segunda-feira, 12 de setembro de 2016

DISSERAM PRA DILMA




Disseram pra Dilma que deveria participar do golpe e não repudiá-lo, pois seria um golpe contra o povo e não contra ela ou contra o seu governo, que eram necessários alguns ajustes fiscais feitos por um ministro ligado ao FMI e às grandes corporações bancárias, um judeu usurário clássico estilo Shylock, ou mesmo o Joaquim Levy que retiraria alguns direitos do povo que ela prometeu defender, alguns milhões, muitos milhões, na verdade vários bilhões, o que enxugaria a máquina pública restrita apenas aos políticos, demissões aqui, demissões ali e, quem sabe, de quebra, a aprovação de uma lei antiterrorismo para o caso das centrais sindicais ficarem muito alvoroçadas e se resolverem a protestar – o que ninguém acreditava e até hoje ninguém acredita – e, depois disso, tudo ficaria muito bem, o país voltaria a andar, um país para poucos, mas que fazer? 

   Disseram pra Dilma que o golpe era uma questão estritamente pessoal, conseqüência de conflito de temperamentos que indispuseram deputados e senadores contra a presidente e contra o seu partido, principalmente depois do fim do mensalão, ou dos mensalões, quando os congressistas deixaram de receber suas honestas gorjetas em troca de favores.

   Disseram pra Dilma que dois ou três desses deputados e senadores eram os chefões da máfia do golpe, que esses chefões tinham comprado os chefetes e seus subordinados, com o apoio do submisso Judiciário e, por fim, decidiram que a maioria de golpistas no Congresso dava a eles o direito de depô-la e organizar-se em ilegal governo, legalizado aos olhos do povo midiotizado pelos comprados donos da imprensa e de todos os golpes e que esperam se tornar tão imensamente milionários que poderão passar o resto de suas vidas em degradantes festas e esfuziantes viagens e, ao morrer, se morrerem, serão guardados em imensos mausoléus enfeitados pela suástica e pelas clássicas máscaras da tristeza e da alegria. 

   Disseram pra Dilma que o Sérgio Moro faria uma limpeza no mar de lama que inunda o Brasil, por isso a operação se chama Lava Jato. Graças ao Moro e à Polícia Federal, ao FBI, à CIA, ao serviço secreto de Israel, aos Mórmons e à Maçonaria, o Brasil ficaria livre da corrupção, nada como a liberdade vigiada, que bom que ela, Dilma, tinha sancionado a lei que permite a prisão por tempo indeterminado, apelidada de prisão preventiva, os tempos são outros, prende-se sem provas e por ouvir dizer e depois os presos são julgados pelo mesmo juiz que mandou prender, admirável mundo novo, e o Moro, esse bom rapaz que estudou nos Estados Unidos e lá aprendeu tudo sobre corrupção, faria as prisões necessárias, e até as desnecessárias.  

    Disseram pra Dilma que não tem importância que os principais quadros do seu partido mofem na cadeia sem quaisquer provas que os incriminem - o que é um partido, nas atuais circunstâncias? Se for o caso, troca-se de partido, este é um país livre para os que ainda estão livres, e se o Lula também for preso será menos um a incomodar, a fazer pressão pelos direitos sociais e outras utopias obsoletas. 

   Disseram pra Dilma para não falar em ingerência externa, que mania de jogar a culpa nos Estados Unidos, é claro que eles são os responsáveis, mas não se pode falar nessas coisas em público, uma questão de diplomacia, de tato, de bom tom, roupa suja se lava em casa, este é um golpe doméstico, parlamentar, civil, os militares nem precisaram sair dos quartéis, para isso existe a policia militar e todas as outras polícias que botam qualquer exército no bolso, lembra do que aconteceu na Turquia, recentemente? As forças armadas daquele país tentaram um golpe e foram presas pela polícia, e olha que o Moro nem estava lá! Além do quê, em política nunca se sabe, vá que o STF ponha a mão na consciência, se arrependa, anule o ato jurídico do impedimento devido às suas óbvias imperfeições, a Dilma volta a ser presidente depois de um grande acordo para pacificar a insubordinada nação – e como é que fica com os USA com quem o Brasil tem tantos acordos, discretos e indiscretos, e a quem jura vassalagem? 

   Disseram pra Dilma que o golpe é passageiro e que ela ficará na História como a guerreira da nação brasileira, talvez até ganhe uma estátua, como o Romário, ou o Prêmio Nobel da Paz, como o Obama, por lutar pela união entre as classes, pela paz social, pela democracia burguesa, pelas pacíficas minorias insurgentes, pelo consumismo da nova classe média, pelo poder das devassáveis urnas eletrônicas, por incentivar a devastação da Amazônia com o Novo Código Florestal e com a construção de hidrelétricas megalomaníacas, como a de Belo Monte. 

   Disseram pra Dilma que tudo passa, tudo passará, menos ela e o seu governo, que enfrenta, é verdade, um breve período de estagnação devido ao Temer e sua quadrilha, que quer porque quer entregar o Brasil aos seus patrões, e já está entregando apressadamente, e tem a ânsia vampiresca de sugar o sangue dos brasileiros, e já está sugando com volúpia, mas que logo em seguida, devido ao grito das ruas e aos silenciosos conchavos palacianos, ela voltará nos braços do povo para constatar que o petróleo era nosso, mas já foi vendido e que a retirada dos direitos sociais é irreversível; mas, em compensação, ficará famosa ao chamar eleições gerais e acabar de vez com o seu próprio mandato.

Um comentário:

  1. Rsrs...que disseram, disseram. Mas não tem volta. Não há a menor possibilidade dela voltar à presidência da república, infelizmente. Por isso é preciso deixar bem claro quem são os golpistas, de que lado tiveram, durante todo o período do golpe. Daí realmente só com Diretas-Já. Mas, por favor, que os candidatos de esquerda não me venham mais com alianças espúrias, com a direita e os fascistas. Uma constituinte precisa ser o compromisso urgente de qualquer candidato a presidência deste país.

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