terça-feira, 5 de abril de 2016

A PROGRESSÃO DO MAL




Na guerra, não convém o ufanismo da vitória em um primeiro combate, principalmente quando o inimigo é ardiloso e usa de meios torpes para vencer a qualquer custo. A não ser que um dos lados acredite que não é uma guerra, mas uma disputa cavalheiresca, com pausa para um refrigerante e conversas fúteis. Neste caso, estará condenado à derrota, mesmo que tenha vencido a primeira refrega. O inimigo, que não será tratado como inimigo, mas como parceiro de um jogo de salão onde as regras são claras e ninguém se machuca, até aceitará a pausa proposta, período em que poderá tomar fôlego e se rearmar. 
    
   Não basta. É Pouco. Cerca de um milhão de pessoas, talvez dois, forçadamente, é muito pouco para manifestações em defesa da democracia. Por baixo, temos no Brasil 180 milhões de habitantes, e mesmo considerando que a representatividade é o que importa ou que saíram às ruas os verdadeiros militantes, os interessados em que o golpe não se concretize, ainda é muito pouco. 

   Dois terços dos manifestantes não devem pertencer ao PT e PCdoB e resolveram participar da passeata não pelo Lula ou pela Dilma, mas para defender a democracia contra o cinismo do golpe da direita, para evitar o retrocesso político, apesar de não estarem satisfeitos com a política recessiva e indignados com a lei anti-terror que ameaça os movimentos sociais e com o ajuste fiscal que só alimentou ainda mais os grandes bancos e empresas multinacionais.

  Cabe a presidente Dilma revelar um mínimo de sensibilidade para mudar o rumo do governo a favor do povo. Continuar com a política de alianças espúrias que facilitam a corrupção é uma maneira corrompida de fazer política e uma afronta à maior parte dos manifestantes.

  Neste momento, está em jogo não apenas o governo Dilma, mas a proposta republicana ameaçada pelo fascismo dos abutres de plantão. O impedimento ou não de Dilma está se tornando secundário, visto a progressão do mal representado pelas oligarquias dos meios de comunicação, que não desejam um país livre, mas eternamente dependente do capital exterior e tudo farão para derrubar um governo sobre o qual não tem total ascendência, assim garantindo os seus privilégios e impedindo a democratização da imprensa.

  Caso não seja impedida de governar, Dilma afirma que fará uma grande coligação para manter- se no poder até o final de seu mandato e isso poderá significar um retrocesso ainda maior, uma guinada para a direita que somente cessará quando houver uma ruptura social.

  Percebe-se que Dilma e Lula não estão atentos para o chamado das ruas, para o aviso que vem do povo que agora os apóia mais para manter a legalidade e deseja verdadeiras reformas de base e não meros programas assistencialistas. O apoio de setores do governo ao latifúndio e às grandes empresas, em troca do que apelidaram de governabilidade significa apenas um desvairado apego ao poder, sem verdadeiro projeto social que o alicerce.

  Em comparação com o governo de João Goulart, que estava por fazer a reforma agrária quando foi golpeado, o governo de Dilma e Lula torna-se excessivamente pálido, ainda que seus militantes se revistam da cor vermelha. A tendência, a persistir assim, é a entrega do que resta das nossas riquezas naturais, após o sucateamento da Petrobrás e Eletrobrás, em grandes leilões que favorecerão a todos, menos ao povo brasileiro; a depredação total da Mata Atlântica e a devastação da Amazônia.

  Em troca, um fac-símile de poder, que não será do povo, mas de governantes cada vez mais afastados da nação brasileira, que fazem do poder, ganho em suspeitas urnas, um grande balcão de negócios onde picaretas de todas as cores compram e são comprados, enquanto a grande maioria do povo passa imensas dificuldades.

  Apenas o Governo não basta. Será um governo de poucos e para poucos, em nada se diferençando de um governo de direita. Em 2015, Dilma aceitou a receita da recessão para pagar os bancos internacionais, detentores da dívida pública. O que não faria agora, dependendo de uma coligação onde estarão incluídos partidos como o PMDB, PR, PP...? Pior ainda é a proposta do Parlamentarismo, que daria margem a sucessivas quedas de ministérios, ao definitivo afastamento dos movimentos populares, provocando a cisão da nação brasileira entre o pequeno grupo dos poderosos e a imensa massa dos condenados à orfandade política, e a luta pela legalidade e o estado de direito poderá se transformar no seu oposto, quando o povo começar a se perguntar o que é, de fato um estado de direito – significa comida na mesa? menos impostos? E a legalidade é o mesmo que igualdade social?

  O Estado policial já saturou a todos, ainda que mascarado de legalismo; os acordos políticos não enganam mais ninguém. Já há embates nas ruas, discussões virtuais, bate-bocas em cada esquina, acirram-se as lutas de classes no mundo real e os donos do poder, dos três poderes, continuam cegos, agarrados ao que o povo lhes deu por procuração, que poderá ser retirada quando não restar outra esperança.

Um comentário:

  1. De fato, assusta um governo acordista. Esquerda é esquerda e direita é direita; a combinação das duas seria um retrocesso. Muito boa análise.

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