quarta-feira, 27 de abril de 2016

ENTREVISTA COM ALEKSI LÁZARO




Em entrevista à revista Zêuxis, de circulação dirigida somente ao empresariado internacional, Aleksi Lázaro, que prefere não revelar seu verdadeiro nome, faz algumas observações, aqui reproduzidas, sobre a política brasileira.

Z - Agora que o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef está em andamento no Brasil, quase no final, qual a sua análise a respeito?

A. L. – Não pode haver análise enquanto não houver um resultado. Mas, como você disse, é um processo em andamento, esperemos que ande depressa porque toda morosidade é ruim para o mercado.

Z - O senhor acha que o impeachment será aprovado no Senado?

A. L. - Eu não daria um tostão furado pelo Senado brasileiro! Não se pode pagar por um produto onde existem forças conflitantes. E o mundo inteiro está de olho nesse produto. Caso o impeachment for aprovado haverá uma natural retração do mercado no Brasil, devido ao alto grau de instabilidade. Dilma será afastada e acontecerá o quê, no momento seguinte? Venda de ações a preços aviltantes. Somente os inexpertos se arriscarão a investir no produto Brasil enquanto persistir a bolha de insegurança. Uma bolha que poderá murchar ou explodir e em nenhum dos casos será favorável aos negócios. O ideal é que essa bolha sumisse e, para sumir, não poderia haver nenhum processo, e muito menos um processo de impedimento.

Z - O senhor é contra o impeachment? Acha que é um golpe?

A. L. - Palavras, somente palavras. Esse tipo de coisas acontece em pequenos países, em repúblicas de bananas, e não em países em desenvolvimento. Conhece algum processo de impeachment em países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha?

Z - Nixon foi derrubado, Kennedy foi assassinado.

A. L. - Afastamentos necessários. Não é a mesma coisa. Um estava roubando demais e o outro desejava o fim de uma guerra lucrativa. O mercado não suporta pessoas assim.

Z - Como pode haver guerras lucrativas, com milhares de pessoas morrendo?

A. L. – Pessoas morrem todos os dias, às centenas, e não existiriam guerras se não fossem lucrativas. Qual o maior mercado em expansão? O da indústria bélica da Rússia. Se não fossem as inúmeras sanções do Ocidente, é lá que eu arriscaria uma parte segura do meu dinheiro.

Z - O senhor fala como se fosse tudo um jogo.

A. L. – É um jogo. E o mais importante desse jogo, o que mais fascina, é o jogo em si. É claro que, se não houver lucros, o jogo acaba e perdemos. Mas sempre haverá uma segunda chance para quem sabe jogar. Conheço alguns investidores que acreditaram no canto das sereias e foram para o fundo do poço. Possuíam bilhões num dia e no dia seguinte apenas alguns milhões de dólares. Mesmo assim, não desistiram e hoje são donos de federações de indústrias. O que não chega a ser um bom negócio, segundo entendo.

Z - O senhor está falando do Sacks, presidente da FIESP?

A. L. – Do Sacks e de todos os outros. Nada contra o Sacks, é um bom parceiro, mas, neste momento, eu não daria um tostão furado pela FIESP! Ela defende uma das facções em luta e não podemos investir enquanto houver luta de facções.

Z - O senhor se refere à luta a favor e contra o impeachment? É uma luta partidária e não luta de facções.

A. L. – É tudo a mesma coisa, apenas uma questão de nomenclatura. Eles querem o Temer no poder, e quem é o Temer? Eu não daria um tostão furado pelo Temer! Pelo menos, a Dilma a gente conhece, o PT, ou parte dele, a gente conhece. Eles facilitam os negócios, sempre facilitaram. Agora, por uma questão de uns bilhões a mais ou a menos o pessoal do Sacks e do Temer querem o poder. Vai dar certo? Ninguém sabe, e não se pode investir na incerteza. A incerteza faz parte do jogo, mas não a total incerteza. Deve haver um mínimo de garantia. E se o governo do Temer ficar ingovernável? E se o Temer morrer e entrar o Eduardo Cunha, que é tão burro que deixou em aberto os seus investimentos no exterior? Tiram o Cunha, e aí, quem vem? O Lewandovski? Não conhecemos o Lewandovski. E o Lewandovski marca eleições e quem vai vencer? O Lula? Resolveram mexer no vespeiro e ressuscitaram o Lula. O Lula não é a mesma coisa que a Dilma. Foram direto ao pote e se queimaram, não sabem comer pelas beiradas.

Z - Tem alguma coisa contra o Lula?

A. L. - Absolutamente. Até respeito muito. Foi uma pessoa que veio do nada e conseguiu alguns milagres políticos. Precisamos de milagres políticos, isso aquece o mercado. Mas quem é o Lula hoje? Você sabe? Eu não sei. Se for eleito, vai privatizar ou não? Não que precisemos tanto assim de privatizações. Pode-se investir em empresas nacionalizadas. Às vezes, é até melhor. Há países, como a Rússia, em que o Estado domina 40% do capital das empresas públicas e o resto é privatizado. No Brasil, querem 100% ou nada. É burrice. Misturar política com negócios é burrice.

Z - O senhor estava falando no Lula. Acha que vão deixá-lo tomar posse, se for eleito?

A. L. - Não vão deixar, é claro. Não vão deixar nem se eleger. Vão fazer o mesmo jogo da época em que o Collor foi eleito. Vai até o segundo turno e perde por meio ponto ou um ponto. O que me preocupa não é isso, mas as próprias eleições. Pra que novas eleições agora? Só pra agitar ainda mais. E isso é péssimo para os negócios. Quem vai investir num país em constante agitação social?

Z - O senhor teme que no Brasil assuma um governo de esquerda?

A. L. - Qual a diferença? Dizem que o governo da Dilma é de esquerda e, no entanto, nunca favoreceu tanto os negócios. Até nos governos comunistas se pode investir. É o que o Obama está tentando fazer com Cuba: abrir um novo mercado, e, depois de aberto, o povo se acostuma a consumir e não tem quem segure. O único país totalmente fechado é a Coréia do Norte e, ainda assim, apresenta peculiaridades muito atrativas.

Z - O Kim Jong-Un jamais deixaria a Coréia do Norte se abrir para uma economia de mercado.

A. L. - O Kim Jong-Un? Não dou um tostão furado pelo Kim-Jong-Un! Pessoas morrem e são substituídas e eu diria que, devido à sua gordura, o Kim Jong-Un tem um alto grau de colesterol.

Z - O senhor acredita que os movimentos sociais do Brasil podem obstaculizar o novo governo? Surgiram novas lideranças muito ativas, como o Boulos e o Stédile.

A. L. - O Boulos? O Stédile? Não dou um tostão furado por nenhum dos dois! O que eles querem é se eleger para deputado ou senador. Deixem que se elejam. Depois que estiverem lá terão que aceitar as regras. Com a idade, as pessoas se acomodam. Quando ao MST e outro movimentos, não serão mais perigosos assim que empresários inteligentes percebam o potencial de investimento que existem nesses movimentos. Querem terra? Dêem terra a eles e indenizem adequadamente os proprietários pela desapropriação das terras. Um pedaço aqui, outro lá e formamos grandes cooperativas, até mesmo pequenas cidades e esvaziam-se os movimentos, perdem a sua razão de ser e logo teremos novos empresários administrando cooperativas de agricultores e pecuaristas que, em pouco tempo, passarão a ser lucrativas.

Z - Então, não seria o caso de derrubar a Dilma pelo impeachment?

A. L. - Só se quiserem voltar à estaca zero.

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