sexta-feira, 22 de abril de 2016

A DILMA RECATADA E DO LAR








"Não posso terminar esse discurso sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. O Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia, um povo trabalhador que tem grande apreço pela liberdade, que, acredito, saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade"
 

Dilma se acovardou? Todos esperavam que ela denunciasse o golpe, o que se viu foi quase o contrário. Só faltou dizer que o impeachment é muito legal, legal demais, que ela está adorando dar entrevistas todos os dias e que na ONU preferiu falar como mulher recatada e do lar, sem ferir os adversários da oposição, que não são golpistas, não senhor, apenas gente transtornada para tomar o poder e não querem esperar terminar o prazo legal do seu mandato.

   Golpe, quem falou em golpe? Deve ser esse bando de comunistas que está nas ruas gritando ninguém sabe por que; ela, Dilma, até já foi meio que socialista, mas depois desistiu de ler Marx, que é muito complicado e não aconselhável para mulheres recatadas e do lar, já tem uma certa idade e prefere as leis do mercado capitalista, que permite ter vários cartões de crédito, carros, casas e relações sociais amigáveis na alta sociedade. Quanto à baixa sociedade, todos sabem que é baixa, bem baixinha, não tem altura para se comparar com a alta que têm tantas senhoras recatadas e do lar. Se for embora do governo amanhã ou depois, isso faz parte do jogo, afinal de contas ela já anda meio cansada de tanta complicação e já é tempo de tirar férias. De preferência na Bahia.

   O povo? Pois é, o povo... Agradecerá muito ao povo pelos 54 milhões de votos, mas que fazer se os golpistas, quer dizer, o pessoal do impeachment, gosta tanto de cantar o hino nacional e usar a camisa da seleção que levou sete a um da Alemanha? Vai ver que eles amam o Brasil, que entregarão para as multinacionais, com Petrobrás e tudo, e passará a se chamar, honrosamente, Brasil dos Estados Unidos, o que não deixa de ser um bonito nome.

   Se Dilma não chega a ser muito inteligente, pelo menos é obediente ao seu partido, o PT, que está muito assustado com o incessante movimento nas ruas do Brasil. De manhã, ouvi o senador Jorge Viana defender a tese de Tarso Genro de uma saída pela porta dos fundos, com a admissão de culpa do governo Dilma, que faria a proposta de novas eleições, depois de uma emenda à Constituição. Simples assim. O PT não perde a mania de compor, fazer alianças para salvar a pele e, principalmente, impedir a iminente ascensão da verdadeira esquerda. O PT quer continuar a vestir vermelho sem merecer a cor.

   Por seu lado, a senadora Gleisi Hoffmann propôs um plebiscito. Igualmente é a aceitação do golpe, uma declaração de derrota e absoluta falta de confiança no povo e nos movimentos populares. E medo. Como todo partido social-liberal o PT fica assustado quando o povo se manifesta e não pára de se manifestar. Mesmo que essas manifestações sejam para defender uma presidente eleita pelo seu partido. O PT prefere entregar o governo para a direita fascista, ainda que ilegalmente, a deixar o povo decidir o seu próprio destino.

   Uma provável ruptura social não seria bom para os negócios. O que diriam os investidores estrangeiros? Por isto, Dilma foi aconselhada a ser uma boa menina, recatada e do lar, e falar na ONU usando palavras agradáveis para esses senhores investidores, donos do capital. O PT, todos sabem, é um partido capitalista. Seus militantes vestem-se de vermelho por hábito, não por convicção ou ideologia.

   O outro ponto da estratégia derrotista é esvaziar os movimentos sociais. Fazer com que parem de gritar, de sair às ruas, parem de clamar por democracia, por respeito à Constituição - que pode ser rasgada, mas depois será costurada com todo o carinho e todas as alianças possíveis. E até as aparentemente impossíveis. Lula e Dilma não fizeram aliança com Paulo Maluf, em São Paulo, para eleger um prefeito? Em política, nesse tipo de política, tudo é possível, nenhuma porta está fechada. É tudo uma questão de negócios.

   Mas, primeiro, o povo tem que se acalmar. O que é isso, gente? Calminha, calminha... Dói, mas passa. O importante é resguardar as instituições. Parem de falar mal do Senado e do STF ou o acordo não sai! E quanto à Câmara, é assim mesmo, eles gritam bastante, mas depois se calam. Sejam educados, por favor! Vão embora e deixem que nós resolvemos esses problemas aqui entre nós, no alto do poder. Quando a gente precisar, chama vocês de novo, para uma ou outra manifestação. Agora, todos quietinhos e bem comportados. Já pra casa! Olha o Moro aí!... Corram!

Um comentário:

  1. Ô, Blogueiro! Fiquei até com pena da Dilma. É tudo verdade, bem sei, mas às vezes dói. Brincadeira à parte parabenizo a análise.

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