terça-feira, 14 de junho de 2016

UM TIRO NO PÉ




Dilma afirmou que não faria como Getúlio Vargas, que se suicidou, em 1954, para evitar o golpe militar; não repetiria Jânio Quadros, que foi obrigado pelas Forças Armadas a renunciar, em 1961; tampouco fugiria como fez João Goulart, em 1964, que preferiu o exílio a levar o Brasil a uma guerra civil, que eclodiria após a invasão dos Estados Unidos, caso houvesse resistência ao golpe. No entanto, após a sua entrevista a Luiz Nassif, na TV Brasil, sabe-se que Dilma não só pretende fugir da luta como renunciar, o que implica em suicídio político, dela e do seu partido. 

   A desculpa encontrada é a de “cicatrizar a ruptura institucional” provocada pelo golpe. Ou, por outra, legitimar o golpe através das urnas, evitando, assim, maiores manifestações populares que seriam perigosas para a saúde da farsa política. Tudo que os políticos profissionais não querem é uma ruptura institucional. Perderiam o emprego e ficariam desmascarados até aos olhos do povo mais cego, aquele que acredita que eleições resolvem todos os problemas.  

   Denunciam o golpe e, ao mesmo tempo, não se opõem abertamente aos seus efeitos: a retirada dos direitos sociais e a entrega das riquezas do país. E se preocupam muito em esconder as suas causas: a necessidade do império liderado pelos Estados Unidos de dominar completamente a América Latina em momento de pré-guerra com a Rússia. Preferem alegar que a culpa do golpe é dos fantoches Cunha e Temer. 

   Dilma disse que iria resistir até o fim. Na dúvida, preferiu abreviar o fim, talvez tenha cansado da resistência. Se voltar ao governo com o voto de parte dos mesmos senadores(as) golpistas que a afastaram, Dilma pretende acatar a tese do PCdoB, PSOL, Rede, um ou outro senador do PMDB e até do PT lulista (porque há um PT lulista e um PT dilmista) e propor um plebiscito para saber se o povo deseja novas eleições.  

   Para isso, terá que mandar ao Congresso um projeto de emenda à Constituição, porque nela não está previsto esse tipo de plebiscito. E fica-se sabendo que a Constituição é uma Casa de Irene e não uma carta pétrea, podendo ser rasgada, costurada, emendada, refeita de acordo com os interesses dos donos do poder. 

    Parece mais um pedido de participação no golpe. A esta altura, e apesar de suas limitações, Dilma já deve ter percebido que o golpe não é contra ela, mas contra a nação brasileira e a sua desculpa para pedir o plebiscito é o que chamou de “repactuação” ou um novo pacto de elites para continuar enganando o povo.  

   Deseja que a reconduzam ao governo para que possa continuar o trabalho iniciado por ela mesma, em 2015, quando promoveu o ajuste fiscal que tirou direitos do povo trabalhador, e pelo fascista “governo” Temer, informante da CIA que recebe ordens diretas de Washington. 

   Quanto à nação brasileira, pouco importa, mesmo que saia em peso às ruas para defender Dilma. A presidente provisoriamente afastada prefere pactos, conchavos, acordos com o Congresso Nacional que, em sua ampla maioria, defende as oligarquias regionais, as corporações multinacionais, o governo paralelo de Sérgio Moro...  

   Se o Congresso concordar, Dilma brindará o povo com plebiscito e eleições, e uma retirada do governo coerente com a recessão provocada pelo seu ex-ministro Joaquim Levy – preposto dos bancos internacionais - e com o retrocesso político e social. Não deixará saudade, mas uma imensa frustração. 

   Em troca, teremos um governo fascista legalizado, porque ninguém será tão ingênuo a ponto de acreditar que a direita que usurpou o poder deixará de “vencer” as eleições antecipadas. Para essas ocasiões existem as maquininhas eletrônicas apelidadas de urnas. 

   O mais provável, no entanto, é que o Congresso não concorde com a proposta de Dilma. Afinal, a direita já está no poder, por que iria disputá-lo novamente? Além disso, a proposta de plebiscito e eleições antecipadas em troca da volta ao governo revela uma Dilma frágil, que desistiu de “lutar até o fim” e que se considera incompetente como governante. 

   E essa munição entregue à podridão do Congresso Nacional e ao suspeito STF é o argumento que faltava para a definitiva deposição da cansada presidente afastada. Um verdadeiro tiro no pé. Ao invés de lutar, Dilma prefere a renúncia, a fuga e um vergonhoso suicídio moral.

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