatido a partir da Ucrânia, e por forças de Kiev.
    “Nós provamos que o míssil antiaéreo que abateu o Boeing sobre a Ucrânia só podia ter sido um míssil 9M38 do complexo Buk, lançado a partir dos arredores da povoação de Zaroshenskoye (controlada pelo exército ucraniano). O último míssil deste tipo foi produzido na União Soviética em 1986.” A empresa alegou que se o míssil tivesse sido disparado de Snezshnoe (onde estavam os insurgentes) não poderia atingir o lado esquerdo da asa, onde ocorreu o impacto.
   E não haveria razão para os rebeldes de Donbass lançarem um míssil contra um avião de passageiros. No entanto, o governo fascista da Ucrânia, inimiga declarada da Rússia, ficaria muito satisfeito se o míssil tivesse atingido o avião onde viajava Vladimir Putin. Ocorre que o presidente da Rússia voltava de uma reunião do BRICS, na América Latina, seguida de visitas a diversos países, como Cuba, Venezuela, Colômbia, Nicarágua e Argentina. A viagem de Putin durou de 11 a 16 de julho de 2014. No dia 17, ele voltava para a Rússia e no dia 17 o Boeing da Malaysia Airlines foi atingido por um míssil. Não é improvável que os ucranianos tenham errado o alvo, baseados em informações equivocadas. O assassinato de Putin poderia provocar uma guerra na Ucrânia, atraindo as forças da OTAN e dos Estados Unidos.
   Muitos soldados dos Estados Unidos e de outros países da OTAN já estão na Ucrânia – e também na Eslovênia, na Lituânia, na Polônia, na Geórgia, na Moldávia... A idéia é desencadear uma guerra nas fronteiras da Rússia, seja através da Ucrânia ou de outro país limítrofe. A Rússia preferiu outra estratégia. Em contínuas manobras, durante este ano tem posicionado satisfatoriamente as suas frotas nos mares e oceanos, avança com novas bases através do Ártico, possui uma força aérea respeitada e o seu exército é um dos mais bem equipados do mundo. Sem contar as armas nucleares, com mísseis de ogivas múltiplas.
   A Rússia resolveu se antecipar, desafiar o império. Preferiu uma estratégia quase oposta a da União Soviética que, assediada pela China por um lado e pelas forças da OTAN pelo outro, optou pelo defensivismo que levou à derrota e desintegração. Ao escolher a Síria como campo de batalha inicial, a Rússia se expõe e confronta o inimigo não declarado, que tem na Turquia, em Incirlik, a maior base aérea do Oriente Médio. Por seu lado, a Rússia reativou a sua base de Tortus, na Síria, e dali partem os ataques ao Estado Islâmico e outros grupos terroristas que combatem o governo sírio. Tortus está protegida pela frota russa do Mediterrâneo, navios e submarinos que a partir dali podem atingir, com seus mísseis, não só a Turquia como toda a Europa.
   Mas, ao contrário da OTAN e dos Estados Unidos, que usam a estratégia do caos ao armar grupos terroristas para tornar o Oriente Médio “terra de ninguém” que poderia ser ocupada pelos países ocidentais sob o pretexto de “redemocratização”, o governo russo combate seriamente o terrorismo e aceita correr o risco de um confronto com a OTAN, se for inevitável.
   Os bombardeios da força aérea russa tem se mostrado extremamente eficientes e já destruíram mais de 500 alvos terroristas. Porém, no dia 7 de outubro, navios da Rússia lançaram 26 mísseis de cruzeiro desde o Mar Cáspio, sobre os territórios do Irã e do Iraque, atingindo 11 postos de comando do Estado Islâmico na Síria, com uma margem de erro calculada em 5 metros. O mundo ficou espantado. Por que razão os russos estariam lançando mísseis de tão longe, se poderiam atingir o Estado Islâmico e outros grupos terroristas com a sua aviação?
   Aparentemente, um aviso. Poucos dias antes a OTAN fizera uma reunião de emergência: aviões russos teriam entrado no espaço aéreo da Turquia por alguns minutos. O governo russo se desculpou, dizendo que tinha sido um engano, mas a mídia ocidental foi atiçada para fazer extensas matérias contra a Rússia. Tipicamente, uma manobra de preparação das massas para aceitarem a provável guerra contra a Rússia. Então, a Rússia mostrou a sua força ao lançar os seus mísseis de cruzeiro, como a dizer que poderia atingir qualquer alvo inimigo de grandes distâncias.
    Em caso de derrota na Síria e no Iraque, tentarão os Estados Unidos e OTAN reagrupar os seus mercenários em países como Arábia Saudita, Jordânia, Turquia e Afeganistão. No entanto, a Arábia Saudita enfrenta uma guerra desgastante contra o povo do Yêmen; a Turquia ataca os curdos ao fingir atacar o Estado Islâmico e o Afeganistão é terra do Talibã, que não desejará dividir o seu país com o Estado Islâmico. A Jordânia, que é aliada da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos, dificilmente aceitaria tornar-se um ninho de terroristas.
   Resta à OTAN a busca da paz através da colaboração com a Rússia no combate ao terrorismo, ou o enfrentamento. Sabe-se que a OTAN não é exatamente uma organização humanitária e os Estados Unidos são um país terrorista que espalha golpes de Estado e alimenta mercenários. OTAN e Estados Unidos não aceitam um mundo bipolar, ou multipolar, não aceitam a autodeterminação dos povos e certamente partirão para a briga. De início, fingindo combater o terrorismo, enquanto preparam as suas forças, na tentativa de um golpe para destruir a Rússia – que deverá partir, com certeza, da base aérea de Incirlik. Esperemos que ainda haja um mínimo de lucidez na mente de Barack Obama e que a guerra seja evitada. 

domingo, 11 de outubro de 2015

A ESQUERDA DA DIREITA




Há quem acredite que ser de direita é o mesmo que ser uma pessoa “às direitas”. Pessoas assim com certeza serão de direita, porque não entendem nada de política e aceitam ser midiatizados. Ou serão de centro? Estranhamente, há quem acredite que existe um “centro” na política. Os que se dizem de centro – nem lá nem cá, muito antes pelo contrário – são meros oportunistas à espera de corruptíveis convites no balcão de negócios das câmaras de vereadores, assembléias estaduais ou Congresso Nacional. Ou em seus diversos ofícios. Na verdade, o “centro” não é uma posição, mas um paradoxo a todas as posições políticas. O centrista é, antes de tudo, alguém que se prostitui para quem dá mais.  Logo, é de direita.

A direita é aquela coisa conservadora, morna, inerme, amorfa, que reage a toda e qualquer tentativa de avanço social. E, ao reagir às naturais e inevitáveis mudanças na sociedade, é naturalmente chamada de reacionária. É formada no Brasil, por uma massa muito grande de pessoas igualmente mornas, que entendem que política é coisa ruim na qual não querem se meter, mas acabam “se metendo” quando qualquer modificação nas suas vidas acomodadas ocorre devido à política. Essas pessoas geralmente se dizem de centro, porque não sabem que são de direita. Simples analfabetos políticos.

         Sobre essa massa domina o que comumente é chamado de “elite” do poder, aqueles que se agrupam em torno de determinados objetivos comuns, formando oligarquias em defesa de seus interesses, geralmente vinculados a grandes negócios e que desejam determinar uma política conscientemente reacionária para o país, considerando que os pobres devem ser somente assistidos quando muito necessário, para que continuem pobres e dependentes de políticas assistencialistas. Costumam dizer que não existem divisões de classes e que os ricos são pessoas mais inteligentes que conseguiram a ascensão social devido aos seus méritos. Sob esse raciocínio dão a entender às massas medrosas que neles acreditam que qualquer um, independente da classe social em que nasceu, poderá chegar a posições de poder, desde que se esforce para isso.

É claro que omitem as causas da existência de pobres e ricos, porque insistem em afirmar que as diferenças sociais são passageiras, e a maioria dentre eles nada sabe sobre História, Sociologia, Economia ou teorias políticas. Ou apenas lêem aquilo que vai ao encontro dos seus interesses. Nitidamente, são contra a Filosofia ou a desejam idealista e estanque. Alguns pararam entre Parmênides, Heráclito e Zenão, entre o Ser e o Não-Ser, e lá estão vagando até hoje. Outros avançaram até Wittgenstein e se tornaram definitivamente niilistas; todos passaram por alto Marx, Engels, Lênin e demais teóricos socialistas. Medo.

Devido ao medo desejam preservar na ignorância as classes sociais inferiores para que continuem inferiores econômica e intelectualmente e essa inferioridade intelectual permite que as pessoas dessas classes se deixem manipular facilmente por todas as mídias, induzidas a aceitar clichês, verdades prontas como receitas de vida que levam à preguiça mental e ao individualismo, desejando libertar-se de toda a obrigação de solidariedade e só pensando em si mesmos.

O capitalismo é uma herança medieval do individualismo aliado ao autoritarismo e que tem como síntese a exploração. O que não impede que pessoas com vocação para vassalos adorem esse tipo de sistema. À mentalidade dos que preferem a vassalagem é mais conveniente aceitar do que contestar. Entendem que “aceitar” implica em ganhos pessoais, pequenas mutretas, diárias corrupções, jeitinhos muito brasileiros, e se consideram muito espertos e malandros. Vassalos são aqueles que aceitam todos os sistemas de governo, todos os regimes políticos, e são os primeiros a acenar bandeiras para o desfile dos corruptos, para a marcha dos generais ditadores, sob os quais se sentem protegidos.

A vassalagem é uma doença que surgiu no Brasil colonial e atravessou os séculos impávida, geração após geração, desafiando vacinas e remédios, conseguiu vencer as briosas revoluções que se lhe opuseram, derrotou valentes e destemidos e enclausurou-se nas salas de redação de rádios, televisões e jornais de quase todo o país, de onde expele os seus medrosos bafios, fazendo com que as novas gerações se tornem precocemente rançosas, individualistas e atemorizadas em relação a tudo o que possa sacudir o seu cultuado escrúpulo a quaisquer mudanças, entrem nas redes sociais em busca de pacíficas lições de vida e passem o tempo todo atrás dos prazeres receitados pela mídia senil e reacionária.

Nem todos. Aqui e ali, entre uma e outra geração e até entre os mais novos existem aqueles que se dizem progressistas e que tomam partido em associações políticas as mais diversas dentre o que se denomina de “esquerda”. Ao contrário da direita, que se organiza em torno de manter privilégios e forma um bloco compacto, desde simples conservadores que só desejam morrer em paz a explícitos fascistas que almejam a renovação das ditaduras, todas elas militares e repressivas com direito a alegres torturas e festejados assassinatos, a esquerda brasileira divide-se em várias facções que não só lutam contra a direita, mas adquiriram o hábito de brigar entre si.

Na aparência, devido a diferenças ideológicas, no fundo por inconfessáveis vaidades. Dentre os que se dizem de esquerda – que não se deve confundir com pessoas canhotas ou com aqueles que fazem o sinal-da-cruz e a continência com a mão esquerda – há grupos que assumem claras posições de direita e não sabem disso, ou, se o sabem, preferem fingir que ignoram, encontrando, ao mais das vezes, motivos escatológicos para o seu estranho comportamento.

Por exemplo, alguns partidos e associações sindicais supostamente de esquerda, neste momento de golpe oportunista preferiram unir-se ao “Fora Dilma!” da direita, fazendo manifestações nesse sentido, sob o pretexto de que tirar a Dilma seria a solução para todos os problemas que afligem os brasileiros. Inclusive, líderes desses partidos que se tornaram golpistas, afirmam que não existe qualquer ameaça de golpe, incitando os seus correligionários a apoiar as demandas da direita e – no máximo da cegueira política – afirmando que a “saída é pela esquerda”.

Como se fosse possível, neste momento histórico de um país que tem uma população a cada dia mais midiatizada e conseqüentemente reacionária, uma “saída pela esquerda”.

É claro que a Dilma não é a melhor das governantes, mas apoiar o golpe é passar atestado de fascista, mesmo que esses partidos que desejam tirar a Dilma – como PSTU, Psol e até o inerme PCB – gostem de vestir vermelho e gritar bem alto que são de esquerda.

Uma estranha esquerda golpista. O PCB, no tempo em que ainda era um partido revolucionário, tentou dar um golpe tipicamente de direita, a famosa intentona comunista que ficou no intento, na vontade, foi facilmente desbaratada e, mesmo que tivesse tomado o poder, não duraria dois dias por falta de apoio popular. Na mesma época, o Partido Integralista, de Plínio Salgado também intentou um golpe de Estado e teve o mesmo mesquinho destino. Hoje, o PCB é um partido que vive do passado, desistiu de ser revolucionário e faz o jogo da direita.

Quanto ao Psol, todos sabem que é um partido que deseja substituir o PT - assim como a Rede, de Marina Silva – e já se colocou no espaço apropriado que apelidaram de centro-esquerda (não confundir com o armador de jogadas de um burocrático time de futebol), pronto para receber os desassistidos da corrupção.

O PSTU, que tradicionalmente coloca todos no mesmo saco, e dele se exclui, ainda não disse a que veio. Revisionista, como o PCB, o Psol e o PT (e ainda o PPS, o PSB, o PPL e a Rede), é um partido igualmente de centro-esquerda, igualmente reformista, que lembra o Syriza, da Grécia, ou o Podemos, da Espanha – partidos que ao chegar ao governo, entregam-no à direita. Como o PT.

Quem pode gostar do governo do PT? Nem mesmo os petistas que, a esta altura, devem estar profundamente desgostosos e desconfiados com a Dilma. Afinal, ela faz todas as vontades da direita, escolheu um ministro das multinacionais – Joaquim Levy – para a pasta da Fazenda, que faz de tudo para executar as ordens do capital especulativo internacional, e uma ministra de extrema-direita – Kátia Abreu – que tem como missão favorecer os latifundiários.

Um governo assim é um governo de direita, não há a menor dúvida. Mas tirar a Dilma, auxiliando os golpistas sob a falsa mensagem de que a “saída é pela esquerda” quando os partidos de esquerda, ou de centro-esquerda, estão divididos, sem qualquer força popular e mínima representação parlamentar é uma mentira grotesca.

Quem assumirá o poder, após o golpe? Com certeza alguém de direita que, em dois meses promoverá eleições para que a direita corrupta e golpista tome de vez o poder e faça as reformas reacionárias que julgar necessárias que esmagarão totalmente os movimentos sociais. Uma esquerda que deseja o golpe só pode ser uma esquerda golpista, uma esquerda da direita.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

RÚSSIA ESCOLHE O CAMPO DE BATALHA




Pressionada em todas as fronteiras por tropas da OTAN e não confiando em aliados de última hora, como a China, que ultimamente namora os Estados Unidos, a Rússia decidiu tomar a frente na guerra fria que prometia eternizar-se até estrangulá-la – assim como aconteceu com a União Soviética – e escolher o campo da batalha da verdadeira guerra que, infelizmente, se torna inevitável – a não ser que Estados Unidos e OTAN recuem em seus projetos de dominação mundial.

   Os Estados Unidos tentam fazer da Ucrânia, da Geórgia, da Moldávia e até de países vassalos como a Polônia o centro de uma conflagração que poderia destruir toda a Europa, poupando somente o pais norte-americano, localizado longe, muito longe das áreas de conflito.  

   Por outro lado, as ameaças crescentes contra o Irã prevêem a possibilidade de uma guerra que obrigaria a Rússia a colocar-se ao lado do seu aliado e contra Israel, Turquia, Jordânia e Arábia Saudita, o que destruiria o Oriente Médio e também as fontes de petróleo e gás, das quais dependem a Europa e o próprio Estados Unidos. Além disso, Afeganistão e Iraque poderão passar de aliados do Ocidente a inimigos, e a força de grupos armados unidos pelo ideal do nacionalismo, como os curdos e o Talibã, é quase indestrutível – sendo que o Talibã domina, no Afeganistão, as maiores plantações de papoula do mundo, de onde é extraída a heroína, indispensável para os soldados da OTAN, que não sabem combater sem a sua droga preferida. 

   Então, Estados Unidos e OTAN optaram por ocupar o centro do Oriente médio, exatamente onde está localizada a Síria, que faz fronteira com Israel, Líbano, Jordânia, Iraque e Turquia, e tem acesso ao Mar Mediterrâneo.  

   Aparentemente, uma boa estratégia. Com o domínio sobre a Síria, Israel poderia expandir-se muito além das colinas de Golã. Prevía-se, também, uma rápida conquista do Líbano, o Iraque estava sob controle, o Irã se tornaria muito vulnerável e o Afeganistão voltaria a ser um protetorado estadunidense, dando acesso, por um lado, ao Azerbaijão e Geórgia, por outro ao Turquemenistão, Tajiquistão e Uzbequistão e, ainda, ao Paquistão, que já é, praticamente, um país aliado dos Estados Unidos, tendo como função conter a Índia através da ameaça de suas armas nucleares. 

    Para conquistar a Síria tentaram inicialmente uma “revolução colorida”, uma daquelas falsas revoluções através da internet e da mídia ocidental comprada, que nada revolucionam, mas apóiam um imediato golpe de Estado. Como o golpe de Estado não deu certo, a CIA e a Al-Qaeda, eterna aliada dos Estados Unidos, armaram milícias de mercenários que provocaram uma revolução na Síria. Quando a revolução estava quase esmagada pelo exército sírio, “surgiu” o Estado Islâmico.

   Inicialmente formado por grupos sunitas do Iraque revoltados contra o governo xiita do seu país, o Estado Islâmico foi logo usado pelas potências ocidentais no sentido de derrubar o governo sírio, igualmente islâmico e sunita. Há fortes indícios de que o seu líder nominal – Abu Bakr al-Baghdadi – foi treinado pelo serviço secreto de Israel, o Mossad, em conjunto com a CIA, sendo que o grupo terrorista ao declarar a sua “guerra santa” já tinha um aporte de dois bilhões de dólares, provavelmente oriundos dos Estados  Unidos, Arábia Saudita e Israel.

   Com esse dinheiro, o Estado Islâmico comprou armas sofisticadas e a correspondente munição, contratou mercenários de mais de noventa países e passou a agir livremente nos territórios da Síria e do Iraque, ameaçando expandir-se para outros países.

   Jamais ameaçou o Estado de Israel. A “guerra santa” do Estado Islâmico é contra os países de fé islâmica, principalmente aqueles países muçulmanos, como a Síria e o Irã, que recusam curvar-se ao mandato dos Estados Unidos e aliados.

   Para proteger o Estado Islâmico, foi criada uma coalizão liderada pelos Estados Unidos que, há mais de treze meses finge combater os terroristas, na verdade atingindo o exército sírio e o exército iraquiano, ou jogando as suas bombas em civis para provocar o caos, principalmente na Síria, onde a fuga do povo para a Europa está provocando um dos maiores desastres humanitários da História.

   Os Estados Unidos pretendiam fazer com que a ONU reconhecesse o vazio político na Síria, oportunizando o bombardeio e ocupação do país por forças de OTAN e dos Estados Unidos, assim como fizeram na Líbia. Não contavam, porém, com a forte reação da Rússia.

    Na terça-feira, 18 de setembro, por ocasião do 70º aniversário da ONU, em seu discurso Vladimir Putin foi claro quanto à política da Rússia no Oriente Médio, especialmente em relação ao Estado Islâmico. 

“(...) Claro que qualquer assistência a estados soberanos pode e deve ser oferecida, nunca imposta; e única e exclusivamente de acordo com a Carta da ONU. Em outras palavras, tudo nesse campo está sendo ou será feito em obediência ao disposto na lei internacional e com o apoio da nossa organização universal. Tudo que infrinja resoluções da Carta da ONU deve ser rejeitado. Acima de tudo, creio que é de máxima importância ajudar a restaurar as instituições de governo na Líbia, apoiar o novo governo do Iraque e prover assistência ampla ao governo legítimo da Síria. (...)” 

    Em 30 de setembro, a pedido do governo da Síria, em acordo com a Carta das Nações Unidas e após autorização do seu Parlamento, a Rússia passou a combater o Estado Islâmico a partir de sua base aérea, em Tartus, na Síria. Não havia mais tempo a perder e muitos acreditam que a Rússia teria demorado muito para agir, visto que Estados Unidos e aliados estavam a ponto de declarar a Síria como zona de exclusão aérea. Mas a Rússia preferiu, antes, fechar um acordo com Síria, Irã e Iraque para compartilhar inteligência no esforço de combater o Estado Islâmico. 

    Em poucos dias, com apenas 50 aeronaves – caças SU-34, SU-24M e SU-25, e helicópteros MI-24 – a Rússia desmontou quase toda a estrutura do Estado Islâmico na Síria. Com bombas aéreas de alta precisão, corrigidas com a ajuda de GLONASS, o sistema russo de navegação global por satélite, as forças aéreas da Rússia destruíram campos de treinamento, postos de comando, oficinas para a produção de engenhos explosivos, tanques, mísseis e dois quartéis do EI, um em Allepo e outro próximo a Palmira. 

    O apoio logístico e a rede de comando do Estado Islâmico na Síria ficaram completamente danificados. A ofensiva paralisou o grupo terrorista, provocando pânico entre os militantes do EI. Muitos deles estão fugindo para a Europa, outros buscam abrigo em mesquitas. Nesse meio tempo, a força aérea dos Estados Unidos bombardeou um hospital no Iraque. 

    De acordo com a TV Zvezda, da Rússia, a operação russa contra os terroristas destruiu uma extensa rede de túneis subterrâneos usados para controle das ações e armazenamento de armas e munições, que “só poderiam ter sido construídas por especialistas que o Estado Islâmico não possui”. Salienta a mesma fonte que esses especialistas teriam sido recrutados nos Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar e Turquia. 

    No dia 7 de outubro teve início a segunda fase da operação russa de desratização da Síria. Quatro navios da armada russa a partir do Mar Cáspio lançaram 26 mísseis de cruzeiro com o alcance de até 1.500 quilômetros contra 11 alvos terroristas que foram completamente destruídos. Ao mesmo tempo, o exército sírio iniciou a ofensiva por terra, apoiado por 23 caças da aviação de choque. Segundo o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, desde o dia 30 de setembro “19 centros de comando, 12 armazéns de munição, 71 unidades de material bélico, fábricas e ateliês de fabricação de explosivos, inclusive explosivos para carros-bombas, foram destruídos”. 

   Os Estados Unidos ficaram desmoralizados. Em mais de ano de suposto bombardeio contra o Estado Islâmico, a coalizão liderada pelos estadunidenses nada conseguiu. Ao contrário, o Estado Islâmico aumentou o seu poderio, ameaçando expandir-se além da Síria e do Iraque. Em pouco mais de uma semana, a Rússia destruiu toda a infra-estrutura do Estado Islâmico na Síria e agora deve partir para fazer o mesmo no Iraque. 

   Desmoralizados, os norte-americanos reclamam que o seu exército de mercenários está sendo liquidado em grande parte do Oriente Médio. Não sabem o que dizer para a sua própria mídia comprada, que está proibida de veicular as ações da Rússia e tenta desesperadamente fabricar nova pauta ufanista. 

    Pode-se esperar de tudo dos desmoralizados, eles não têm mais nada a perder, nem mesmo a honra. Quem sabe desejarão inventar nova guerra, atacando a Rússia através de Israel ou das forças da OTAN localizadas na Europa? Ou, ainda, talvez escolham novo campo de batalha, por exemplo, a região do Oceano Pacífico, onde não será improvável que encontrem um aliado na imprevisível China.
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