Dilma
afirmou que não faria como Getúlio Vargas, que se suicidou, em 1954, para
evitar o golpe militar; não repetiria Jânio Quadros, que foi obrigado pelas
Forças Armadas a renunciar, em 1961; tampouco fugiria como fez João Goulart, em
1964, que preferiu o exílio a levar o Brasil a uma guerra civil, que eclodiria
após a invasão dos Estados Unidos, caso houvesse resistência ao golpe. No
entanto, após a sua entrevista a Luiz Nassif, na TV Brasil, sabe-se que Dilma
não só pretende fugir da luta como renunciar, o que implica em suicídio
político, dela e do seu partido.
A
desculpa encontrada é a de “cicatrizar a ruptura institucional” provocada pelo
golpe. Ou, por outra, legitimar o golpe através das urnas, evitando, assim,
maiores manifestações populares que seriam perigosas para a saúde da farsa
política. Tudo que os políticos profissionais não querem é uma ruptura
institucional. Perderiam o emprego e ficariam desmascarados até aos olhos do
povo mais cego, aquele que acredita que eleições resolvem todos os problemas.
Denunciam
o golpe e, ao mesmo tempo, não se opõem abertamente aos seus efeitos: a
retirada dos direitos sociais e a entrega das riquezas do país. E se preocupam
muito em esconder as suas causas: a necessidade do império liderado pelos
Estados Unidos de dominar completamente a América Latina em momento de pré-guerra
com a Rússia. Preferem alegar que a culpa do golpe é dos fantoches Cunha e
Temer.
Dilma
disse que iria resistir até o fim. Na dúvida, preferiu abreviar o fim, talvez
tenha cansado da resistência. Se voltar ao governo com o voto de parte dos
mesmos senadores(as) golpistas que a afastaram, Dilma pretende acatar a tese do
PCdoB, PSOL, Rede, um ou outro senador do PMDB e até do PT lulista (porque há um
PT lulista e um PT dilmista) e propor um plebiscito para saber se o povo deseja
novas eleições.
Para
isso, terá que mandar ao Congresso um projeto de emenda à Constituição, porque
nela não está previsto esse tipo de plebiscito. E fica-se sabendo que a Constituição
é uma Casa de Irene e não uma carta pétrea, podendo ser rasgada, costurada,
emendada, refeita de acordo com os interesses dos donos do poder.
Parece
mais um pedido de participação no golpe. A esta altura, e apesar de suas
limitações, Dilma já deve ter percebido que o golpe não é contra ela, mas
contra a nação brasileira e a sua desculpa para pedir o plebiscito é o que
chamou de “repactuação” ou um novo pacto de elites para continuar enganando o
povo.
Deseja
que a reconduzam ao governo para que possa continuar o trabalho iniciado por
ela mesma, em 2015, quando promoveu o ajuste fiscal que tirou direitos do povo
trabalhador, e pelo fascista “governo” Temer, informante da CIA que recebe
ordens diretas de Washington.
Quanto
à nação brasileira, pouco importa, mesmo que saia em peso às ruas para defender
Dilma. A presidente provisoriamente afastada prefere pactos, conchavos, acordos
com o Congresso Nacional que, em sua ampla maioria, defende as oligarquias
regionais, as corporações multinacionais, o governo paralelo de Sérgio Moro...
Se
o Congresso concordar, Dilma brindará o povo com plebiscito e eleições, e uma
retirada do governo coerente com a recessão provocada pelo seu ex-ministro Joaquim
Levy – preposto dos bancos internacionais - e com o retrocesso político e
social. Não deixará saudade, mas uma imensa frustração.
Em
troca, teremos um governo fascista legalizado, porque ninguém será tão ingênuo
a ponto de acreditar que a direita que usurpou o poder deixará de “vencer” as
eleições antecipadas. Para essas ocasiões existem as maquininhas eletrônicas
apelidadas de urnas.
O
mais provável, no entanto, é que o Congresso não concorde com a proposta de
Dilma. Afinal, a direita já está no poder, por que iria disputá-lo novamente?
Além disso, a proposta de plebiscito e eleições antecipadas em troca da volta
ao governo revela uma Dilma frágil, que desistiu de “lutar até o fim” e que se
considera incompetente como governante.
E essa munição entregue à podridão do
Congresso Nacional e ao suspeito STF é o argumento que faltava para a
definitiva deposição da cansada presidente afastada. Um verdadeiro tiro no pé.
Ao invés de lutar, Dilma prefere a renúncia, a fuga e um vergonhoso suicídio
moral.